Pistoleiros matam dois camponeses em Arari, MA

Celino Fernandes e Wanderson de Jesus Rodrigues Fernandes, pai e filho, foram assassinados por pistoleiros na frente da família

Por Comunicação CPT

No último domingo (5/1), duas lideranças da Comunidade do Cedro, em Arari, a cerca de 170 quilômetros de São Luís (MA), foram assassinados por pistoleiros.

Celino Fernandes e Wanderson de Jesus Rodrigues Fernandes, pai e filho, foram mortos por pistoleiros na frente da família.

Essas são as duas primeiras mortes em decorrência de conflitos no campo em 2020 registradas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). No ano passado, ainda conforme dados parciais, a Pastoral contabilizou 30 assassinatos no campo.

Confira a nota na íntegra:

NOTA PÚBLICA DE PESAR, REPÚDIO E SOLIDARIEDADE

As organizações da sociedade civil, que assinam esta nota, vêm a público se manifestar nos seguintes termos:

1 – Na madrugada do dia 05 de janeiro de 2020, quatro pistoleiros fortemente armados, invadiram a residência de CELINO FERNANDES e WANDERSON DE JESUS RODRIGUES FERNANDES, pai e filho, respectivamente, moradores da comunidade Cedro, município de Arari e os executaram com vários disparos de arma de fogo nos seus rostos, sem oportunidade de qualquer defesa, fato presenciado pela esposa, filhos e netos;

2 – Os pistoleiros chegaram à comunidade e às residências dos camponeses dizendo serem da polícia e que estavam cumprindo ordem de prisão. Trajavam coletes da Polícia Civil, todos encapuzados, arrombaram as residências e assassinaram os lavradores;

3 – Os camponeses Celino Fernandes e Wanderson de Jesus Rodrigues Fernandes, no ano de 2019, juntamente com mais três camponeses, inclusive Adriana de Jesus Rodrigues Fernandes, filha de Celino, presidente da associação quilombola de Cedro, foram representados criminalmente pelo delegado de Arari Alcides Martins Nunes Neto, denunciados pela promotora Lícia Ramos Cavalcante Muniz, e aceita pelo juiz, Luiz Emilio Braúna Bittencurt Júnior, tendo a época ficado presos por mais de 70 (setenta) dias no Presídio Regional de Viana;

4 – Há muito tempo a comunidade Cedro, principalmente os lavradores assassinados, haviam denunciado aos órgãos do estado, Delegacia de Polícia, Ministério Público, ITERMA, INCRA, IBAMA, SEMA, SEDIHPOP, o conflito agrário envolvendo a comunidade e a família da desembargadora Ângela Salazar, que cercam os campos públicos para criação de gado bubalino, inclusive com cercas elétricas, local de onde os moradores retiram o sustento de seus familiares, por meio do pescado e da criação de animais;

5 – Essa política deliberada das autoridades de Arari de criminalizar as lideranças sociais, com representações criminais, inquéritos policiais, denúncias, decisões judiciais favoráveis ao latifúndio, tem servido apenas para deixar ainda mais vulneráveis as lideranças sociais, que legitimamente lutam pelos seus territórios;

6 – Não temos dúvidas que essa exposição das lideranças termina por chancelar e encorajar particulares e seus pistoleiros a fazerem a vingança com as próprias mãos, forma de criar uma cortina de fumaça sobre o verdadeiro conflito: a luta pela terra;

7 – Sabemos que o verdadeiro objetivo dessas mortes e ameaças é criar um clima de medo nas comunidades e suas lideranças a não continuarem a luta, esses matadores de aluguel apenas cumprem o restante do trabalho já iniciado pelas autoridades, de criminalização de lideranças, os pistoleiros se acham no direito de eliminá-los.

