"Parada Pela Vida"

Assentados relatam como está funcionando a “Parada Pela Vida”, com o isolamento produtivo e a defesa da vida

Nos assentamentos e acampamentos a orientação é pela parada total da circulação desnecessária, além de reforçar a produção de alimentos, o plantio de árvores e os cuidados, explicam Fred e Camilo de Rondônia
Jovens do MST realizam plantio de árvores durante “Parada Pela Vida”, no Espírito Santos. Foto: Lavínia Fornasiari

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

De 17 a 30 de abril o MST lançou a campanha “Parada Pela Vida”, que orienta sobre a necessidade de praticar o isolamento produtivo e tomar todas as medidas de segurança, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para enfrentar a Covid-19 e preservar a vida de quem vive nos assentamentos e acampamentos e demais áreas da Reforma Agrária, bem como de toda a sociedade, evitando mais mortes pela doença.

Porém, o isolamento produtivo é diferente daquele feito nas cidades e demais áreas urbanas pelo país, pois ao mesmo tempo em que busca garantir as medidas protetivas, como uso de máscara, distanciamento social, a lavagem constante das mãos ou o uso de álcool em gel (70%), também procura garantir a produção de alimentos para o autossustento das famílias Sem Terra e contribuir no combate à fome, com ações de solidariedade. Além de todos/as se manterem isolados, ao mesmo tempo, se mantém mobilizados pela vacina já para toda população e pelo fora Bolsonaro.

Para entender melhor como está funcionando a “Parada Pela Vida” com o isolamento produtivo e as medidas de segurança sanitária nos territórios de Reforma Agrária, segue abaixo uma entrevista exclusiva com dois assentados de Rondônia: Fred Santana, da Direção Nacional no estado, que vive no assentamento Luzinei Barreto, município de Ouro Preto D’oeste/RO e Camilo Augusto, do Coletivo Nacional de Juventude do MST, que mora no assentamento 14 de agosto, em Ariquemes/RO.

Confira a entrevista na íntegra:

Qual a importância da campanha “Parada Pela Vida” e como ela está funcionando nos territórios de Reforma Agrária (assentamentos, acampamentos, centros de formação, escolas, cooperativas, associações, etc.)?

Camilo: A campanha, em primeiro lugar, é para preservar a vida nos nossos assentamentos e acampamentos. É uma deliberação que tomamos e busca conscientizar a nossa base sobre a necessidade de enrijecer o isolamento social, mesmo dentro das nossas áreas. Essa parada é também uma mensagem para o conjunto da sociedade, um exemplo pedagógico que busca difundir a urgência dos cuidados com a Covid-19 e a manutenção, onde for possível, do isolamento social rígido.

Nos nossos assentamentos e acampamentos as direções tem orientado a parada total da circulação desnecessária nesse momento. Nada de reunião presencial, de roda de viola, de “pelada” no campinho de futebol da comunidade, de resenha no boteco, etc. Além de reforçar a missão de seguir produzindo alimentos, plantando árvores, cuidando-nos, uns dos outros e das outras, e lutando por vacina, por auxílio emergencial e pelo fora Bolsonaro.

Camilo Augusto, do Coletivo Nacional de Juventude do MST, vive no Assentamento 14 de agosto, Ariquemes/RO.
Foto: Arquivo pessoal

Fred: Fazer a “Parada Pela Vida” no MST é fundamental para garantir a saúde do nosso povo, porque o coronavírus está se aproximando das nossas áreas e há uma necessidade enorme de frear o número de contágios e assim, o numero de internações e mortes. Então, fazer essa parada é de extrema necessidade, neste momento que estamos vivendo da pandemia.

Como as famílias assentadas e acampadas estão sendo orientadas a realizar o isolamento produtivo e garantir as medidas de segurança em relação ao coronavírus?

Fred: As famílias assentadas e acampadas estão sendo orientadas a fazer o isolamento produtivo nas suas casas, nos espaços de produção; a continuar produzindo na roça, mas sem a circulação pelo assentamento, sem a circulação na cidade, sem fazer as aglomerações em espaços mais comunitários como igrejas, campo de futebol, os bares. Todos esses espaços de aglomeração, de ajuntamento coletivo, estão sendo restritos nesse momento.

