Brigada Solidária do MST

Agentes Populares de Saúde do MST fazem atendimento médico às vítimas das enchentes na Bahia

Os profissionais da saúde fazem parte da Brigada Solidária de Saúde do MST, que atua nas regiões atingidas
Médico do MST em atendimento no Extremo Sul da Bahia. Foto: Coletivo de Saúde do MST/BA.

Por Izélia Silva
Da Página do MST

Com o objetivo de fortalecer o acesso da população à saúde de qualidade, com atendimento de médicos, psicólogos, pediatras, enfermeiros e agentes de saúde nos distritos e bairros no município de Itamaraju, Extremo Sul da Bahia, o grupo de voluntários do Movimento Sem Terra, batizado de Brigada Solidária de Saúde do MST, realizará atendimento até o dia 15 de janeiro de 2022.

A região foi atingida na última semana com enchentes provocadas por fortes chuvas, deixando  51 municípios em estado de emergência, pelo menos 267 pessoas feridas e mais de 21 mil pessoas tiveram de deixar suas casas.  De acordo a Defesa Civil, em Itamaraju 600 pessoas ficaram desabrigadas e 400 desalojadas.

Buscando ouvir essas pessoas, com afeto, e fortalecer a saúde pública, o atendimento médico é uma ação de solidariedade do MST a estas famílias atingidas. A Brigada iniciou os atendimentos pelo distrito de Nova Alegria, com 3.500 habitantes, área mais atingida no município de Itamaraju.

Risco da saúde provocado pela chuva

Após o nível dos rios que cortam a região subir, as cidades foram tomadas pela lama. A situação continua precária em vários pontos e moradores acabaram tendo contato  direto com a água e o barro que ficou.

De acordo com o médico popular da reforma agrária, Adalton Binas, é preciso ter cuidado com diversas contaminações. Ele explicou que as doenças que mais ocorrem pelo contato com água ou lama contaminadas são a leptospirose, hepatite A, gastroenterites virais e bacterianas, além de parasitoses.

“A leptospirose se manifesta com febre e dor no corpo de forma mais intensa, e esses sintomas podem aparecer, geralmente, uns sete dias após o contato com a água contaminada. É importante ficar atento às gastroenterites, às infecções intestinais que tem um início mais rápido, com diarreia, dor de cabeça, febre e dores abdominais. Têm que ser observadas. A que demora um pouco para aparecer é a hepatite do tipo A, que começa a se manifestar com a coloração mais amarelada da pele e febre”, explica.

Binas alerta sobre a importância de procurar atendimento médico, o mais rápido possível, ao sentir qualquer um desses sintomas, porque as chances de cura são maiores. Inclusive, quem está nesta linha de frente fazendo trabalho de limpeza, por exemplo, deve tomar cuidado. “Evitar exposição direta do corpo com a água e lama após enchentes, usando botas, roupas impermeabilizantes e luvas, além de ingerir apenas água potável e de confiabilidade”, finaliza.

Para Aimbere Jardim, do Setor de Saúde do MST na Bahia, “um dos princípios do MST é a solidariedade, neste momento é de suma importância o acompanhamento médico às famílias atingidas pelas enchentes e desamparadas pelo sistema público municipal”, avalia, reforçando que o cuidado com a saúde é fundamental para a transformação social.

Além do atendimento básico, com exames e encaminhamentos ao Sistema Único de Saúde (SUS), os moradores também recebem alguns medicamentos, álcool gel, máscara e material informativo.

Brigada Solidária de Saúde do MST.
Foto: Coletivo de Saúde do MST/BA.

Solidariedade Sem Terra

O MST nasceu da ocupação da terra e tem nesta ação a denúncia da terra privada e dos latifúndios concentrados nas mãos de poucos. Ocupar, para o MST, é um ato de resistência e de reivindicação de direitos constitucionais, da terra para quem nela trabalha e do direito à moradia e autossustentação.

Como ressalta o artigo 6 da Constituição Brasileira: “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta constituição”.

Quando a Constituição traz esses direitos, entende-se que a saúde está em diversos campos, inclusive na questão ambiental. Dona Maria de Lurdes, 45 anos, moradora do distrito Nova Alegria, comenta sobre o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, do MST. “Se tivéssemos cuidado da natureza, assim como o MST vem cuidando, talvez não teríamos vivenciados esta catástrofes ambiental”.

Desde o início da pandemia, o MST tem organizado diversas ações de solidariedade no que diz respeito à doação de alimentos e ao cuidado com a saúde, contribuindo na formação de centenas de Agentes Populares de Saúde. “É o povo cuidando do povo”, enfatizou Glória Cardoso, enfermeira e integrante do MST. “Formamos os agentes na prática. Atendemos as comunidades e também fortalecemos a luta pelo SUS”, complementa.

O mundo tem vivenciado a maior crise sanitária dos últimos 100 anos, aumentando para mais de 110 milhões o número de brasileiros que vivem em algum grau de insegurança alimentar, sendo cerca de 20 milhões a passarem fome, ou seja, a solidariedade dos movimentos busca atender aos direitos básicos da pessoa humana.

Na Região do Extremo Sul, o MST vem sempre organizando campanhas de solidariedade, como em todo o estado. Ações essas que foram intensificadas com as enchentes na região. Nestes dez dias de acompanhamento das famílias, foram doados mais de 8.400 refeições, através da cozinha solidária montada em Itamaraju e cerca de 80 toneladas de frutas e verduras, produzidas nas áreas de assentamentos e acampamentos, além de roupas e cestas básicas.

Foto: Coletivo de Saúde do MST/BA.

*Editado por Maria Silva