Balanço
Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra mobiliza 23 estados mais o DF
Da Página do MST
A chegada do mês de março sempre traz consigo os aromas das lutas e resistência das mulheres Sem Terra, abrindo o primeiro processo de luta nacional do MST no ano. Em 2023, não foi diferente: de 6 a 8 de março, com o lema: “O agronegócio lucra com a fome e a violência. Por Terra e Democracia, mulheres em resistência!”, as mulheres do MST realizam um conjunto de lutas e ações nos 23 estados do país e no Distrito Federal, além de atividade no continente africano, na Zâmbia.
O conjunto de atividades integra a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que durante três dias mobilizou todas as regiões do país, com acampamentos pedagógicos, ocupações de terras, ações de solidariedade com doação de alimentos e de sangue, feiras com produtos da reforma agrária, plantio de árvores, espaços de formação e debates, e ocuparam as ruas do país, com marchas em parceria com movimentos e organizações populares urbanas e rurais.
Com muita mística e atividades culturais, as mulheres também ocuparam órgãos públicos, como as superintendências do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e institutos de terras estaduais, participaram de negociações com assembleias legislativas, governos estaduais e governo federal, levando as reivindicações das mulheres do campo; e denunciaram empresas que lesam os/as trabalhadoras com o trabalho escravo, deserto verde e altos preços de energia.
As camponesas fizeram ecoar na sociedade as denúncias dos vários tipos de violência do agronegócio que afeta a vida das mulheres e dos povos do campo, das águas e das florestas, com o aumento da fome e da destruição da natureza. E anunciaram a necessidade da implementação de um projeto de Reforma Agrária no país, tendo como base a produção agroecológica e a construção de relações sociais diversas e emancipadas, construindo territórios livres de qualquer tipo de violência e/ou discriminação às pessoas.
“Enquanto mulheres Sem Terra, com as articulações construídas para a realização da nossa Jornada, conseguimos pautar a importância de enfrentar a fome e a violência com ações estruturantes como a Reforma Agrária Popular e a Agroecologia. Mas também mostramos para a sociedade a importância das ações de unidade, com articulação entre vários movimentos populares do campo e da cidade, para avançarmos na luta”, avalia Lucineia Freitas, da direção nacional do setor de gênero do MST.
A Jornada relembra o 8 de Março, Dia Internacional de Luta pelos Direitos das Mulheres, trazendo presente do legado histórico de lutas e resistências das mulheres por direitos e igualdade travadas pelo mundo. A data se popularizou no Ocidente a partir de 1975, com o reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste 8 de março, as mulheres Sem Terra também ocuparam e agitaram as redes com resistência e organização coletiva, com tuitaço e uso da hashtag #8McontraAsViolências em parceria com as camponesas dos movimentos e organizações da Via Campesina Brasil, chegando a ocupar o 6º lugar entre os assuntos do momento no Twitter. A ação das redes denunciou o aumento da violência contra as mulheres e as pessoas em situação de vulnerabilidade, as mazelas do agronegócio e do capital, que despeja famílias de seus territórios, contribui para o aumento das violências, com o uso intensivo de venenos, gera fome, mercantiliza as vidas e explora a trabalhadora e o trabalhador rural.
Denúncia do trabalho escravo
Como parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, em São Paulo, na tarde da quarta (8), dezenas de Mulheres Sem Terra realizaram um protesto em frente à sede da empresa Salton, na capital paulista. Com palavras de ordem e intervenções representando o sangue das/os trabalhadoras/es, o coletivo reforçou a denúncia pública contra as vinícolas ligadas à contratação de mão de obra análoga à escravidão, de trabalhadores nordestinos resgatados na última semana, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul – envolvendo as empresas Salton, Aurora e Garibaldi.
A luta do MST pela democratização da terra e a Reforma Agrária Popular no Brasil, tem se colocado historicamente em contraposição a esse modelo perverso do agronegócio que gera trabalho escravo. Em mais de 39 anos de luta, o MST vem incentivando a organização coletiva das famílias assentadas e a prática da cooperação para a criação de cooperativas de Reforma Agrária, que tem contribuído para a melhoria nas condições de produção e de vida das famílias nos territórios do Movimento; com a produção de alimentos saudáveis e livres de trabalho escravo.
