Semana de Arte e Cultura da ENFF debate o papel da comunicação e​ ​o​ ​combate​ ​ao​ ​racismo

A programação debateu o papel da cultura e da comunicação na construção da contra-hegemonia.

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Por Aline Antunes
Da Página do MST

 

Entre os dia 30 de outubro e 1 de Novembro foi realizada na Escola Nacional Florestán Fernandes, em Guararema (SP), a VIII Semana de Arte e Cultura, que integra a programação do Curso de Teoria Política Latino-americana, que reúne educandos de toda a América Latina durante três meses.

Construída coletivamente, a semana teve como objetivo debater a cultura na perspectiva da construção de contra-hegemonia, pautando a conjuntura de retrocessos vivenciados nos países da América Latina.

Para isso, foram pensadas atividades que pudessem situar os desafios contemporâneos, apresentar experiências de resistência dentro das artes e da comunicação, e aprofundar a concepção de cultura enquanto dimensão que concretiza o processo de formação da consciência.

Durante as atividades da semana, Escola Nacional recebeu experiências para realizar uma leitura crítica das práticas destes coletivos, considerando os avanços obtidos por eles, as contradições e os desafios enfrentados diariamente nos processos de resistência.

Uma destas experiências foi apresentada pelo coletivo de jornalistas Alma Preta, que vem pautando as questões raciais de uma maneira não abordada pela mídia hegemônica brasileira.

Da​ ​Ponte​ ​Pra​ ​Cá

A produção de conteúdo pela mídia contra-hegemônica cumpre (e precisa garantir essa função) o papel de registrar a luta dos movimentos populares. Sem o registro da memória as ações se perdem com o tempo, e essa tarefa é ainda mais importante dentro do movimento negro no Brasil, pois há uma tendência de eliminação total destas manifestações. São memórias historicamente apagadas!
 

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A mídia negra no Brasil é uma necessidade que se impõe, visto o fato que, de acordo com o IBGE, 54% de nossa população é negra, e apenas 22% dos jornalistas  brasileiros são negros. Portanto, a produção de conteúdo por essa mídia contra-hegemônica cumpre um papel de resistência e de combate diário ao racismo.

Nessa perspectiva, o coletivo Alma Preta apresentou na Semana de Arte e Cultura a necessidade de um jornalismo qualificado e independente: O Alma Preta é uma agência especializada na temática racial do Brasil, e em seu conteúdo produzido é possível encontrar reportagens, coberturas, colunas, análises, produções audiovisuais, ilustrações e divulgação de eventos da comunidade afro-brasileira. Um dos responsáveis pelo site, o jornalista e mestre em comunicação Solon Neto, aponta a necessidade de se produzir conteúdos jornalísticos de profundidade, e que rompam com estereótipos impostos pela grande mídia, como é o caso do Continente Africano, sempre tratado com temáticas que se referem à fome, à miséria, às imigrações ilegais e doenças.

“Queremos informar e educar através dos temas (das reportagens). O jornalismo brasileiro trata a África de forma ridícula, e nós entendemos sua importância em nossa formação, cultura, cor, costumes…”, enfatiza ele.

 

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O Brasil é um país de 14 milhões de analfabetos, mas que ao mesmo tempo tem um dos maiores índices anuais do mundo em formação de mestres e doutores; aqui pessoas morrem em filas aguardando atendimento no sistema público de saúde, em contraponto, a cirurgia plástica é referência mundial; enquanto milhões de pessoas dependem de cesta básica, somos o maior produtor e exportador do planeta de vários gêneros alimentícios. O Brasil é o país que tem a segunda maior população negra do mundo, e até pouco tempo tínhamos apenas 1% de negros nas universidades.

Este cenário nos leva a recolocar em pauta a ação política contra-hegemônica. Ações na luta pela terra, por trabalho, por teto e contra o racismo.

 

*Editado por Leonardo Fernandes