MST realiza “Dilemas da Humanidade” e reúne lutadores de todo o mundo

A atividade reuniu cerca de 250 pessoas de 32 países, entre organizações sociais e intelectuais, na Escola Nacional Florestan Fernandes.

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Por Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST

Fotos: Rafael Stedile

Uma bagunça. Baixíssimo crescimento econômico, estagnação ou até mesmo recessão em praticamente todos os países do mundo. Esse é o cenário internacional apontado pelo geógrafo britânico David Harvey durante o encontro Dilemas da Humanidade, realizado entre os dias 28 a 31/08, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP).

A atividade reuniu cerca de 250 pessoas de 32 países, entre organizações sociais e intelectuais de todos os continentes, com excessão da Oceania. 

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Durante os quatro dias de encontro os participantes procuraram identificar e se aprofundar sobre o momento histórico pelo qual passamos, um período de grave crise política, econômica, social e ambiental.

Para Débora Nunes, da direção nacional do MST, o encontro contribuiu para “nivelar as leituras e as compreensões da realidade, e entender como o capital tem agido e se estruturado para destruir os povos e se apropriar das riquezas”.

Sob essa perspectiva Nunes coloca que o Dilemas da Humanidade “surge como uma inquietação dos diversos processos que temos vivido a partir dos intercâmbios e da solidariedade com os povos. Por mais que estejamos em continentes diferentes, a forma como o capital tem avançado, se apropriado das riquezas, da biodiversidade e explorado o trabalho, coloca a certeza de que os problemas são comuns.”

Talvez o grande limite, como explica Nunes, “é que cada povo tem buscado alternativas de forma fragmentada. Isso que motivou a organização deste espaço, onde diversos atores puderam sentar e discutir quais são esses problemas, como o capital tem avançado e como podemos nos organizar e trocar estratégicas e táticas para o enfrentamento, buscando saídas para a classe trabalhadora”.

 

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Se o mundo está em crise, o mesmo não se pode dizer para alguns setores da sociedade. Ao menos foi isso que a pesquisadora mexicana Silvia Ribeiro, do grupo ETC, esclareceu. De acordo com ela, a atual crise financeira contribuiu para enriquecer alguns setores, uma vez que nos últimos 10 anos a riqueza aumentou em 68%, mas apenas 1% da sociedade capturou 90% do montante gerado. E quem são esses 1%? As grandes corporações, do sistema financeiro, da indústria alimentar, da energia, mineração e do setor automobilístico. O poder destes grupos transnacionais é tanto que das 100 maiores economias do mundo, as 40 primeiras são empresas; apenas depois dessas colocações vêm os países.

Além de Silvia Ribeiro e David Harvey, nomes como Julian Assange (WikiLeaks) e Ana Ester Ceceña, da Universidade Nacional autônoma do México, contribuíram durante o encontro. Para o sul africano Irving Jim, da National Union of Metalworkers of South Africa (NUMSA), é fato que “temos o mesmo inimigo em todo o mundo”. Para ele, “o principal desafio é deixar claro que o principal inimigo é o capitalismo, porque ele não tem solução para seus problemas. A força que move a história é a luta de classes, e temos que lutar pela redistribuição da riqueza e controlar a produção. Isso está no centro, fazer a classe trabalhadora se identificar em si mesma e dar-lhe consciência para a busca da transformação”.

Para a cubana Llanisca Lugo, do centro de estudos Mártin Luther King, o encontro cumpre o papel de “encontrar-se”. Para ela “a classe trabalhadora tem um déficit de encontros, de se reconhecer, compartilhar suas vidas, experiências e lutas. Precisamos recuperar um espaço de reflexão, pensar coletivamente. O evento possibilitou a reflexão coletiva sobre o que está acontecendo, bem como quais são os problemas comuns. O encontro reafirmou o tempo todo a necessidade de reconstruir e fortalecer o internacionalismo entre a classe trabalhadora e de recuperar e levantar a auto estima revolucionária”.
 

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As místicas e noites culturais trouxeram a diversidade dos povos que participaram do encontro.

Foram latino-americanos, chineses, palestinos, paquistaneses, indianos, franceses, espanhóis, entre tantos outros.

“Temos pessoas de todas as partes do mundo e vemos as similaridades das nossas lutas. Nesse momento em que o capitalismo global parece tão forte, temos que criar reuniões internacionais entre os que estão lutando contra essa hegemonia” acredita a indiana Salobre Keshwaar.

Para Débora Nunes, “talvez uma das grandes questões que temos apontado é que esse modelo traz uma série de contradições, e são justamente em cima destas contradições que temos que atuar buscar caminhos que vão na contramão desse modelo de sociedade˜.