Mulheres foram recebidas com violência em alguns estados
Em pelo menos três estados, Rio Grande do Sul, Pará e Piauí, as mulheres Sem Terra foram vítimas de casos de repressão do aparato policial e de seguranças privados contra as mobilizações da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra nesta quarta-feira (08).
O caso mais emblemático foi registrado em Belém, na capital do Pará, quando as Mulheres Sem Terra foram duramente reprimidas pela Polícia Militar, ao se aproximarem da Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA) para negociarem suas pautas. A PM, sob ordem do presidente ALEPA, utilizou spray de pimenta e força física contra as manifestantes. Pelo menos uma das participantes do ato sofreu convulsões e foi hospitalizada. As camponesas montaram acampamento pedagógico na capital entre 05 e 08 de março.
As camponesas do estado apresentaram pedido do Projeto de Lei (PL) contra a pulverização aérea, que recebido pela presidente da ALEPA em reunião da comissão. No Instituto de Terra do Pará (ITERPA) foi marcada audiência para abril com o governador do estado e secretários.
No Rio Grande do Sul, as mulheres Sem Terra que se deslocavam para o Ato Unificado em Porto Alegre tiveram vários ônibus interceptados em diferentes pontos de chegada na capital gaúcha. A ação orquestrada lembrou a ofensiva da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante as últimas eleições, com vistorias ostensivas a ônibus de eleitores no Nordeste.
Em Teresina, no Piauí, as mais de 500 mulheres do Campo Unitário que tomaram as ruas da capital e fizeram uma ação de denúncia na empresa Equatorial Energia, foram recebidas com tiros na tentativa de reprimir e impedir a denúncia. As mulheres denunciaram o alto custo do preço da luz e o péssimo fornecimento de energia no estado.
Negociações
Na terça-feira (7), mulheres da Coordenação Nacional do MST se reuniram com Fernanda Machiavelli, Secretária Executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. Em pauta, a necessidade de assentamento das famílias acampadas no país, a urgência na retomada de políticas de desenvolvimento dos assentamentos, a garantia de créditos para incentivar a produção de alimentos saudáveis e a reestruturação do Incra para a melhoria de vida das mulheres e das famílias Sem Terra.
As mulheres do MST também se reuniram na segunda-feira (06), com a Ministra da Igualdade Racial do Governo Lula, Anielle Franco, em que reivindicaram o fortalecimento das experiências organizativas e de formação para mulheres Sem Terra.
Lucineia explica que a pauta de negociações com o governo federal seguem até sexta-feira (10), mas que até o momento o governo sinalizou com a criação de programas para as mulheres da agricultura familiar camponesa. “Saímos com o compromisso de que ainda no mês de março o governo possa anunciar o Programa de Organização Produtiva para as Mulheres. E também a proposta de uma chamada pública de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) Mulheres”.
Confira mais ações das mulheres nas cinco regiões do país:
SUDESTE
No dia 08 de março, as mulheres Sem Terra no estado de São Paulo também apresentaram uma pauta de reivindicações dos acampamentos e assentados do estado para o diretor executivo da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), Guilherme Piai. As mulheres apresentaram ainda as demandas das famílias Sem Terra do estado, para a nova superintendente do Incra em São Paulo, Sabrina Diniz. No final da tarde as mulheres do MST se juntaram as mulheres dos movimentos urbanos, na Avenida Paulista, na capital e encerram o dia com protestos contra o agronegócio que lucra com a fome e as violências.
Em Minas Gerais, o acampamento Pedagógico das Mulheres Sem Terra demarca a importância da resistência feminista coletiva para avançar na luta com mais de 500 mulheres. Em cortejo, o Bloco Pisa Ligeiro ocupou as ruas do Aglomerado da Serra, maior favela da capital, festejando a cultura popular e celebrando a unidade entre campo e cidade. Os moradores da localidade receberam 5 toneladas de alimentos, em cestas produzidas pelo MST, com arroz, feijão, farinha, abóbora, mandioca, banana, entre outros alimentos. Além da distribuição de alimentos, o Movimento realizou uma mesa de café da manhã e plantio de árvores.