Qual a diferença entre o isolamento social feito nas cidades e o isolamento produtivo nos acampamentos e assentamentos e demais espaços da Reforma Agrária?

Fred: A diferença é que tem um espaço de trabalho que ainda permanece, que é o espaço na roça, na produção de alimentos. Que também é uma tarefa fundamental neste momento, então, é importante a nossa companheirada seguir nesse isolamento produtivo, também no estudo, mas garantindo principalmente os cuidados.

Fred Santana, da Direção Nacional do MST, no Assentamento Luzinei Barreto, em Ouro Preto D’oeste/RO, onde mora. Foto: Arquivo pessoal

Por que o isolamento produtivo é importante para as famílias Sem Terra e para sociedade, em um contexto de pandemia e crises?

Fred: É importante porque diminui a circulação do vírus e nesse momento em que se aprofunda a fome no Brasil, a extrema pobreza, produzir alimentos saudáveis é fundamental para garantir a vida das pessoas, tanto no campo quanto na cidade. E nós, acampados e assentados da Reforma Agrária temos essa condição de, mesmo em isolamento, continuar produzindo a nossa comida.

O MST lançou um documento com “Dez medidas necessárias para o enfrentamento do povo à Covid-19“. O que você destaca como as principais orientações a serem seguidas nas áreas de Reforma Agrária e nos deslocamentos?

Fred: É de fundamental importância garantir as medidas restritivas, o isolamento, de fato o isolamento produtivo, garantindo a produção nos nossos espaços, como também o uso da máscara, do álcool 70%, quando tiver por extrema necessidade que circular por algum espaço. Respeitar essas medidas protetivas e manter a luta pelo auxílio emergencial, que garante ao nosso povo uma condição melhor de ficar em casa e não espalhar o vírus.

Camilo: É importante restringir ainda mais a circulação dentro dos nossos territórios e também no meio urbano. E quando for extremamente necessário, de extrema urgência circular, lembrar sempre das medidas restritivas, a utilização da máscara e do álcool em gel (fator 70%) para garantir que o vírus não se prolifere e que a gente não contamine nós e quem nós amamos dentro das nossas casas e nos nossos territórios.

Também é fundamental a luta pelo auxílio emergencial de R$ 600, que vai garantir que o conjunto do povo brasileiro, da classe trabalhadora, tenha condições de se proteger contra o vírus e contra a pandemia, que também tem se agravado muito no Brasil, que é a pandemia da fome.

O governo federal tem adotado uma política genocida, deixando os trabalhadores/as do campo morrer pela Covid-19 ou de fome. Como as famílias Sem Terra podem se cuidar, de forma individual e coletiva nos territórios para frear a circulação do vírus e as mortes?

Fred: Nesse momento a solidariedade é fundamental. E a solidariedade de classe é o que garante e contribui para nos mantermos vivos na pandemia, tanto para garantir a nossa alimentação, alimentação dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade, como também nos nossos cuidados. Quando não se sentir bem, ligar para o companheiro, para a companheira, saber como está, conversar. Porque esse momento de isolamento, psicologicamente, também é um momento complexo da nossa vida. Então é de fundamental importância este elemento da solidariedade. E garantir a luta pelo fora Bolsonaro, pela vacina já para todos/as e o auxílio emergencial, que de fato dê condições pro nosso povo se alimentar e garantir o isolamento.

Camilo: Precisamos zelar do nosso principal patrimônio que é nossa militância. É de fundamental  importância cultivar, mesmo à distancia, os  afetos, nossos valores humanistas como a solidariedade que alimenta a alma.

Mantermo-nos isolados e isoladas fisicamente, mais ativas e ativos virtualmente. Agarrar a tarefa de conscientizar permanentemente a nós mesmos e as comunidades sobre a necessidade de manter o isolamento produtivo e a “Parada Pela Vida”.

E seguirmos em luta, através dos meios possíveis nesse contexto, produzindo alimentos, combatendo o negacionismo e as fake news por vacina, pelo auxilio emergencial de 600 reais e pelo fora Bolsonaro.

Confira abaixo, baixe, compartilhe e repasse as “Dez medidas necessárias para o enfrentamento do povo à Covid-19“ e salve vidas!

*Editado por Fernanda Alcântara