Organizações vão às ruas por saída popular a crise política e econômica

Diante deste cenário conturbado, Gislene dos Santos, do MST, analisa o atual momento político e as mobilizações de setores da esquerda e da direita dessa semana.

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Por Maura Silva
Da Página do MST

Nesta semana, dois grandes conjuntos de manifestações voltaram a ser pauta nas ruas de diversas cidades do país.

De um lado, o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, na maioria das vezes pautados num discurso pouco analítico e de ódio, confundindo democracia com aspirações fascistas, como as mobilizações deste último domingo (16). 

Do outro, movimentos populares que criticam duramente a política econômica adota pelo governo federal, como o ajuste fiscal e a Agenda Brasil, mas que ressaltam a defesa da democracia e o respeito à vontade popular que elegeu Dilma Rousseff à presidência da república pela segunda vez. Estes últimos preparam uma mobilização em todo o país para a próxima quinta-feira (20).

Diante deste cenário conturbado, Gislene dos Santos, da direção nacional do MST-SE, analisa o atual momento político, e as movimentações das forças populares, que já realizaram diversas mobilizações neste segundo semestre.  

Para ela, a unidade entre as organizações está se dando “contra as medidas conservadoras e o ataque aos direitos realizados pelo Congresso, representada principalmente na figura de Eduardo Cunha (PMDB). Outro ponto central é nossa crítica a essa política econômica do governo. Acreditamos que a saída é pela esquerda, com o povo na rua e por reformas populares”.

Qual a sua avaliação sobre a manifestação deste domingo (16)?

O direito de se manifestar é de todos. Mas o ato Fora Dilma representa a minoria do povo brasileiro, uma classe média privilegiada que não quer perder privilégios e que se sente ameaçada pela ascensão da classe trabalhadora.

Está claro que o que essas pessoas querem é um governo que aumente as diferenças entre os ricos e pobres. 

Mas você acredita em alguma possibilidade real de impeachment? 

Nunca acreditamos numa possibilidade de impeachment. Isso porque a classe social que de fato manda neste país – os grandes grupos econômicos e o capital financeiro -, já está satisfeita com esse governo desde o início do segundo mandato.

A atual política econômica do governo federal, com o aumento da taxa de juros, a flexibilização do mercado de trabalho, o corte do orçamento das pastas sociais é a que beneficia esse grupos. Ou seja, os que tem  maior poder político e econômico. Por isso,  não interessa criar uma instabilidade política ainda maior sem ter certeza das consequências que traria.

Agora é fato que alguns grupos da direita buscam essa via. Para isso, utilizam um discurso conservador, muitas vezes fascista, disseminando o sentimento de ódio na sociedade através de pautas “genéricas” como a corrupção.

Vejamos: Quem mais ganhou na história do Brasil com a corrupção? Foi justamente essa burguesia brasileira composta por empresários, latifundiários, banqueiros e etc. Para se existir um corrupto é necessário que haja alguém que corrompa.

Nas últimas semanas também foi possível perceber uma mudança na linha editorial dos principais meios de comunicação. A que se deve isso?

Além da pressão destes grupos citados acima, há outros fatores que podem ajudar a explicar essa mudança em relação ao discurso do impeachment.

A primeira delas seria que tal estratégia faz parte da tática da própria Rede Globo, que estica o elástico até o último momento e depois sai da jogada, deixando o movimento seguir por conta própria. Assim, a Globo preservaria sua imagem, e caso viesse um golpe, ela poderia dizer que na véspera defendia a democracia e a continuidade do mandato da Dilma.

Outra questão é a supervalorização da crise econômica. Apesar de existir uma crise econômica, ela não é tão grave quanto os meios de comunicação anunciam. Mas pelo fato de baterem tanto nessa tecla, a tal crise econômica passou a se agravar, prejudicando inclusive a verba publicitária destes meios de comunicação.

Um último ponto seria a falta de consenso entre a própria direita quanto ao que seria feito caso a presidenta fosse derrubada. Ou seja, não conseguiram criar uma estabilidade política.

A resposta do governo para a saída da crise política e econômica foi a Agenda Brasil. Como você avalia essa proposta?

