Prisões de militantes do MST são denunciadas na Romaria dos Mártires

Denúncia foi encaminha pelo frei José Fernandes Alves, da Arquidiocese de Goiânia e do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno.

 

Por Maisa Lima
Da CUT Goiás

A Romaria dos Mártires, realizada pela prelazia de São Félix do Araguaia (MT), distante mais de 990 quilômetros de Goiânia, este ano lembrou os 40 anos do martírio dos padres João Bosco Penido Burnier e Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo.  Na mesma ocasião – 16 e 17 de julho – também foi destacada a memória de Sepé Tiaraju (patriarca da causa indígena).

O objetivo da Romaria dos Mártires é manter viva a memória daqueles e daquelas que deram e vem dando suas vidas pelas causas da casa, da terra e dos direitos humanos. Dos povos indígenas, quilombolas, camponeses/as, juventude, crianças, adolescentes, mulheres, população em situação de rua. Este ano, o frei José Fernandes Alves, da Arquidiocese de Goiânia e membro do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno solicitou aos romeiros e romeiras atenção especial à denúncia das prisões dos militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Goiás, encarcerados unicamente por lutar pela reforma agrária popular. Leia trecho da carta de frei José:

“No atual contexto de acirramento político em escala nacional, está acontecendo uma grave perseguição ao MST em Goiás, o que coloca em risco a luta popular não apenas no estado, mas em todo o País. Embora ainda circunscrita ao estado goiano, as ferramentas deste processo de criminalização e de estabelecimento de estado policial poderão ser utilizadas em qualquer outro estado brasileiro ou mesmo em âmbito federal. Em tempos de ruptura das instituições democráticas, deve-se dar especial atenção a este “laboratório” da repressão.

 

No dia 14 de abril último, três juízes das Comarcas de Santa Helena, Mineiros e Rio Verde decretaram, em colegiado, a prisão preventiva de quatro militantes do MST sob a alegação que os mesmos fazem parte de uma organização criminosa. Ressaltamos que esta é a primeira vez no Brasil que o MST é criminalizado com base na lei 12.850/2013. Esta lei, supostamente criada para atuar contra lavagem de dinheiro e tráfico, pode ser considerada a legitimação de um verdadeiro Estado de Exceção. Com isso, a rigor, a partir de uma leitura ideológica de que o MST tem por objetivo cometer crimes, qualquer militante pode ser acusado em qualquer inquérito que seja iniciado. É a tentativa absurda de colocar na ilegalidade um movimento democrático que luta pela Reforma Agrária Popular no Brasil.

Desde o dia 15 de abril o agricultor e acampado Luiz Batista Borges, encontra-se preso. No dia 31 de maio, agricultor e militante José Valdir Misnerovicz foi preso. Dyessica e Natalino encontram-se exilados.

Mas porque isso está ocorrendo em Goiás? Ora, nos últimos três anos, o MST em Goiás saltou de 600 para 6,6 mil famílias acampadas. Acreditamos ser indispensável uma ampla campanha de solidariedade também em nível internacional para pressionar as instituições brasileiras a rechaçarem essa nova forma de criminalização do movimento, pela liberdade dos companheiros Luiz Borges e Valdir Misnerovicz, e, também para apoiar e viabilizar as ações de defesa do movimento que contemplam, sobretudo a proteção dos direitos humanos e a ampliação das lutas sociais pela Reforma Agrária e por uma sociedade mais igualitária.”