Jornada de Lutas

Juventude Sem Terra denuncia destruição do meio ambiente com ações nas 5 regiões do país

"Pela Terra e por Soberania!", de 1 a 10 de junho a 13ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra envolveu jovens e crianças de 21 estados
Juventude Sem Terra realiza escracho em multinacional de agrotóxicos em São Paulo. Foto: MST SP

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

Com muita mística, criatividade e ousadia, tendo como lema “Juventude em Luta, pela Terra e por Soberania!”, a 13ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra do MST, promoveu ações em todo o país entre os dias 1 a 10 de junho.

Foram realizadas ocupações, escrachos, denúncias, plantio de árvores, coletas de sementes, encontros, atividades de formação e debates, oficinas, mutirões, doação de alimentos, participação em feira, mobilização dos Comitês Populares, espaços de vivências, entre outras atividades nas cinco regiões do país, envolvendo a juventude Sem Terra de 21 estados.

O conjunto de ações da jornada marcou a Semana do Meio Ambiente, com uma série de denúncias de crimes contra a natureza que afetam os territórios das trabalhadoras e trabalhadores no campo e na cidade. Os jovens do MST também chamaram atenção para a necessidade da preservação dos bens comuns com o plantio de árvores e a produção de alimentos saudáveis, em sistemas de produção agroecológicos, a partir da Reforma Agrária Popular, além de denunciar os ataques do agronegócio aos territórios da Reforma Agrária, das comunidades indígenas, quilombolas, ou seja, dos povos da terra, das águas e da floresta no Brasil.

Foto: MST AL

Fernanda Farias, do Coletivo Nacional da Juventude, ressalta que a Jornada Nacional da Juventude Sem Terra deste ano foi de muita resistência e esperança por dias melhores para os jovens, com ações nos territórios que vão desde o enfrentamento, denuncias e o anúncio do Projeto de Reforma Agrária Popular, baseado na “agroecologia e no enraizamento do Plano Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. Não há alternativa para a juventude se não a organização e a luta a partir dos territórios, (assentamentos e acampamentos). Entendendo que estamos vivendo a pior crise ambiental.”

Ocupações e escrachos

Na manhã desta sexta (10), cerca de 100 jovens do MST dos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo ocuparam a sede da Bayer em Jacareí (SP) e realizaram escracho denunciando a empresa que é líder mundial na produção de agrotóxicos.

A Bayer exporta para o Brasil substâncias proibidas em boa parte do mundo, o que contribui com as estatísticas de que, no país, uma pessoa morre de envenenamento por agrotóxico a cada dois dias e cerca de 20% das mortes são de crianças e adolescentes de zero a 19 anos. Paralelamente, no último período, o governo Bolsonaro liberou 1.629 agrotóxicos.

Atualmente tramita no senado o PL 6299/2002, chamado de pacote do veneno. A medida altera a atual lei, facilitando a venda e uso de substâncias altamente tóxicas para a vida humana e para a natureza.

Bayer, líder mundial em produção de veneno, exporta para o Brasil substâncias proibidas em boa parte do mundo. Foto: MST SP

Em Alagoas a juventude Sem Terra realizou, na manhã do dia 06 de junho, uma intervenção de escracho na porta da Prefeitura de Maceió, no bairro do Jaraguá.

Os jovens levaram entulhos para a porta do prédio, para denunciar o crime ambiental vivenciado pela população da cidade, resultado da ação da mineradora Braskem e o silêncio da gestão municipal.

O crime ambiental já é caracterizado como o maior em área urbana do mundo, e ameaça a vida de cerca de 40 mil pessoas em quatro bairros de Maceió, com o afundamento do solo e tremores de terra, a partir do desgaste da exploração de sal-gema, substância utilizada para a fabricação de soda cáustica e PVC.

Foto: Angelo Amorim

No município de Goiana, em Pernambuco, também no dia 6 de junho, a juventude Sem Terra do Nordeste realizou escracho, denunciando os crimes ambientais e trabalhistas promovidos pela Usina Santa Tereza, localizada às margens da BR-101.

