Reforma Agrária Popular

Conferência discute alimentação saudável e combate à fome

Atividade fez parte da programação do Festival da Reforma Agrária que termina hoje em São Paulo

Da Página do MST

O Festival da Reforma Agrária recebeu na manhã deste domingo (4), a conferência “Pela Alimentação Saudável no Combate à Fome”. A mesa contou com as presenças de Ceres Hadich, da Direção Nacional do MST; Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do governo Dilma Rousseff (PT); Edson Leite, fundador da Gastronomia Periferia; Preto Zezé, presidente da CUFA (Central única das Favelas); e Adriana Salay, historiadora social e fundadora do projeto Quebrada Alimentada.

As falas tiveram como ponto central a reconstrução pelo qual o Brasil deverá passar para sair do mapa da fome.

Nesse sentindo, a análise da ex-ministra partiu do princípio de que o novo governo Lula será um governo de transição. “É preciso começarmos a plantar sementes estratégicas para melhorar o Brasil. Eles [governo Bolsonaro] destruíram as nossas ações intangíveis, o desmonte é profundo. Por isso, é importante termos em mente que a agenda do governo Lula é de reconstrução, mas também de disputa”, disse.

Ainda para Campello, é preciso construir uma agenda de expansão de alimentos saudáveis para viabilizar o acesso e a distribuição de forma igualitária. “Não podemos só ter crédito para plantar soja e cultivar gado, é preciso dinheiro e investimento para plantar comida e para o fortalecimento de programas de plantio e distribuição. Além disso, a agenda de sistemas alimentares é estratégica porque ela também será determinante para o crescimento da economia e para geração de empregos”, afirmou.

Acesso e geração de emprego também é a bandeira levantada por Edson Leite, da Gastronomia Periferia, um projeto social na área de gastronomia voltado para moradores das periferias de São Paulo.

Leite lembrou que qualquer discussão acerca da alimentação saudável passa primeiro pelo combate à fome cotidiana. “Não se discute nada com fome, a nossa linguagem precisa ser facilitada. Para quem tem fome, salsicha é comida. Por isso, não faz sentido discutir o tipo de alimento que as pessoas estão consumindo sem uma política transversal e multidisciplinar, sobretudo, em um país de dimensões continentais como o Brasil”, disse.

Durante a sua fala, o criador da Gastronomia Periférica também lembrou que embora as soluções para o combate à fome no Brasil tenham pontos comuns – como o fato de atingir, sobretudo, a população negra e pobre das periferias – é preciso que a singularidade de cada região seja respeitada para que o combate à fome seja realmente efetivo.

O modo como enxergamos o alimento impacta diretamente na maneira como nos relacionamos com ele”

Foi o que a Adriana Salay, fundadora do Projeto Quebrada Alimentada, salientou em sua fala. “No Brasil nós produzimos uma fome que insiste em permanecer, porque o alimento virou uma mercadoria, se eu não tenho dinheiro suficiente eu não tenho liberdade de escolha. A nossa sociedade é baseada no dinheiro e no lucro, logo, os agrotóxicos, a fome e os ultra-processados são sintomas dessa sociedade”.

Na mesma linha, Preto Zezé falou sobre a importância da montagem das cozinhas solidárias dentro das comunidades e sobre as ações que foram realizadas em parceria com o MST durante a pandemia de Coronavírus como a doação de cestas de alimentos vindos de acampamentos e assentamentos de todo Brasil para mudar essa realidade. “Mais importante que uma articulação que promove o indivíduo, é uma articulação que promove o coletivo, que é o que fazemos aqui, concluiu.

Por fim, Ceres Hadich, da Direção Nacional do MST, lembrou que espaços com as feiras e festivais do MST são espaços que aproximam toda a população do bem-viver do campo que produz e que alimenta, diferentemente do agronegócio que mata, envenena, desmata e expulsa as pessoas de seus territórios.

“Estamos em um cenário de esperança, mas ainda estamos nas garras desse governo que se aproveitou da crise para naturalizar a barbaria e a fome. Por isso, a necessidade de construção de um projeto popular de mudança, de crescimento e de democracia, como o materializado aqui nessa feira”, finalizou.