“No atual momento, só cabe aprofundar a organização e a luta de massas”, aponta Stedile

Durante a II Assembleia Continental dos Movimentos Sociais da ALBA, o dirigente do MST fez uma análise sobre o Momento político

 

Por Carlos Aznarez, do Resumen Latinoamericano

Parte da II Assembleia Continental dos Movimentos Sociais da ALBA, nesta quinta-feira (1), o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, fez uma análise sobre o “Momento político: neoliberalismo, neodesenvolvimentismo e socialismo em nosso continente, como foi nomeado o espaço.

Stedile realizou uma importante reflexão sobre a correlação de forças na América Latina e o mundo, sinalizando que esta deve ser sempre coletiva, e não individual.

O militante brasileiro lançou alguns elementos provocativos para a discussão. Assim, pontuou que “todo nosso território continental – a exceção de Cuba e outros poucos processos – são dependentes do capitalismo mundial”, e isto influência, notoriamente, na economia de nossos povos.

“O modo de produção capitalista está em crise”, disse Stedile. Ele explica que, entre outras coisas, “1% das empresas do mundo já não significa, nem sequer como um ímpeto, nenhum tipo de progresso para a humanidade”. Segundo esta opinião, “o capitalismo também vive uma grave crise do processo de acumulação” e, como consequência dessas realidades, se acentua uma crise social generalizada, já que “os capitalistas põem sobre as costas dos trabalhadores a recuperação do capital e do lucro”.

Crise ambiental

Outro elemento sinalizado por Stedile aborda a “crise ambiental profunda”, na qual “se pretende privatizar desde o petróleo e o gás até a água”. Sobre o último, apontou que “a água é hoje um elemento mais caro que o petróleo, e, de fato, a multinacional Coca-Cola ganha mais em um ano com água que com refrigerantes”.

Nesse panorama de retrocesso ambiental não podia faltar o dado de que “todos os anos são despejados 5 bilhões de litros de venenos sobre a terra, o que deriva em mais câncer e mais mudanças climáticas”. Enquanto isso ocorre, os poderosos observam, sem se mexer; e isso continuando, seguem subindo as temperaturas em 300 cidades que estão no litoral, e estas irão desaparecer, entre elas Rio de Janeiro, pontuou o dirigente.

 

Políticas e valores

Logo, a análise avançou sobre a “crise política”, que vem parindo Estados falidos que não garantem democracia, e menos ainda através da consigna de que “o voto de cada cidadão ou cidadã é igual a outro”. “Hoje, na política atual, a única coisa que vale é o dinheiro, tudo se compra e tudo se vende”, aportou Stedile.

O militante do MST também abordou a “crise de valores”, pontuando que, em outros tempos, os mesmos eram o de trabalho e de organização, e “agora nada disso interessa e só priorizam o consumismo e o individualismo”. Além disso, indicou que “nenhuma sociedade pode se construir com base nesses valores”, e ironizou: “nem todos podem querer comprar um carro que já não vai existir, em um curto prazo, caminhos para esses veículos”.

 

Stedile ratificou uma questão que vem trabalhando ultimamente, e que tem a ver com marcar claramente que nesses momentos em que as direitas regionais imperialistas estão em plena contraofensiva, e que vale a pena insistir que “tanto o neoliberalismo, o neodesenvolvimentismo e a própria esquerda estão em crise”.

No Brasil e na Argentina, disse, “foram derrotados os governos neodesenvolvimentistas, não porque fossem processos revolucionários, se não porque o capitalismo necessita, em sua voracidade, o capitalismo necessita controle absoluto”.

Desafios

Finalmente, entre os desafios desta etapa para as organizações populares, Stedile marcou três pontos. O primeiro é “construir em cada país as plataformas que mostrem a nossos povos como enfrentar o capitalismo e o imperialismo. E, também, como construir o socialismo”.

O próximo é que “é tempo para nossos militantes fazer o trabalho profundo na formação ideológica. Por fim, “construir nossos próprios meios de comunicação de massas, e também desenvolver formas culturais criativas – desde o teatro até a música –, para que contribuam em tarefas formativas”.

 

Como conclusão, Stedile homenageou Fidel Castro, sinalizando que o dirigente revolucionário cubano “sempre soube organizar o povo para lutar e isso hoje é o central, aprofundar a luta de massas contra o capitalismo e o imperialismo”.