Encontro Estadual

Encontro Estadual do MST no MA discute papel do movimento na reconstrução do país

Produção de alimentos saudáveis, formação da base, luta pela terra e enfrentamento à violência no campo foram temas centrais
Participação e protagonismo da juventude garante o futuro da organicidade do movimento. Foto: Larissa Lopes

Por Elitiel Guedes e Mariana Castro
Da Página do MST

Com bandeiras erguidas, braços abertos e muita esperança de um novo tempo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais no Maranhão realizou, entre os dias 10 e 12 de fevereiro, seu encontro estadual, no Assentamento Califórnia, município de Açailândia, há quase 700km da capital São Luís.  

O encontro contou com a presença de mais de 200 pessoas, acolhidas nas casas das famílias assentadas, que participaram da luta pela terra e retomam, após a pandemia, as calorosas discussões presenciais em defesa da reforma agrária. 

Durante esses três dias, foram debatidos grandes eixos como a importância da retomada e fortalecimento do trabalho de base, os desafios para a produção de alimentos saudáveis, o papel do movimento no combate à violência contra a mulher, o protagonismo da juventude, a criação da campanha nacional contra a lgbtfobia, a participação político partidária do MST nas eleições e outros. 

A nível estadual, ganhou destaque ainda o tema do combate à violência no campo, com a presença de movimentos e entidades parceiras que fortaleceram o debate, considerando que o Maranhão é um dos estados com os maiores índices de violência no campo.  

O encontro culminou com a posse da nova direção das regionais e nacional do movimento, que antes tinha como representantes do estado Alzerina Montelo e Luís Antônio. Em momento emocionante e cheio de simbologia, a missão de representação nacional foi entregue nas mãos da nova direção, Aldenir Gomes e Júlia Iara.  

“O encontro trouxe várias expectativas para o movimento no Maranhão, como o fortalecimento do trabalho de base nos assentamento e acampamentos, buscando tornar os asseamentos e acampamentos, lugares seguros e agradáveis para a militância, projetando o movimento para outros períodos”, garante Aldenir Gomes, que representa a partir de então o estado do Maranhão na direção nacional.

Em momento especial, mística reforçou a campanha por alimentos saudáveis em todo o país. Foto: Hannah Letícia

Trabalho de base, luta pela terra e a produção de alimentos saudáveis

Para o conjunto da organização e sua militância, o trabalho de base e a luta pela terra devem ser o norte para avançar na produção de alimentos saudáveis para o próximo período. 

Durante o encontro, foi reforçado que o acesso à terra permite a geração de renda com condições de trabalho digno, contrapondo o agronegócio e mostrando que a agricultura familiar e a agroecologia são ferramentas para construção de um novo modelo de agricultura, que valoriza a vida e a terra, e com isso estimula a produção de alimentos saudáveis, como também a preservação do meio ambiente e a defesa dos territórios.

A cada espaço de discussão, o MST-MA fortalece os elementos e produção da luta popular. Foto: Larissa Lopes

Para além disso, o encontro trouxe o debate de que é necessário fortalecer as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, tanto na assistência técnica, na formação, como na inclusão das famílias na comercialização de alimentos saudáveis. 

Outro ponto importante foi a discussão sobre o plano nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, que tem como desafio o plantio de 100 milhões de árvores em todo o país, em defesa da diversificação da produção agroecológica, a apropriação dos conhecimentos tradicionais e a preservação da biodiversidade, por meio de sistemas agroflorestais.

Jornada de Lutas das Mulheres do Maranhão vai pautar o combate à violência no campo. Foto: Hannah Letícia

Enfrentamento à violência contra as mulheres

A noite de sábado (11) foi marcada pela realização da Assembleia das Mulheres Sem Terra, em preparação para a Jornada Nacional de Luta das Mulheres, que acontece de 6 a 8 de março em todo o país, e tem como o lema: “O agronegócio lucra com a fome e a violência. Por terra e democracia, mulheres em resistência!”.

Com uma mística marcante, que lembra os aromas de março, foram debatidas as principais pautas relacionadas ao estado, em especial o combate á violência no campo, que deixa rastros de violência contra as mulheres e meninas de diversas maneiras, tanto física, como psicológica, sexual, patrimonial e moral.

As mulheres Sem Terra definiram que irão organizar processos de escutas e protocolos com o objetivo de construir uma rede de combate, prevenção e acolhimento. Entre os desafios, incluíram ainda a ampliação do projeto Mulheres Guardiãs, para a construção de espaços de estudos frente à ofensiva de preconceito do fascismo e do patriarcado, contra as mulheres e LGBTQIA+.

