Regional Cabana completa 20 anos

O assentamento João Batista foi o primeiro passo para outras conquistas e territórios na região Nordeste paraense

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Por Viviane Brigida
Da Página do MST

 

Depois do Massacre de Eldorado dos Carajás, o MST segue rumo à capital do Pará. o ano era 1998 e lá se vão 20 anos.

A região Norte e Nordeste do estado, para o MST, é uma de suas regionais que faz homenagem aos cabanos e cabanas que lutaram no século 19. A Cabanagem foi um movimento popular pela libertação da Amazônia.

A regional cabana, carinhosamente conhecida como “regional do amor” entre os trabalhadores e trabalhadoras rurais do MST, constrói o seu dia-a-dia nas lutas desta região do Pará. No último 15 de novembro, se comemorou a primeira ocupação de terra da regional.

Hoje assentamento João Batista, este é primeiro assentamento do MST na região e, dentre as suas conquistas, estão escola, posto de saúde e produção agroecológica. O assentamento resiste e ainda tem muito pra conquistar.

Para Valéria Lopes, da direção estadual do Movimento, diz que nada mais justo é celebrar a vida e celebrar a memória de tantas lutas, daqueles que já se partiram, que como inspiração ajudam os trabalhadores e trabalhadoras a seguir.
 

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O dia foi de celebração e partilha, com uma vasta programação que envolveu as crianças, os jovens, adultos e idosos. O evento organizado pelas famílias contou com uma vasta programação desde a alvorada até a noite camponesa.

Sandra Batista, companheira de João Batista, que é o lutador que dá nome ao assentamento, lembrou do companheiro que colocou sua vida à disposição dos trabalhadores e trabalhadoras. Como advogado e parlamentar, foi uma voz importante, sempre a disposição na orientação e conscientização dos trabalhadores/as na luta por reforma agrária. Ele foi assassinado em 1988.

“Tudo que vocês construíram foi com a força de vocês, com a força de trabalho. Não há outra forma pra os trabalhadores e trabalhadoras além de resistir, lutar e vencer” afirmou emocionada Sandra Batista, ao lado do seu filho que visitava o assentamento pela primeira vez.

A luta pela terra continua na região e permanece acirrada, cheia de conflitos no campo. São camponeses e camponesas que doam sua vida para uma sociedade mais digna e humana.

Ações de celebração

Durante todo o dia, os assentados realizaram atividades na escola Roberto Remigi que recebe nome de um colaborador e amigo do MST falecido em 2001. A escola do assentamento, que faz parte da rede municipal de ensino, realizou atividades como pinturas no mural. Cada turma participou do muralismo, onde os estudantes expressavam o que representava esses vinte anos de lutas.

O estudante José Luís, de 11 anos filho de assentado, aluno do 6º ano estava feliz com atividade. “Fazer desenho que expressa nossa vida é muito legal”, dizia contente.
 

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Também ocorreram visitas às experiências agroecológicas das famílias com os amigos e amigas do MST. Durante a visitação do Sistema Agroecológico de Produção Orgânica (SAPO) os amigos e amigas do Movimento puderam partilhar as memórias dessas parcerias relatando as diversas atividades construídas.

Também houve uma celebração de ação de graças, café da manhã e almoço coletivo, com a contribuição das famílias e, no período da noite, um ato político cultural na praça central do assentamento.

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Lembrança histórica

Depois de um amplo trabalho de base nos municípios de Castanhal, São Francisco e Região Metropolitana de Belém, no dia 15 de novembro de 1998, as famílias Sem Terra ocupam a Fazenda Bacuri, no município de Castanhal, distante 88 Km da capital.

As famílias constroem o acampamento João Batista, nome em homenagem deputado estadual do PCdoB e advogado dos camponeses e camponesas. O defensor foi assassinado durante seu mandato, em 1988, e tinha uma atuação marcante na região Nordeste paraense, onde está localizado o Município de Castanhal. Hoje o Assentamento João Batista tem 157 famílias assentadas.

Marcio Jandir, militante e assentado, afirma que o assentamento João Batista foi o primeiro passo para outras conquistas e territórios na região Nordeste paraense pelo Movimento e que o assentamento se coloca como resistência do que queremos.

“Como será nossos próximos passos? Não sabemos, mas sabemos da importância de celebrar esses 20 anos nesta conjuntura política em que vivenciamos. A nossa contribuição para a nossa história de luta dos trabalhadores é a nossa luta diária pela sobrevivência nesses 20 anos e que coloca os próximos anos cheio de desafios na luta política e de classes”, declara o militante.

“É o desafio político e organizativo para o MST nesta conjuntura, porém cada família que se coloca em luta e produz com sua força de trabalho o seu próprio alimento é a resposta para uma sociedade cada vez mais desigual”, avalia Jandir. O assentamento João Batista é um desses territórios de continuidade na luta.

 

 

*Editado por Rafael Soriano