Reforma Agrária Popular

JURA/ESALQ se enraíza no campus Luiz de Queiroz, em Piracicaba (SP)

Artigo ressalta importância da Jura na ressignificação acerca do debate da Reforma Agrária nas universidade e sua contribuição na segurança alimentar e regeneração do natureza
Comunidade acadêmica da ESALQ-USP comemora dez de JURA no campus. Foto: ESALQ/USP

Por Prof. Dr. Paulo Eduardo Moruzzi Marques
Para Página do MST

O plantio de uma muda de Pau-Brasil no campus da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), em Piracicaba/SP, em comemoração aos dez anos de realização das Jornadas Universitárias em Defesa da Reforma Agrária (JURA) representa uma marca importante da consolidação de um espaço de debates e reflexões nesta escola sobre um modelo de desenvolvimento fundado em agroecologia e justiça social.

O Pau-Brasil é uma árvore nativa das florestas tropicais brasileiras, tendo sido motivo da inauguração do uso do termo “madeira-de-lei”, na medida em que a Coroa Portuguesa estabeleceu legislação restritiva pioneira para sua exploração, considerando seu alto valor em razão de múltiplos usos para fabricação de mobiliários de grande qualidade e de tintura avermelhada muito apreciada. Sua exploração no primeiro período colonial foi intensa, com tamanha importância que seu nome passa a identificar nosso país. No entanto, esta exploração desmedida até data relativamente recente levou em 2004 à sua inscrição entre espécies arbóreas ameaçadas de extinção. Portanto, é uma árvore que necessita proteção, diante de uma ocupação territorial no Brasil bastante negligente com a natureza e cruel com as populações originárias e com os trabalhadores(as) em geral.

Esta necessidade de proteção nos remete a uma reflexão sobre a ressignificação da Reforma Agrária. Sua implantação passa a ser não apenas meio de assegurar maior justiça social para a construção de um país mais democrático, mas também uma forma de transformar a matriz produtiva agropecuária brasileira. A ideia consiste em assentar uma produção agroalimentar familiar em bases agroecológicas capazes de oferecer segurança e soberania alimentar graças à oferta suficiente e constante de alimentos saudáveis para toda a população brasileira.

De outra parte, esta iniciativa de comemorar os dez anos de JURA/ESALQ representa a intenção de apoio sem hesitação ao Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, com meta de plantio de 100 milhões de árvores em dez anos, levado adiante pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As ideias deste plano se vinculam à referida ressignificação da Reforma Agrária, na medida em que seus objetivos destacam o fomento à educação ambiental com vistas a regenerar a natureza como meio essencial para a produção sustentável de alimentos saudáveis, com bases em cooperação, solidariedade e cuidados com o bem comum.

Enfim, o apoio universitário a este plano agroambiental do MST corresponde também a um dos objetivos centrais da realização da Jura, ou seja fortalecer diálogo e cooperação entre a universidade e o movimento social, especialmente aquele por transformação da injusta estrutura agrária brasileira. Desta forma, trata-se de uma ação importante com vistas a marcar a Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária, no dia 17 de abril, recordando o fúnebre massacre de Eldorado do Carajás em 1996. Com efeito, a Via Campesina Internacional estabelece que estas lutas camponesas devem se orientar pelos princípios de soberania alimentar, capazes de fornecer um modelo alternativo agroalimentar de enfrentamento das crises da fome, do clima e da ecologia.

*Da ESALQ/USP

**Editado por Solange Engelmann