Entre as denúncias estão a monocultura da cana-de-açúcar que predomina na região, que tem aumentado a fome e os casos de morte, com a destruição ambiental e as enchentes, matando várias pessoas. A Usina Santa Tereza tem um histórico de envolvimento com atos de violência, processos judiciais sobre morte de trabalhadores, além da precarização e dívidas trabalhistas.

Foto: Coletivo de Comunicação do MST Nordeste/Levante Popular da Juventude – Paraíba

Nesse sentido, a dirigente da juventude acrescenta que este ano as ações da Jornada foram realizadas na Semana do Meio Ambiente para denunciar a crise ambiental e cobrar a necessidade da Reforma Agrária para a recuperação da natureza e dos bens comuns, garantindo a soberania popular no país, que se encontra em risco devido à política de destruição ambiental e desmonte dos órgãos de fiscalização pelo governo Bolsonaro.

“Gritamos por todas as regiões do país: Juventude em Luta, pela Terra e por Soberania Popular! Porque entendemos que a crise ambiental, face da crise estrutural do capitalismo, nos coloca o papel fundamental de lutar contra o processo de exploração e dominação que avança aceleradamente sob nossos territórios, bens comuns e a soberania dos povos”, explica Fernanda.

Dia Mundial do Meio Ambiente

No Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, a Juventude Sem Terra plantou árvores em vários estados do país. A intenção também foi chamar atenção para a importância da preservação dos bens naturais, como parte das atividades da 13º Jornada Nacional da Juventude Sem Terra e anunciar a importância da Reforma Agrária para recuperar o meio ambiente, aliada à produção de alimentos saudáveis.

Na busca para impulsionar e ampliar a organização e mobilização da Juventude Sem Terra, na construção dos Comitês Populares e fortalecendo coletivos de juventude pelos país, Fernanda pontua que o foco da Jornada de 2022 se concentrou na defesa da vida e da terra, contra o capital por soberania e Reforma Agrária Popular.

“Somente os povos em luta podem construir as rupturas necessárias contra esse modelo de morte. Nesse desafio, nos colocamos em luta para defender os nossos territórios, contra os despejos e o assédio do capital sob a terra e os nossos bens comuns; cuidar da nossa biodiversidade, biomas, combatendo o agro-bio-hidro-negócio; e defender nossa soberania, anunciando o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, afirma Fernanda.

Plantio de árvores pela Juventude Sem Terra nas escolas do campo. Foto: MST SC

Quanto à projeção das lutas da Juventude Sem Terra no próximo período, a dirigente reafirma a necessidade de organização dos coletivos de jovens voltados para a construção dos Comitês Populares de Luta, fortalecendo os debates com a base Sem Terra e buscando ampliar as ações com a juventude urbana. Ela também apontou o papel central da juventude Sem Terra no enraizamento do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, com a implantação de viveiros, hortas, coleta de sementes e experiências de Sistemas Agroflorestais (SAFs), principalmente nas Escolas do Campo nas áreas de Reforma Agrária.

Plenária Nacional

Mais de 60 escolas conectadas simultaneamente com aproximadamente 3 mil crianças e jovens que participaram da plenária. Foto: Arquivo MST PR

Envolvendo os jovens do MST e os educadores e educandos da Reforma Agrária no debate do meio ambiente e da soberania alimentar, na terça-feira (7) pela manhã, a juventude Sem Terra realizou a Plenária Nacional Egídio Brunetto: Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis!

A ação marcou a Semana do Meio Ambiente que contou com estudo, debate e formação, além de diversas ações de plantio de árvores. A plenária da assembleia, que foi transmitida ao vivo pelo YouTube do MST, culminou no plantio de árvores pelos jovens do MST em escolas do campo e territórios da Reforma Agrária pelo país. Foram mais de 60 escolas conectadas simultaneamente com aproximadamente 3 mil crianças e jovens que participaram da atividade, construída a partir dos coletivos e setores do MST.