8 – O governo Flávio Dino tem as mãos sujas de sangue dos povos da terra, camponeses, quilombolas e ribeirinhos que brutalmente são assassinados no Maranhão. Até agora, o governo nada fez para solucionar o conflito, muitos menos expulsou os grileiros de terras públicas da baixada ocidental maranhense;

9 – As mortes dos lavradores em Cedro não é algo isolado ou desvinculado do que se vive hoje no Brasil, a política bolsonarista é uma declaração de guerra aos povos tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses em geral. O Governo está legalizando e armando as milícias privadas de fazendeiros e anunciando uma criminosa exclusão de ilicitude das forças militares (GLOs) em reintegrações de posse, para transformar as forças armadas em uma verdadeira milícia pública, institucionalizando a violência do Estado a serviço do grande capital e do agronegócio. Além e claro da Medida Provisória – MP 910/2019, que pretende instituir novas regras para a regularização de terras no país (legalizar a grilagem de terras públicas).

10 – Diante disso, repudiamos toda e qualquer política do governo do estado e do projeto bolsonarista que venha ameaçar a existência dos povos, sua autonomia e dignidade.

11 – Assim, EXIGIMOS dos órgãos públicos e do governo do estado do Maranhão a imediata elucidação desses bárbaros crimes, sejam os autores processados e ao final, condenados às penas das leis brasileiras. Assim como a imediata retirada de grileiros dos campos públicos da baixada ocidental maranhense.

12 – Por fim, queremos manifestar nosso pesar a todos os familiares e a comunidade de Cedro por esta imensa dor que todos passam, bem como, manifestar nossa total solidariedade.

Arari, 05 de janeiro de 2020. 

  1. Fóruns e Redes de Cidadania do Maranhão
  2. Associação Quilombola dos moradores do povoado Cedro
  3. Associação Brasileira dos Advogados do Povo – ABRAPO
  4. Animação dos Cristãos no Meio Rural – ACR/MA
  5. Central Sindical e Popular – CSP Conlutas
  6. Associação de moradores do povoado Flexeiras
  7. Associação Comunitária dos moradores de Santa Maria 1
  8. Associação comunitária dos moradores da comunidade de Santa Maria 2
  9. Associação dos Trabalhadores Rurais do Povoado Cheiroso
  10. Associação dos Pequenos Produtores Rurais Quilombolas de Assutinga
  11. Associação dos Produtores Rurais Quilombolas das Ilhas do Teso
  12. Associação dos Pequenos Produtores Rurais Quilombola de Flexeiras
  13. União dos Moradores da Comunidade de Flores
  14. Associação Quilombola dos moradores da Mata de São Benedito 3
  15. Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Vargem Grande/MA – SINTRANSPEM/VG
  16. Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar de Vargem Grande
  17. Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Cantanhede/MA – SINTASPUMC
  18. Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Cantanhede/MA
  19. Associação Agroecológica Tijupá
  20. Boscheto Luna de Gaia
  21. Coletivo Andes Em Luta (CAEL) – MA
  22. Coletivo Teatro da Sacola (DF-MA)
  23. Conselho Indigenista Missionário – CIMI
  24. Corrente Socialista dos Trabalhadores – CST (PSOL)
  25. Fórum Maranhense de Mulheres
  26. Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente da Universidade Federal do Maranhão (GEDMMA/UFMA)
  27. Marcha Mundial das Mulheres (MA)
  28. Movimento em Defesa da Ilha
  29. Movimento Hip Hop Militante Quilombo Urbano
  30. Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB
  31. Movimento Mulheres em Luta -MA
  32. Movimento Pela Saúde dos Povos – MSP
  33. ONG Arte – Mojó
  34. Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados PSTU
  35. Resistência (PSOL)
  36. Sindicato dos (as) Trabalhadores (as) nas Entidades e Centrais Sindicais, Associações, Federações, Órgãos de Classe, Entidades Não Governamentais e Partidos Políticos no Estado do Maranhão – SINTES-MA
  37. União Wicca do Brasil
  38. Sindicato dos Servidores Públicos de São Bernardo/MA – SIDSERP/SB
  39. Comissão Pastoral da Terra – CPT/MA
  40. Cooperativa do Produtor Rural de Vargem Grande – COOPEVARG/MA
  41. Conselho Regional de Psicologia – CRP/MA
  42. APRUMA – Seção Sindical