Setor de saúde do MST comemora 20 anos e reúne militantes no Maranhão

A história do setor está diretamente ligada às ocupações de terra feitas pelo Movimento. Quando uma nova comunidade é criada surgem com ela necessidades básicas de sobrevivência, a saúde está intrínseca nesse processo
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Divulgação MST 

 

Por Reynaldo Costa
Da Página do MST 

 

Terminou no último domingo (24) o I Encontro Nacional do Setor de Saúde do MST, a atividade que também foi uma comemoração aos 20 anos do setor de saúde do MST, contou com representantes de 13 estados do país e teve como objetivo traçar a atuação do setor para os próximos anos, além de aprofundar a discussão sobre como o atual cenário político afeta as políticas públicas no campo da saúde.

20 anos na luta pela saúde  
 

“A luta pela saúde é essencialmente a luta pela vida em todas as suas formas”, é com essa filosofia que o setor segue acumulando esforços e fortalecendo iniciativas de saúde para a sociedade em geral. Todas as experiências do Movimento Sem Terra acontecem com as relações encabeçadas pela necessidade de sobrevivência e de resistência no campo. Esse cenário fez com que o MST produzisse saídas e alternativas na superação das dificuldades impostas, assim, nos primeiros anos de organização do Movimento nasce o setor de saúde.

A história do setor está diretamente ligada às ocupações de terra feitas pelo Movimento. Quando uma nova comunidade é criada surgem com ela necessidades básicas de sobrevivência, a saúde está intrínseca nesse processo. 

 

“Desde as primeiras ocupações do MST existiam aqueles que destacavam no cuidado com o coletivo”, lembra Miriam Farias do assentamento Paulo Freire localizado em Almirante do Paranapanema, São Paulo. “Essa dinâmica se repetia em todos os outros acampamentos. Naturalmente algumas pessoas tomavam para si a tarefa de cuidar da saúde dos Sem Terra, assim, o Movimento percebeu que existia – mesmo de forma ainda não organizada – um grupo com a predisposição de assumir essa tarefa. A partir de então, esses companheiros começaram a se organizar e a articular  o que viria a se transformar no setor de saúde”. 

Ainda segundo Farias, desde o início da criação do setor a preocupação com a prevenção de doenças foi uma constante, isso pode ser observado nas campanhas de conscientização que sempre foram carro-chefe do setor. “Para nós mais importante do que curar as doenças é evitá-las. Por isso, uma de nossas primeiras iniciativas foi uma campanha pelo consumo de água mais potável, a partir dessa iniciativa muitas famílias começaram a adotar o filtro de barro”, pontua.

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Divulgação MST 

Gislei Knierim do coletivo de saúde do MST-DF, lembra também que, além da prevenção, a atenção com as crianças e com os idosos foi fundamental. Isso fez com que o coletivo buscasse informação e aprimoramento nessas áreas. “A partir dessa necessidade o MST começa a realizar cursos de formação nas áreas da saúde e a fortalecer cada vez mais o setor. Com as linhas já definidas e cursos de formação em andamento, a ideia de formar médicos Sem Terra foi ficando cada vez mais consolidada. Assim, nestes 20 anos o MST já contribuiu na formação de 150 médicos pela Escola Latino-Americana de Medicina, em Havana, Cuba, e na Venezuela.

Altemir de Jesus é um dos médicos formados na ilha caribenha, ele fez parte de uma turma de 60 brasileiros de diversos movimentos populares, destes 16 do MST. Formado em epidemiologia e morador do assentamento Margarida Alves, em Monção, no Maranhão, Jesus sentiu na pela a falta do acesso básico à saúde. Hoje em dia, ele atua na mesma região em que viveu no combate e controle de epidemias, além de ser um dos responsáveis pelo setor no estado.  

Segundo ele, o MST junto à Cuba deu outro rumo para o sentido da medicina em nosso país. “Aqui no Brasil a medicina é profissão para os filhos dos ricos. Em Cuba, essa é uma área acessível para todos. Além disso, existe uma outra percepção do cuidado em Cuba, lá os médicos vão aos locais mais isolados e, consequentemente, estão perto dos que mais precisam”, concluí. 

Experiência e resistência

 

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Divulgação MST 

As experiências do MST na área da saúde popular são enormes e estão por todos os estados. São cursos técnicos em enfermagem, fitoterapias, auriculoterapia, massagens, além de cursos de graduação em psicologia e enfermagem.

 

Outra iniciativa, bastante comemorada no setor, é a produção de hortas medicinais. No estado do Rio de Janeiro, atualmente, existem três experiências intercaladas na produção de fitoterápicos. “Temos uma loja na Lapa na capital do estado, a Terra Crioula, toda essa produção medicinal é disponibilizada nesse local”, conta José Carlos da Silva, morador do assentamento Roseli Nunes, em Piraí. 

Todos os trabalhos são de responsabilidade do coletivo de saúde do estado. No geral, as hortas medicinais do Rio de Janeiro produzem gel de massagem, sabonetes, pomadas para ferimentos e tinturas que são usadas para dores musculares, dores reumáticas, dores de cabeça, enxaqueca, labirintite.

Cuidado com a militância

A manutenção da saúde tem um papel fundamental no bem-estar dos que lutam todos os dias. E esse cuidado pode ser observado desde o mais novo acampado aos dirigentes da organização.

Nesse sentido, Silva reflete sobre as grandes atividades que o MST realiza, como os Congressos Nacionais, Marchas e as Jornadas de Lutas. Ele chama a atenção para a resistência e o cuidado exigido nesses espaços. “Essa luta só é possível porque conseguimos manter a saúde dos militantes minimamente estável, esse cuidado mantém um equilíbrio ativo em todos os nossos militantes”, finaliza.