A Agroecologia e a liberdade de Lilian

Conheça Lilian Oliveira, Sem Terra da região sudeste que luta pela liberdade e diversidade
Por conviver na comunidade desde o início, o tabu e o preconceito em torno da transexualidade não afetaram suas relações no Movimento. Foto: Agatha Azevedo

Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST

Lilian Oliveira caminha sorridente e desinibida na estradinha de terra do assentamento Liberdade. De corpo esguio e saia curta, a liberdade que ela conquistou chama atenção da vizinhança. Mas nem sempre foi assim. Ela nasceu no município de Valadares, Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. E desde que nasceu morou no acampamento, que hoje é terra conquistada, com os avós e os três irmãos.

A ocupação aconteceu há 22 anos. Ela lembra da infância: “toda vida foi boa, sempre gostei porque quando era acampamento todo mundo era ligado, morava perto, a gente inventava brincadeira, tinha o rio, todo mundo ia pra lá”.

Nesse período Lilian se chamava Maxwillian dos Reis. Ela conta que se revelou trans há três anos, mas quando criança todos a conheciam e na adolescência todos já sabiam. “Desde quando eu era menino, sempre gostei de roupa de menina. Me assumi como homossexual, mas eu vi que aquilo não era pra mim. Eu queria vestir de menina e ficar com homem. Desde os 19 anos eu peguei e virei mulher”.

Por conviver na comunidade desde o início, o tabu e o preconceito em torno da transexualidade não afetaram suas relações no Movimento. “Alguns criticavam, mas comigo nunca chegaram a falar. Eu nunca fui escondida, todo mundo sabia. O povo do assentamento é mais de boa, não tem tantos preconceitos, para mim foi mais fácil. Mas tem outros lugares que vejo minhas amigas falando, é bem mais difícil”, afirma.

Plantando a vida


Nos últimos dois anos Lilian trabalhou no viveiro Silvino Gouveia, no projeto Semeando Agroflorestas. Ali, ela aprendeu a coletar, selecionar, preparar e colocar a semente na terra. “Foi um aprendizado muito importante. Eu achava que plantar era só pegar e colocar na terra. Mas não, você tem que saber a adubação certa, tem que saber usar o substrato, tem que saber que quando a planta que está com os dois primeiros pares de folha é hora de fazer transplante. Você tem que saber do que ela está precisando, se é água, se é adubo”.

No viveiro Silvino Gouveia, Lilian aprendeu a coletar, selecionar, preparar e colocar a semente na terra. Foto: Matheus Teixeira Batista

Lilian é mais uma das milhares de Sem Terra que estão se desafiando com o plano “Plantar árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”. Ela aprendeu no MST que o preconceito não faz parte da agroecologia e que é preciso cuidar da terra, assim como a terra cuida de nós.

“A importância da agroecologia é que as pessoas só pensam em cortar, em plantar não. As pessoas têm que entender que não basta plantar só uma fruta ou só eucalipto, tem que plantar árvores nativas também, árvores de todo tipo. Se não reflorestar como vai ficar o clima?”. Uma pergunta que qualquer morador do Vale, devastado pelo latifúndio e pela lama, sabe bem a resposta. “Está cada dia mais quente”, conclui enquanto se abana com as mãos.

“O capitalismo está destruindo nosso planeta, se não tiver nós para começar e seguir em frente com a agroecologia para ver se muda um pouco o mundo… Se não começar a plantar na beira-rio, na beira dos lagos, só vamos ter mais doenças se espalhando”, alerta a jovem.

Lilian acredita, sobretudo, no amor. Ao falar sobre a realidade do Brasil e o que fazer com um presidente que apoia a LGBTfobia, as queimadas e a perseguição do Sem Terra, ela é taxativa. “O mundo precisa entender que ninguém ama igual, ninguém gosta igual. O amor é a diferença. É a gente viver e amar as pessoas como elas são e amar a terra. Eles tem que aprender a amar, porque quem ama não carrega ódio no coração”.

*Editado por Fernanda Alcântara