21 anos após o assassinato de Olívio Albani, segue a luta pela terra em SC

Em 16 de setembro de 1989, cerca de 600 policiais tentaram despejar o acampamento em Palma Sola/SC, atiraram em cinco Sem Terras, um deles jaziu, assassinado, era Olívio Albani. O despejo não se efetivou.

Assentamento Olivio Albani, 2020

Por Coletivo de Comunicação MST/SC
Da Página do MST

O final da década de 1980 foi marcado por forte crise econômica e também pela ascensão do movimento de massas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) migrou da palavra de ordem “Terra para quem nela trabalha” para “Ocupar, resistir e produzir”. Assim, em 12 de junho de 1989, cerca de 800 famílias ocuparam a Fazenda Caldato, latifúndio localizado em Palma Sola, em Santa Catarina. Dilso Barcelos, do setor de produção, relembra que o “agricultor na época não tinha opção; ou conquistava um pedaço de terra, ou continuava sendo meio escravo, pagando a terceira ou a quarta parte de agregado”.

Ao clarear do dia 15 de setembro daquele ano, cerca de 600 soldados chegaram acampamento para realizar a força o despejo. Luiz Carlos Dartora, que hoje vive no acampamento 30 de outubro (Campos Novos/SC), era um dos acampados que vivenciou a ação do Estado e relata o ocorrido.

“Todos os acampados e acampadas lutaram bravamente para não serem despejado. Infelizmente o Olívio foi atingido por um tiro de fuzil por volta das 06h da manhã, e logo em seguida foi preso pelos policiais, vindo a falecer, segundo laudo médico, por volta de 11h, por hemorragia, por falta de atendimento”. Outros quatro Sem Terras também foram baleados, e presos ao saírem do hospital.

Olívio Albani era casado, pai de quatro filhos, natural de Pinhalzinho/SC. Era agricultor, Sem Terra, trabalhando de arrendatário, com péssimas condições de vida. Organizou-se junto a outras famílias para lutar por terra para poder viver, produzir e criar sua família.

Mesmo com o uso da violência, o Estado não conseguiu despejar as famílias. Luiz relata que, após o assassinato, “houve uma grande mobilização em torno ocorrido, através de Sindicatos, igreja e várias entidades, tanto a nível estadual como a nível nacional, para prestar apoio e solidariedade ao acampamento, aos familiares do Olívio e ao MST”. Dilso complementa que inclusive música foi feita pelos Sem Terra:

Sem Terrinhas no acampamento Pátria Livre 2006, reocupação de parte da fazenda onde Olívio Albani foi assassinado. Foto: Arquivo MST

[…] A paz que ali reinava, transformou-se em tensão,

quando clareava o dia foi chegando o batalhão,

dez ônibus de soldado todos de armas na mão,

batendo até nas crianças, veja só, que judiação

[…]Que Brasil é esse, que vida precária,

não queremos guerra, queremos terra,

Reforma Agrária.

Contudo, a mobilização aconteceu por parte dos latifundiários, com preparativos de uma ofensiva maior contra o acampamento. Por isso, Irma Brunetto, do setor de saúde, relata que “o acampamento se mudou pra outra área provisória, parte foi pra ocupação no município de Garuva, parte desistiu e parte foi para o assentamento São Luiz, em Palma Sola”.

A luta pela terra não cessou. Abimael Oliveira, do Coletivo de Juventude, retoma “um Sem Terra foi morto com tiros de fuzil”, “eram terras griladas, por isso a gente continuou fazendo luta. Em 2005 reocupou a área. E em 2009 é consolidado o assentamento Olívio Albani, com 28 famílias”.

Esse assentamento é localizado em Campo Erê, que é parte da fazenda que tinha extensão até Palma Sola. “Hoje a gente reocupa esse território, coloca ele pra cumprir sua função social, para produzir alimentos e para dar condição de sustentação dessas famílias Sem Terra. Seguimos em luta”, conclui Abimael.

*Editado por Fernanda Alcântara