Muitos caminhos e uma só direção: 6° Congresso Continental da Cloc

As atividades se iniciam no dia 14. Entre os dias 10 e 11, cerca de 400 jovens realizaram a Assembleia da Juventude; Hoje é a vez das mulheres.

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Da Comunicação da CLOC – Via Campesina

 
Asfalto, estradas de terra, ônibus, carro, carona, avião. Muitos são os caminhos e meios que camponeses e camponesas de todo o continente Latino Americano estão fazendo para chegarem à cidade de Buenos Aires, na Argentina, e participarem do 6°Congresso Continental da Coordenação Latinoamericana das Organizações do Campo (Cloc), que acontece entre os dias 14 a 17 de abril.

Desde a última sexta-feira (10), centenas de pessoas já se faziam presentes no Parque da Zeiza, local onde acontecem as atividades, quando deram início à 4° Assembleia da Juventude da Cloc, que terminou neste sábado (veja a declaração na íntegra ao final do texto).

 

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Na bagagem dos que chegam, sabedoria, experiências, sementes e um objetivo em comum: reafirmar a luta por soberania camponesa e indígena contra o capitalismo e o modelo do agronegócio.

Foram quase 30 horas de viagem dentro de um ônibus para que os chilenos Patsy Zamorano e Rosa Veda chegassem à capital argentina. Patsy é moradora da capital chilena Santiago, e Rosa veio da Comuna de Tomé, no estado de Concepción, de onde percorreu mais 600 km até que chegasse a capital de seu país.

“Tivemos que nos esforçar muito para arrecadar fundos para que nossa delegação viesse ao congresso. Sabíamos que quanto maior nosso esforço mais pessoas poderiam vir. Nas últimas semanas preparamos e vendemos mais de 500 choco, um prato regional feito de milho”, relatou Rosa. Ao todo, cerca de 150 pessoas do Chile devem do evento.

Uma das maneiras encontradas por Patsy e seus companheiros da Conaproch, organização da qual faz parte, para participarem do congresso foi a venda de rifas. “Rifamos produtos feitos por nós camponeses para conseguirmos recurso. E antes de sairmos, também realizamos assembleias com jovens de nossa organização para podermos trazer elementos para a assembleia de jovens da CLOC” disse o chileno.
 

“Folga” no trabalho

Para o jovem camponês Alessandro Medeiros, integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), foram mais 500 km e 7 horas de viagem de ônibus de sua casa, no estado de Rondônia, até Brasília, onde tomou um avião para Buenos Aires.

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Alessandro deixou a lavoura de mandioca para vir ao congresso

“Antes de sair estava trabalhando com minha família na lavoura de mandioca. Cheguei na quinta e já estou muito animado com as possibilidades deste congresso. Queremos reafirmar nosso compromisso com a agroecologia como jeito de produzir, e contagiar toda juventude latina para intensificar a luta contra o capital”, afirmou o jovem camponês brasileiro.

 

O argentino José Abrón Guerrero, do Movimento Nacional Campesino Indígena (MNCI), teve que paralisar durante alguns dias o seu trabalho com o gado para das atividades. 

José vive na província de Neuquen, há 1500 km de Buenos Aires. Foi preciso tomar três ônibus diferentes e dois dias de viagem para chegar. 

“Trabalhamos com criação de gado, vendemos carne e couro nos últimos dias, mas estávamos ansiosos para vir ao congresso. Para mim será uma experiência muito ampla e rica, sei que vou conhecer pessoas de todo o continente e quero compartilhar meu jeito de trabalhar e viver como eles” relatou Abrón.

O 6° Congresso Continental da CLOC traz como tema central a unidade e a soberania dos povos como forma de combate ao capitalismo. Mais de mil delegados de movimentos sociais do campo de todo o continente devem participar das atividades. Durante os dias 12 e 13, será o momento das camponesas realizarem a 5° Assembleia das Mulheres.

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Abaixo, confira a carta final

Argentina: Declaração da IV Assembleia Continental da Juventude da CLOC- VC

 

Com o lema “Juventude do campo e da cidade, Lutando pela soberania alimentar”, nos dias 10 e 11 de abril de 2015 em Buenos Aires, Argentina, no marco do 17 de abril, dia internacional da luta camponesa, nos reunimos cerca de 400 jovens de todos os países da América Latina e Caribe para intercambiar as diversas experiências de luta da juventude camponesa, indígenas, afrodescendente e urbana de cada um dos nossos países, que nos permitiram construir propostas e acordos concretos para o fortalecimento da articulação juvenil a nível continental.

A juventude do continente americano está consciente de nossa participação nas mudanças que vão direcionadas à construção da unidade popular de toda América, que estamos conseguindo por meio das lutas e resistências permanentes nos territórios.

 

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Temos claro que o imperialismo, a fase atual do capitalismo com suas empresas transnacionais e o capital financeiro é nosso principal inimigo, que cada dia arremete com toda sua violência econômica, política, cultural e social contra a juventude, o que significa:

• A privatização, destruição de nossos bens naturais.

• A criminalização dos movimentos sociais.

• Decomposição da cultura camponesa, indígena, afrodescendente e urbana.

• A militarização e a invasão territorial do modelo capitalista por meio do agronegócio, hidronegócio e das grandes empresas extrativistas.

• O uso dos meios de comunicação de massa como instrumento de dominação que limitam a liberdade de pensamento.

• A adequação das leis impulsionadas pelos governos a serviço das empresas transnacionais e dos interesses do capital.

Chamamos a:

• Que as organizações da CLOC-VC se comprometam a acompanhar e fortalecer a participação e integração da juventude em todos os processos organizativos, respeitando a equidade e diversidade de gênero, garantindo dois representantes por organização para a articulação de jovens.

• Que nos processos formativos haja um mínimo de 50% de jovens homens e mulheres.

• Construir a aliança de jovens do campo e da cidade.
Nos comprometemos a:

• Construir o internacionalismo dos jovens.

• Avançar numa grande articulação e lutas unitárias entre os jovens do campo e da cidade.

• Promover o intercâmbio entre as organizações a nível regional e continental.

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• Fortalecer a implementação da agroecologia, base fundamental da soberania alimentar.

• Fortalecer e se apropriar dos espaços de formação ideológica, política e técnica, assim como buscar e consensuar linhas comuns de formação a nível latino-americano que se complementem nas formas e nos métodos, levando em conta a pluralidade do continente para multiplicar e formar nossos próprios técnicos e formadores.

• Gerar e fortalecer mecanismos de comunicação dentro e fora de nossas organizações que nos permitam gerar canais de comunicação mais objetivos, democráticos e participativos com o fim de elaborar uma agenda de ação comum.

• Impulsionar uma campanha contra a violência do capital contra a juventude que inclui a militarização, a opressão contra a diversidade de gênero, o extermínio da juventude, entre outras violências.

• Construção e continuidade dos acampamentos regionais de jovens do campo e da cidade da CLOC-VC.

• Reafirmamos o dia 8 de outubro como dia de luta continental dos jovens.

Por último nos solidarizamos com:

As famílias dos 43 estudantes desparecidos em Ayotzinapa assim como de toda juventude exterminada em todo o continente; a luta pela independência de Porto Rico; as e os presos políticos de nossa América Latina e Caribe, exigindo sua liberdade imediata;

Assim como nos manifestamos:

Contra a perseguição e criminalização da luta social que se dá em países como Paraguai, Honduras, Guatemala, Colômbia; contra o bloqueio a Cuba; e pela retirada da Minustah do Haiti.

Contra o capitalismo pela soberania de nossos povos

América unida segue em luta!!!

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