Armazém do Campo: produtos da Reforma Agrária diariamente no centro do Recife

Os três dias de programação de inauguração iniciam na quinta-feira (30)
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Armazém funcionará num casarão na Avenida Martins de Barros, no Santo Antônio / Matheus Alves

 

Por Marcos Barbosa
Do Brasil de Fato 

 

Nos próximos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho acontece a inauguração do Armazém do Campo, no Recife. O espaço, que é uma iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), irá funcionar de segunda a sábado, em horário comercial. De segunda a quarta, o horário é das 9 às 20h. Nas quintas e sextas, das 10 às 2h. Nos sábados, funciona no horário do almoço e período da tarde. 

De acordo com Raminho Figueiredo, coordenador do Armazém do Campo, “a proposta é provocar um diálogo com a sociedade a partir da produção de alimentos limpos, não transgênicos e sem veneno e, a partir desse diálogo, apresentar a viabilidade da Reforma Agrária”. Ainda de acordo com o coordenador, os produtos comercializados são frutos da agricultura familiar camponesa, produzidos não apenas pelo MST, mas também pelo Movimento Camponês Popular (MCP), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), entre outros, servindo de ponto de escoamento dessa produção.

Os alimentos que serão vendidos no Armazém do Campo começaram a chegar na segunda-feira (27). Dentre eles, estão o mel, oriundo de Afogados da Ingazeira, o café mineiro e o arroz gaúcho. De acordo com Raminho, serão cerca de 120 produtos, desde aqueles processados, como a farinha de milho e o arroz, aos produtos in natura, como macaxeira, inhame, jerimum, frutas, verduras e hortaliças. 

Foto: Marcos Barbosa

O coordenador reforça que o Armazém do Campo não está isolado da estratégia política do movimento e de seu compromisso com a luta por Reforma Agrária: “Não é apenas um espaço de venda, pretende ser um espaço, também, de diálogo com população. Quando eu consumo do agronegócio, estou alimentando o agronegócio. Quando eu consumo da agricultura familiar camponesa, estou alimentando a agricultura familiar camponesa. Então, há uma proposta política no Armazém, muito mais do que uma proposta econômica”. 

Estrutura

O Armazém será dividido em três partes. A porta de frente para a rua do Imperador Pedro II, será a entrada do mercado. No lado oposto, na porta que dá acesso para a avenida Martins de Barros, estará o café-bar, onde os clientes poderão conferir doces, pães, bolos e queijos, todos produzidos na cooperativa do assentamento Normandia, em Caruaru. Também serão comercializados café expresso, cappuccino e até chopp artesanal. 

Entre o mercado e o bar, estará uma livraria. “Teremos uma livraria da Editora Expressão Popular. Aqui, as pessoas irão encontrar por volta de 600 títulos de livros”, conta o coordenador do espaço.

De acordo com Raminho, a proposta é que as pessoas possam interagir com todos os espaços. “A intenção não é que o armazém seja um espaço onde a pessoa venha só tomar um café, ou só comprar um livro ou 1kg de arroz. A ideia é que a pessoa possa circular pelo espaço, conhecer a proposta, dialogar sobre os produtos, conhecê-los e saber como são produzidos”, conta. 

O espaço contará, ainda, com apresentações culturais e ritmos da música brasileira como forró e samba, que possam ter no Armazém um espaço de divulgação artística, “uma arte que nos alimente e nos aponte na utopia da transformação”, como define Raminho

Foto: Marcos Barbosa

Inauguração

Com relação à inauguração, que vai acontecer dia 30 de maio, Raminho explicou que serão três dias de festa. Na quinta-feira (30), vai haver um ato político inaugural às 11h, com momento de mística e corte da fita para “institucionalizar a inauguração do armazém” e oficializar a abertura das portas da Casa. À noite, vai haver uma edição do festival Som na Rural. 

Na sexta-feira, será inaugurada a livraria Expressão Popular, com presença de Carlos Bellé, um dos coordenadores da expressão popular, e convidados, que estarão discutindo sobre a importância da editora no debate das ideias. À noite, mais festa com o Som na Rural.

Já no sábado, as festividades concluem com roda de samba e almoço. A proposta é essa seja a programação de todos os sábados no Armazém do Campo. “Com a beleza de que tudo o que vai ser vendido no armazém vai ser produzido no próprio armazém. Consequentemente, vai ser alimento saudável. Vamos estar servindo arroz, macaxeira, carne de bode, tudo produzido pelo MST”, frisa Raminho.

Produção da Reforma Agrária

Edilson Barbosa é assentado, produz alimentos e é integrante da Rede de Comercialização do Armazém do Campo e conta que a Rede vem articulando associações, cooperativas e redes de assentamentos para que a produção seja comercializada no Armazém, “cada grupo de assentado é responsável por oferecer um tipo de produto para as feiras, para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e, agora, para o Armazém do Campo, mais uma frente de comércio que a gente está abrindo para poder comercializar nossos produtos dos assentamentos.”

Quem for fazer compras no Armazém do Campo pode ter certeza de encontrar uma grande variedade de produtos produzidos e cultivados por assentamentos e acampamentos de todo o estado “temos caprinos, ovinos, galinhas de capoeira e ovos. A questão dos tubérculos: inhame, batata, cará, macaxeira. Temos também jerimum, milho feijão e hortaliças. Grande variedade de produtos que a gente comercializa desde os assentamentos, cada um tem uma particularidade”, afirma Edilson.

Edilson aponta ainda que o grande gargalo da agricultura familiar continua sendo a comercialização e espaços como os Armazéns do Campo são essenciais para superar essa dificuldade “na maioria das vezes, a gente produz muito, mas os produtos chegam nas Ceasas e nos grandes centros descaracterizados. As pessoas compram achando que estão comprando do agronegócio. Não é transmitido para a população, para a opinião pública, como aquilo de fato, que é produzido a partir de um processo de luta, de uma história. Então, tem essa importância de a gente poder levar nosso produto e de ofertá-los para a população dos grandes centros, sabendo que são produzidos nos assentamentos e na agricultura familiar”, conclui o assentado.

 

Edição: Monyse Ravenna/Brasil de Fato