A Agenda Brasil é uma enganação, um retrocesso no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores. Renan Calheiros não representa os interesses do Brasil, ele representa a pauta dos grandes latifundiários, do agronegócio, empresários, banqueiros e de um senado que não está preocupado com as pautas que contemplem a realidade do povo brasileiro.

A presidenta viu na Agenda Brasil a possibilidade de sair dessa crise política que se alastra desde o começo do seu segundo mandato. Porém, essa Agenda representa um retrocesso nos direitos trabalhistas, na questão ambiental e na área da saúde.

Ela reforça, por exemplo, o PL 4330 (agora PLC 30), que abre a possibilidade de terceirização irrestrita, flexibiliza as legislações ambientais para grandes empreendimentos, tratora o debate em torno do novo Marco da Mineração e abre margem para o agronegócio sobre as terras dos povos indígenas.

Qual então seria uma possível saída do governo para superar esse momento e porque não o faz, então?

A presidenta Dilma precisa governar para quem a elegeu nas urnas. Ela precisa ter um posicionamento mais firme com a ampliação das políticas públicas e não retroceder, principalmente no que diz respeito aos direitos trabalhistas.

Em relação à crise econômica, falta cobrar a conta de quem realmente deve ao povo brasileiro, taxando as grandes fortunas, mexendo na tributação – uma das mais injustas no mundo -, baixar a taxa de juros e recolocar o Estado como indutor da economia brasileira, favorecendo o mercado produtivo, e não o financeiro.

Na política, acreditamos que apenas uma reforma profunda do Sistema Político poderia acabar com essa distorção. Ninguém mais se sente representado pelo Congresso Nacional, isso porque as grandes empresas sequestraram o sistema eleitoral brasileiro, por meio do financiamento privado de campanha.

Quais as medidas que os movimentos populares estão tomando para se posicionar nessa conjuntura?

Em primeiro lugar levando informação e formação à população para que estes não se transformem em massa de manobra, e para que não sejam manipulados pelo atual partido da direita, representado atualmente pelos meios de comunicação.

Segundo, organizando nossas bases para ir às ruas defender nossos direitos. Não à toa que a lei Antiterrorismo foi criada e aprovada. A direita sabe que existem organizações sociais dispostas a lutar contra o modelo neoliberal e capitalista.

E terceiro, construir uma Frente Nacional Popular pelo Brasil, unificando movimentos, centrais sindicais, partidos e diversos setores da sociedade. Precisamos de um projeto para o país que aprofunde a democracia, aumente os direitos trabalhistas e sociais e garanta de fato a participação do povo na vida política do país.

Na próxima quinta-feira (20) diversas organizações estão chamando a população a saírem às ruas. O que esperar deste ato?

O segundo semestre começou muito bem. Logo na primeira semana tivemos uma jornada nacional de luta do MST, em que ocupamos 13 sedes do ministério da Fazenda e nos mobilizamos em 18 estados. Uma semana depois mais de 70 mil mulheres do campo marcharam por Brasília na Marcha das Margaridas. Nessa semana teremos as mobilizações no dia 20 de agosto. E no dia 5 de setembro será lançada a Frente Brasil Popular.

As forças populares estão se mexendo para cada vez mais para mudar a correlação de forças na sociedade, tanto com mobilização nas ruas quanto na criação de força unitária para pensar um projeto a médio/longo prazo para o país.

O ato do dia 20/08 é a continuidade de um processo de mobilizações unitárias que os movimentos sociais do campo e da cidade, centrais sindicais e partidos, têm realizado em defesa dos nossos direitos.

Nos mobilizaremos contra as medidas conservadoras e o ataque aos direitos realizados pelo Congresso, representada principalmente na figura de Eduardo Cunha (PMDB). Outro ponto central é nossa crítica a essa política econômica do governo. Acreditamos que a saída é pela esquerda, com o povo na rua e por reformas populares.

Ou seja, será mais um exemplo da unidade popular, na luta contra o retrocesso e a política econômica e pela defesa da democracia. Sairemos nas ruas de todo país com pautas concretas e objetivas, como a Reforma Tributária, Agrária, Urbana, Educacional, Política e pela democratização dos meios de comunicação.