Sem Terra concluem 8ª edição do curso básico do MST no RS

Formação teve duração de um mês e envolveu 41 pessoas, entre acampados e filhos de assentados

 

Por Catiana de Medeiros 
Da Página do MST 

 

A luta por menos desigualdade social levou o massoterapeuta Dilamar Melo, 55 anos, a abrir mão da vida na cidade para se tornar acampado do MST em São Gabriel, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Sempre inserido na área da saúde, Melo trabalhou mais de uma década dentro de hospitais e nos últimos anos atuava como agente de saúde de 193 famílias do município, onde começou a atender, de forma voluntária, em acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária.

“Eu pegava a maca e aos finais de semana ia atender os assentados e acampados. Foram nos espaços do MST que eu comecei a compreender melhor as desigualdades sociais e como funciona a sociedade. Isso me aproximou muito do Movimento e já estou há 8 meses acampado”, conta Melo, que mora no Acampamento Éverton Cardoso.

Para aprimorar ainda mais o seu conhecimento sobre as pautas sociais, em especial dos trabalhadores Sem Terra, seu Dilamar participou, de 1º de novembro a 1º de dezembro, da 8ª edição do Curso Básico do MST da região Sul do Brasil. A formação reuniu 41 acampados e filhos de assentados do RS e SC no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre.

“Nosso objetivo é estudar o processo histórico da luta de classes no Brasil, principalmente no campo, e ajudar na compreensão do porque o agronegócio é nosso inimigo. O intuito também é formar novos militantes, além de fortalecer a formação política, coisa que a esquerda tem deixado bastante a desejar neste último período”, explica Jerônimo Pereira, coordenador do setor de formação do MST/RS.

A programação do curso foi trabalhada em blocos teóricos que trataram, entre outros temas, da história do MST e a luta pela terra no Brasil; teoria da organização e trabalho de base; filosofia latino-americana e literatura brasileira; e reforma agrária popular, onde os alunos discutiram o modelo de assentamento que querem construir. Também houve espaço para estudar os lutadores do povo e, com base nisto, escolher o nome da turma. Os alunos optaram por homenagear (in memoriam) Adão Pretto, agricultor gaúcho e ex-deputado que ajudou a fundar o MST.

“A turma se identificou bastante com Adão porque ele sempre esteve ligado ao trabalho de base para ajudar a resolver os problemas enfrentados pelo povo, seja nas comunidades ou no parlamento”, complementa Pereira.

Já na parte prática, os educandos participaram de duas mobilizações em Porto Alegre contra a PEC 55 e a reforma da previdência. Além disto, os alunos visitaram a ocupação do MST no Horto Florestal Carola, da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE), situado em Charqueadas, a 59 quilômetros da Capital. Lá, eles dialogaram com os Sem Terra sobre a produção de alimentos saudáveis.

“Eu vim participar do curso para adquirir mais conhecimento e poder contribuir na organização da juventude da região onde eu moro, em Santa Catarina. Aqui, em visitas de campo, eu aprendi a valorizar mais os espaços onde vivemos e compreendi que é fundamental a luta continuar depois que conquistamos o assentamento”, relata Daiane Borges de Souza, 17 anos, filha de assentados em Rio Negrinho, no Norte de SC.

O curso foi encerrado com confraternização, ato político e entrega de certificados na última quinta-feira (1º). Agora, os alunos têm a missão de compartilhar o aprendizado em seus locais de origem. O Sem Terra Dilamar Melo já tem planos para aplicar em seu acampamento.

“Nós, enquanto acampados, enfrentamos várias dificuldades, que ao final sempre nos ajudam a crescer. Aqui no curso essa questão é ressaltada e nós aprendemos a importância de continuarmos lutando contra o capitalismo. Não é muito difícil, basta querermos. Tenho consciência de que agora posso ajudar a organizar um acampamento e contribuir para a desigualdade social, porque isso eu também aprendi”, finaliza.