No Rio de Janeiro, na quarta-feira (08), as mulheres Sem Terra organizam acampamento pedagógico na Cinelândia, com debates, caminhada, audiências populares com o MDA e ato unificado 8M com as mulheres de movimentos e organizações populares da cidade. A Audiência conta ainda com a presença da Deputada Estadual Marina do MST.
As mulheres do MST no Espírito Santo se somaram ao ato público na praça Getúlio Vargas, no Centro de Vitória. Como parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, as camponesas também realizaram uma feira com os produtos da Reforma Agrária.
NORDESTE
Em Alagoas, cerca de 1000 mulheres dos movimentos de luta pela terra no estado organizam desde segunda-feira (06) o Acampamento Dandaras da Terra, no centro de Maceió. A programação marcada por debates, atividades culturais e oficinas, contou ainda com a marcha das camponesas para a superintendência do INCRA na terça-feira. Já na quarta-feira as camponesas se somam à marcha do 8 de março com as trabalhadoras urbanas.
Em Fortaleza, Ceará, cerca de 300 mulheres Sem Terra oriundas dos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária do MST realizam acampamento pedagógico no Centro de Formação Frei Humberto, de 06 a 08 de março. As mulheres também realizam ação de doação de sangue.
Mais de 200 mulheres Sem Terra da regional Chapada Diamantina, na Bahia, se organizaram em marcha para denunciar as impunidades da Companhia de Ferro Ligas da Bahia (Ferbasa), na cidade de Maracás. As mulheres Sem Terra denunciaram que há uma ordem de reintegração de posse, prevista para acontecer nesta quinta-feira (09), na Fazenda Louro, município de Planaltino/BA, que abriga 200 famílias. E denunciaram a impunidade da empresa Ferbasa, que nessa região possui uma grande concentração de terra improdutiva e que não gera empregos.
Desde segunda-feira (06), 500 mulheres do MST, de diversas regiões de Pernambuco, montaram acampamento na Praça do Derby, em Recife, para a mobilização do Dia Internacional de Luta das Mulheres, o 8 de Março. O acampamento contou com uma ampla agenda de atividades, reunindo parceiros e amigos do MST no estado. As camponesas encerram o acampamento participando do Ato Unitário do 8 de Março, com as trabalhadoras urbanas.
Em João Pessoa, na Paraíba, as camponesas participam da Feira de Saberes e Sabores, potencializando a organização produtiva das mulheres Sem Terra e a luta por políticas públicas para a produção de alimentos saudáveis. As trabalhadoras participam ainda do ato unificado do 8 de março na capital paraibana.
Em Aracaju, Sergipe, 08 de março foi marcado por denúncias das mais diversas formas de violências impostas pelo agronegócio. O ato que aconteceu em frente ao Incra, também cobrou da autarquia ações emergências e créditos para as mulheres na reforma agrária.
Na terça-feira, cerca de 250 mulheres Sem Terra ocuparam a capital potiguar, no Rio Grande do Norte, com o Acampamento Pedagógico no Centro Administrativo do Estado. Com muito entusiasmo e animação, as mulheres participaram de atividades de luta em Natal, formação e negociação com o governo do estado, sobre a pauta das camponesas.
SUL
Na terça-feira, com cartazes, bandeiras e faixas, mais de 1.500 pessoas se uniram em uma marcha no centro de Curitiba, Paraná, com movimentos urbanos e indígenas marcham. A ação integra a Jornada de Lutas “Mulheres em resistência, contra todas as formas de violência. Por Terra, Teto e Trabalho, democracia e sem anistia”, em referência ao Dia Internacional da Mulher, 8 de março. Após a marcha, uma comissão de 150 mulheres participou de uma audiência com representantes do poder público do estado. As mulheres também realizaram a partilha de 17,3 toneladas de alimentos, produzidos nos acampamentos e assentamentos do MST. Arroz, feijão, fubá, mandioca e batata estavam entre os mais de 850 kits entregues, além de 1800 litros de iogurte, produzido pela Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran), de Arapongas (PR).
Em São Miguel do Oeste, Santa Catarina, nesta quarta-feira (08), as mulheres catarinenses realizaram atos de protestos, ações de solidariedade e diálogo com a sociedade. As mulheres também entregam pauta de reivindicações ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no estado. As ações envolveram mulheres de diferentes movimentos sociais, unindo a força feminina do campo e da cidade.