Plantio de árvores na EEEFM Paulo Tristão Purinha, em Linhares (ES). Foto: MST ES

Mobilização nas Redes Sociais

Na tarde da última segunda-feira, (6), a juventude Sem Terra do MST também ocupou as redes com um tuitaço de mobilização, com a hashtag #PelaTerraContraOAgro, em defesa do meio ambiente e na denúncia ao projeto de morte e destruição da natureza e dos bens comuns do agronegócio. A tag entrou nos TTBr, estando entre os assuntos mais tuitados no Brasil no dia.

Confira mais ações pelas regiões do país:

Regiões

Nordeste

Em Campina Grande, no estado da Paraíba, no dia 4 de junho foi realizado o Encontro da Juventude Sem Terra, que também contou com a participação dos estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco, realizado no Centro de Formação Elizabeh e João Pedro Teixeira, em Lagoa Seca.

A atividade teve início com a participação da juventude no Lançamento dos Comitês Populares de Luta da Paraíba, com a presença de diversos partidos e organizações do campo popular. Também ocorreram oficinas de batucada, ateliê, teatro e sistemas agroflorestais (SAF). O objetivo da atividade foi fortalecer as experiências dos Ateliês Populares e do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”.

O Encontro contou ainda com a participação de jovens do Levante Popular da Juventude, Pastoral da Juventude Rural e Associação Cultural e Agrícola dos Jovens Ambientalistas da Paraíba.

Foto: @mauro_vhieira @andcph @soisbelo

No Extremo Sul da Bahia, entre os dias 3 a 5 de junho, a juventude Sem Terra realizou o 1° Encontro Estadual LGBT Sem Terra da Bahia, com atividades na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, e a participação de 50 pessoas. A programação foi de estudo e organicidade do coletivo LGBT Sem Terra do MST.

Foto: MST BA

No estado do Piauí o Encontro da Juventude Sem Terra ocorreu de 5 a 7 de junho, no assentamento Palmares, em Luzilândia, com atividades organizativas, de formação e lutas na defesa dos bens comuns da natureza, da Reforma Agrária Popular e contra o agronegócio. No dia 07 de junho foi os jovens realizaram ações de embelezamento no assentamento Palmares. E com o apoio da Secretaria de Agricultura plantaram árvores nativas e doaram mudas para a população urbana de Luzilândia, produzidas no viveiro da juventude Sem Terra da região. 

Foto: MST PI

Como parte da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra no Ceará, no dia 7 de junho, a juventude Sem Terra realizou uma ação estadual de caráter simbólico na região do litoral Oeste do estado, no município de Itapipoca (CE). A ação denunciou a instalação de torres de energia eólica no mar, gerando impacto direto ao meio ambiente, que prejudica a vegetação e principalmente aos pescadores, assentados e assentadas da região, que tiram sua renda e alimentação do mar.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, a juventude Sem Terra de Fortaleza, Ceará, também realizou o plantio de árvores na Escola do Campo Filhos da Luta Patativa do Assaré. Na data, os jovens cearenses ainda participaram da Feira do MST na Estação das Artes no cento da capital. A iniciativa buscou fortalecer a agricultura familiar camponesa com a comercialização de alimentos saudáveis dos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária.

No dia 6 de junho, a Juventude Sem Terra do acampamento 1° de Maio, em Sobral (CE) realizou um mutirão de limpeza no campo arena atlético para organização do Campeonato Regional da Juventude no estado. E como parte das ações da Jornada a Brigada Mandacaru, realizou uma aula sobre Agitação e Propaganda, na Escola do Campo Filhos da Luta Patativa do Assaré, no Assentamento Santana da Cal, em Canindé (CE).

Amazônia

De 4, a 6 de junho a juventude Sem Terra dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins realizaram o Encontro da Juventude da Região Amazônica, no acampamento Marielle, município de Itinga (MA). Vivenciando uma situação de conflito envolvendo grandes empresas agro-minerais, porém, com muita resistência e produção, os jovens trocaram experiências, realizaram oficinas e vivências nas roças, viveiros e em diálogos com as famílias.

A juventude da região também participou da Aula Pública do Dia Mundial do Meio Ambiente: “Floresta em pé, Povo vivo!”, na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) em Imperatriz (MA). A atividade marcou o início da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra no país.

