Internacionalismo

Campanha de Alfabetização do MST na Zâmbia busca alfabetizar 10 mil camponeses/as

Nesta quinta-feira (8), Dia Mundial da Alfabetização, conheça a experiência da Campanha de Alfabetização e Agroecologia Fred M’membe no país, que já alfabetizou 2 mil zambianos/as
Eastern Province. Foto: Iris Pacheco

Da Página do MST

Nos 38 anos na luta do MST, a educação tem sido uma prioridade, principalmente, a partir do momento em que se percebe a necessidade da educação pública para alfabetização e educação das trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra e dos Sem Terrinhas, nos latifúndios ocupados e conquistados a partir da luta coletiva pela democratização da terra.

Diante da presença das famílias camponesas na luta pela terra há também a necessidade da democratização da educação e do conhecimento para o campo. Assim, desde a sua origem o MST “desenvolveu processos educativos e incluiu como prioridade a luta pela universalização do direito à escola pública de qualidade social, da infância à universidade”, conforme indicado pelo setor de educação do MST.

Nesse sentido, para além das conquistas na área da Educação do Campo logradas no Brasil, com diversas campanhas de alfabetização, implantação de escolas nos assentamentos e acampamentos com educação fundamental, básica e média, até a criação de vários cursos de graduação e pós-graduação, em parcerias com universidades pelo país; o MST também vem desenvolvendo experiências de alfabetização em outros países.

Uma dessas experiências é a Campanha de Alfabetização e Agroecologia Fred M’membe realizada pelos militantes da Brigada Internacionalista do MST na Zâmbia Samora Machel em parceria com o Partido Socialista (SP) do país. A campanha teve início em maio de 2021, mas as articulações se iniciaram ainda em 2019, com a meta de alfabetizar 10 mil camponeses e camponesas zambianos/as.

Entre março e abril deste ano já foram realizadas a formatura de 100 turmas pelo país, alfabetizando aproximadamente 2 mil camponeses e camponesa na primeira fase, nas Província de Eastern, Lusaka e Western, em 22 municípios, sendo a maioria em comunidades rurais.

Até o momento Campanha envolveu diretamente 2.130 pessoas, e de forma indireta foram mais de 5.400 pessoas participando, entre elas candidatos a prefeito do Partido Socialista, vereadores, lideranças locais e a comunidade em geral. A Campanha segue, e entrou na segunda fase durante este ano de 2022, se estendendo para outras três Províncias do país, Muchinga, Northern e Copperbelt. 

Aducadora e militante do MST, Elizabet Conceição, que integra a campanha explica que esta tem tido um papel importante no país, em garantir a condição de cidadãos e cidadãs aos zambianos, pois ainda que seja um país poliglota eles dependem do conhecimento da língua inglesa para ter acesso aos direitos básicos, com saúde e educação.

“A Zâmbia tem 72 línguas, e possuem como língua oficial sete dessas, sendo o inglês uma destas (oficiais). Então, o inglês serve também pra cercear os zambianos dos direitos básicos, como acesso à saúde, à educação. Quando a população vai pra um posto de saúde, a um hospital ou para ter acesso à educação, se o povo não sabe o inglês, não consegue lutar pelos seus direitos básicos. Então, se faz necessário essa campanha aqui. Por exemplo, muitas mães que trabalham na informalidade, vendendo carvão, vendendo verdura, necessitam do inglês pra se comunicar.”

Foto: Brigada Internacionalista Samora Machel

O método utilizado foi baseado no método cubano Sim, eu posso! Mas, contou com uma adaptação baseada no método “to talk, to read, to write the words in the world” (falar, ler e escrever as palavras e o mundo), inspirado em Paulo Freire e criado exclusivamente para essa ação a partir da realidade da Zâmbia. A Campanha segue para sua segunda fase em 2022, onde irá para outras três Províncias do país, Muchinga, Northern e Copperbelt. 

“Então nós construímos, junto com os zambianos e o coletivo nacional de educação do MST, um método próprio do povo zâmbio. Não é só aprender a língua, o próprio método vem também nesse entendimento de que alfabetizar não é só decodificar as palavras, mas é entender o seu lugar no mundo”, pontua a educadora Conceição.

Paralelo à Campanha de Alfabetização e Agroecologia Fred M’membe, a partir de dezembro de 2020, o MST também realizou a Campanha Bicicletas para Zâmbia que se encerrou com um saldo positivo, com a arrecadação de recursos para a compra de 410 bicicletas. A Campanha Bicicletas para Zâmbia foi criada a partir da necessidade de deslocamento de grandes distâncias, em média entre 15 e 30 quilômetros, dos educadores e educandos e a falta de transportes, entre as comunidades e os espaços de realização das aulas.

Foto: Brigada Samora Machel

O trabalho que o MST desenvolve em relação às campanhas e brigadas de alfabetização no Brasil e em outros países não é recente, faz parte da origem da educação no Movimento, e integra as linhas políticas do setor de educação, como um compromisso e valor da organização, que para além da alfabetização dos sujeitos, possibilita que ao se alfabetizar estes também contribuem para a melhoria e transformação da realidade e do mundo onde vivem.

Somente no Brasil até o momento o MST já alfabetizou 50 mil adultos do campo.

Confira mais informações sobre a Campanha de Alfabetização e Agroecologia Fred M’membe AQUI.

*Editado por Fernanda Alcântara