Luta pela Terra

Contando e recontado histórias: conheça a luta da primeira ocupação de terra no Maranhão

Recordando sua formação, organização popular de Vila Conceição exige uma revisão sobre o olhar histórico do território
Há uma reivindicação pelo reconhecimento da luta popular pela terra como referência histórica no território. Foto: Mariana Castro

Por Mariana Castro
Do Brasil de Fato

A data de 16 de julho de 1987 marca o nascimento da primeira ocupação de terra no Maranhão, em território localizado a 30 km de Imperatriz, às margens de uma rodovia federal.

“Nós discutíamos na época, a luta pela terra para os trabalhadores que não tinham terra. Então nós juntamos cerca de 26 povoados, 250 famílias, e decidimos naquela data ocupar o latifúndio da Fazenda Itacira I e II, no município de Imperatriz”, lembra Valdinar Barros, um dos assentados de Vila Conceição.

Começar a fazer novas histórias. A gente só conta a história da descoberta do Brasil.”

Na época, dois anos após o fim da ditadura militar, os tempos eram difíceis. A população era contra e a imprensa local também fazia campanha contra o projeto de assentamento, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Imperatriz, além de outros movimentos populares. 

Famílias como a de Maria Querobina, que estão desde o princípio no local, chegaram a ser despejadas, mas voltaram a ocupar a área da Fazenda Itacira. 

O latifúndio improdutivo pertencia ao grupo Sharp, uma multinacional japonesa que na época tinha como um dos principais acionistas o então presidente José Sarney. 

“Só tinha um boi, e muito capim. É o trabalho que o agronegócio faz. Acabar com a floresta de qualquer forma”, lembra a quebradeira de Coco Maria Querobina lembra o cenário na época.

As transformações no local também estão na memória de Maria Querobina. 

“Quando nós chegamos aqui a primeira coisa foi montar barraco e a segunda foi brocar roça. No dia que a gente saiu já tinha parece que 40 linhas de roça brocada, com a intenção de plantar, como foi plantado”, explica. 

Agora

Hoje, 35 anos depois, mais de 200 famílias fazem do assentamento Vila Conceição referência na produção de alimentos no estado. Elas produzem feijão, milho, arroz, amendoim, mandioca e também criam animais de pequeno porte. A comercialização é feita nas feiras da cidade de Imperatriz. 

“Nessa caminhada conquistamos a criação da nossa associação de produtores rurais e através da nossa associação, conseguimos conquistar água, estrada, casas, crédito habitação, posto de saúde, energia, tanto para nossa vila quanto para os lotes de trabalho para quem já tinha uma casa no seu lote”, afirma Valdinar.

Projeção

Com o protagonismo feminino, a produção destinada à Imperatriz se consolidou ao longo dos anos, modificando o antigo preconceito construído na cidade.

Um dos grandes desafios é a documentação histórica da Vila Conceição. Os assentados lamentam a falta de registros e por isso destacam a importância do apoio de entidades e universidades para preservar a sua memória.

“Hoje a gente está em uma discussão com os professores de história da Unasul para começar a fazer novas histórias. A gente só conta a história da descoberta do Brasil, da libertação dos escravos, não é não? Tem que começar a discutir essa liberdade que nós contribuímos com ela”, defende Maria Querobina, sobre a necessidade de uma revisão sobre o olhar histórico do local para a conquista de mais direitos.

Edição: Daniel Lamir