Fotos: MST MA

Em em Boa Vista, Roraima, no dia 9 de junho, como parte das ações da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, os jovens do MST participaram acaba de uma marcha para denunciar a militarização da educação nas escolas públicas o estado. Na ação a polícia prendeu um estudante indígena e militante do Levante Popular da Juventude com acusações infundadas.

A marcha foi uma ação conjunta que também teve a participação do Levante popular da Juventude, movimentos sociais e estudantes de universidades do estado.

Sudeste

Na região Sudeste, entre os dias 6 e 10 de junho, a juventude Sem Terra do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo realizaram diversos debates e atividades de formação durante a Escola de Formação da Juventude da região, na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, São Paulo.

Atividade faz parte da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, que este ano tem como tema a crise ambiental e denuncia a catástrofe promovida pelo Capital contra o meio ambiente e os bens comuns.

Foto: Diógenes Rabello

Centro-Oeste

No Mato Grosso do Sul, o início da Jornada da Juventude na região, no dia 3 de junho, contou ação de solidariedade de doação de cestas básicas em três áreas de retomada indígena Guarani e Kaiowá no estado. A entrega de alimentos também cobrou justiça para Alex, jovem indígena assassinado em 21 de maio pelos latifundiários, além da demarcação de terras indígenas no Brasil.

Foto: Acervo do MST no MS

A juventude do MST dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia também fizeram visitas de apoio e articulação em seis territórios retomados de terras indígenas Guarani e Kaiowa. Com danças, rezas e despedidas, a intenção foi buscar o fortalecimento mútuo para enfrentar esse período que o país vive de ataques e aumento da violência contra os indígenas e os povos do campo.

Foto: MST

Sul

Em Sarandi, no Rio Grande do Sul, entre os dias 4 a 6 de junho os jovens do MST realizam o Encontro Estadual da Juventude Sem Terra no assentamento Novo Sarandi, na comunidade Coanol. O encontro integrou as atividades da 13ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, realizada em todo país e marcou o início das atividades de reorganização do coletivo de jovens no estado.

Foto: Dowglas Silva

Em Ortigueira, no Paraná, no dia 2 de junho, a Escola Itinerante Caminhos do Saber, localizada no acampamento Maila Sabrina, organizou um mutirão de coleta de sementes com os educandos da escola. As crianças coletaram sementes de árvores juntamente com seus familiares, entre elas sementes de coco, laranja, poncã, sete copas, mamão, abacate, pitanga, açaí, tamarino, manga, romã e diversas outras árvores. A atividade discutiu a importância das sementes e o plantio de árvores para a recuperação do meio ambiente.

Foto: Comunicação Maila Sabrina

No dia 08 de junho, várias famílias do MST, juntamente com o Coletivo de Juventude da região noroeste do Paraná, nos municípios de Querência do Norte e Santa Cruz do Monte Castelo, realizaram um mutirão de colheita de milho partilhando aproximadamente 20 mil espigas de milho verde (6 toneladas) para projetos sociais do Padre Julio Lancellotti, de São Paulo. A iniciativa partiu de famílias assentadas por meio da Cooperativa de Reforma Agrária Coana, localizada em Querência do Norte. Também foram doadas 30 caixas de batata (7,6 toneladas) e 900 kg quilos de arroz.

No último dia 27 de maio, Dia Nacional da Mata Atlântica e no dia 5 de junho, dia Mundial do Meio Ambiente em todo Sul do país, as famílias Sem Terra também organizaram mutirões de coleta de sementes florestais, como parte das ações do Plano Nacional do MST “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”.

Em Fraiburgo, Santa Catarina, na tarde do dia 06 de junho e manhã do dia 07, professores e estudantes da Escola 25 de Maio, no assentamento Vitória da Conquista, realizaram uma série de atividades sobre a questão ambiental e os desafios da Juventude, reafirmando o compromisso com o meio ambiente. Entre as atividades foram realizadas a coleta e plantio de sementes de Araucária, participação na Plenária Nacional Egídio Brunetto e o plantio de árvores frutíferas nativas.

Foto: MST SC

*Editado por Fernanda Alcântara