Para Simone Silva, que compõe a direção estadual, “o nosso maior desafio é fazer um grande trabalho de base, unificando a frente dos quintais produtivos, alimentação saudável, campanhas de distribuição e cultivo de ervas medicinais. Vamos também realizar encontros dos curandeiros da terra para trocar saberes e valorizar a cura através da natureza, organizar cursos em cada território da nossa frente de combate às violências, ao direito aos cuidados, ao alimento sem veneno e a participação na tomada de decisão e da organização do plano de luta”.  

Durante o encontro, movimentos e entidades fortaleceram a união com o MST frente aos conflitos no campo. Foto: Hannah Letícia

Conflitos Agrários no Maranhão

Apontado como um dos temas centrais do encontro, os militantes defendem que os conflitos agrários devem ser combatidos com a presença do estado no campo e a garantia do direitos humanos para os povos. 

O avanço do agronegócio no Maranhão sobre os territórios da agricultura familiar e tradicionais foi amplamente debatido, uma vez que tem provocado o aumento dos conflitos e assassinatos, externalizado por meio de relatos feitos pela militância das regionais, que relembraram assassinatos e casos de violência, denunciando ainda a crescente pulverização aérea por todo o estado.

Foi denunciado ainda que as pautas dos acampamentos e assentamentos seguem envelhecendo em órgãos governamentais como o Incra e o Iterma, que serão cobrados para a garantia de prioridade neste próximo período, seja no campo da judicialização ou no administrativo.

Solar Cultural da Terra, integrado com o Armazém do Campo, é importante instrumento de diálogo entre o campo e a cidade. Foto: Mariana Castro

Unidade campo e cidade

O MST Maranhão pretende avançar no debate sobre soberania alimentar e tem clareza que esse debate não se restringe apenas ao campo. Nesse sentido, os espaços formativos e de vivências deverão ser fortalecidos como o Solar Cultural da Terra Maria Firmina do Reis, o Armazém do Campo de São Luís e Imperatriz e a projeção de outras unidades. 

Os espaços são considerados importantes instrumentos de unidade entre campo e cidade, onde é possível debater pautas sobre alimentação, os agrotóxicos e a democratização do acesso à terra.

Mensalmente, os espaços realizam também feiras da reforma da agrária, espaços para viabilizar debates e reflexões sobre a alimentação que chega na cidade, e como a cidade pode potencializar o fortalecimento de uma matriz de produção como a agroecologia que relaciona a terra à vida.

Sem Terrinha e fruto da luta, Sofia Rodrigues vai cursar medicina em Cuba. Foto: Hannah Letícia

Luta internacionalista

Amparado pelo princípio da luta internacionalista e do exercício da medicina acessível para a classe trabalhadora, com muita emoção o MST do Maranhão realizou, ainda durante o encontro, uma mística de envio da sem terrinha Sofia Rodrigues, formada no Centro de Educação do Campo Roseli Nunes, que está de malas prontas para cursar medicina em Cuba. 

A oportunidade é fruto de uma parceria e solidariedade em defesa da classe trabalhadora rural, firmada desde 1998 entre o MST e o governo cubano para a formação de médicos populares.

Vânia do MST foi candidata a deputada federal do Maranhão e garantiu a ampliação do debate. Foto: Eduardo Moura

Eleições e participação política 

O último ano foi marcado como o pontapé inicial de uma inserção coletiva do MST no processo eleitoral como protagonista em todos os estados, por meio do lançamento de candidaturas de militantes históricos da luta pela terra de vários estados, comprometidas com a construção de um projeto popular para o país.

No Maranhão, o desafio foi encarado com a candidatura a deputada federal de “Vânia do MST”, que em uma campanha propositiva, pautando especialmente o papel das mulheres e o combate aos conflitos no campo, alcançou a marca de 21.761 votos válidos.

Vânia teve participação especial durante o encontro, compartilhando a experiência e refletindo sobre os novos desafios durante a mesa de debate “Governo, Direitos e Participação Popular”, com a presença de amigos e amigas do MST.

Com emoção e esperança, MST-MA realiza posse de nova direção regional e nacional. Foto: Hannah Letícia

Rumo aos 40 anos do MST no Brasil

Neste ano, a realização dos encontros a nível estadual tem um propósito especial em comum: a retomada das bases, o fortalecendo das pautas populares e a organicidade do movimento como um todo, rumo à celebração dos 40 anos do MST no país, que será realizada no ano de 2024.

Nos encontros estaduais, o compromisso de cada militante é reafirmado, com os olhares atentos e as bandeiras em punho para o novo tempo que virá, de luta e esperança por um Brasil melhor para todos, todas e todes. 

*Editado por Fernanda Alcântara