CENTRO-OESTE
Na capital Goiânia, Goiás, nesta quarta-feira (08), as mulheres trabalhadoras realizaram a marcha de lutas das mulheres, que culminou em ato público. O ato contou com a participação do MCP, MDT, CPT, FETRAF, FETAEGO. As atividades aconteceram entre o dia 07 a 08 de março, com vários debates e aprendizagens entre as camponesas e trabalhadoras urbanas.
Entre os dias 07 e 08 de março, as mulheres Sem Terra organizaram um acampamento pedagógico no Distrito Federal e Entorno, com o plantio de 200 mudas no Bosque da Resistência, para pautar a luta pela terra. A atividade ocorreu no acampamento 8 de Março, em Planaltina, com debates, estudo e oficinas entre mulheres de diversas organizações populares. Na tarde de quarta-feira, também foram realizadas doações de alimentos saudáveis e participaram da Marcha das Mulheres 8M Unificadas DF e Entorno, em Brasília até o Palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal, para exigirem políticas de combate à violência contra mulher.
Sob o lema “Pela vida das mulheres e o fim do feminicídio em MT: em luta pela democracia e pelo bem viver. Contra o fascismo, sem anistia!”, um conjunto de mulheres, coletivos feministas, movimentos populares, organizações políticas e sindicatos realizaram o ato público no dia Internacional das Mulheres, na capital mato-grossense, Cuiabá.
Em Porto Velho, Rondônia, nesta terça-feira (07), as mulheres da Via Campesina realizam marcha até a frente do CPA (sede do governo do estado), como o lema “Camponesas da Amazônia – Em luta pela vida e soberania, contra a fome e a violência”. As camponesas denunciam o sistema patriarcal, as violências, e defendem a preservação da Amazônia e a soberania alimentar.
No Mato Grosso do Sul, neste 8 de março, a ColetivA Sempre Vivas, grupo formado por varias organizações, partidos políticos e sindicatos ocuparam a praça central da capital, Campo Grande, organizadas em luta, campo e cidade, levantando bandeiras e a cultura e resistência, por igualdade de direitos e contra as violências. A Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra seguiu com entrega de pauta e audiência com as Subsecretaria de Políticas Públicas LGBT, Subsecretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, Subsecretaria de Políticas Públicas para Pessoas Idosas e Subsecretaria de Igualdade Racial, com o objetivo de fortalecer as relações e articulações futuras. As atividades no estado seguem com o Encontro Estadual das Mulheres Sem Terra até sexta-feira (10), com debates e trocas de experiências entre as mulheres do MST e o campo unitário.
AMAZÔNIA
As mulheres Sem Terra do Maranhão marcharam com muita ousadia rumo ao Palácio dos Leões para apresentar as pautas e demandas prioritárias do campo ao Governo do Estado. As companheiras foram recebidas pelo Felipe Camarão, vice-governador, pela secretária de direitos humanos Lília Raquel e pelo secretário de agricultura familiar Bira do Pindaré.
De 06 a 08, as mulheres do campo, das águas e florestas, estiveram reunidas no acampamento pedagógico em Boa Vista, em Roraima. Nesta quarta-feira (08), as militantes saíram em marcha em defesa da vida das mulheres, denunciando todas as formas de violências impostas às mulheres.
Em Palmas, Tocantins, as mulheres Sem Terra participaram da Feira das Mulheres do Campo, das Cidades, Águas e das Florestas, realizada de 7 a 8 de março.
Zâmbia
Do lado de lá do Atlântico, de 6 a 7 de março, na Zâmbia, um grupo de mulheres zambianas do Partido Socialista, realizaram atividades formativas sobre o 08 de março, marcado pela participação delas em diversas atividades, em diferentes localidades do país, incluindo uma Marcha pela capital, Lusaka. As ações, com formação, reflexão e a mística as mulheres Sem Terra contou com a participação das mulheres da Brigada Samora Machel do MST no país.
Confira abaixo, mais imagens da Jornada das Mulheres Sem Terra pelo país:
*Editado por Rafael Soriano