Feira Nacional

“Não basta acabar com o desmatamento, é preciso recuperar áreas degradadas”

Márcio Astrini destaca a importância de iniciativas de plantio de árvores no país durante Feira Nacional da Reforma Agrária
Ao longo da feira, foram doadas mais de duas mil mudas e cerca de 100 quilos de sementes. Foto: Poliana Souza

Por Mariana Castro
Da Página do MST

Dentre as tantas ações, durante a 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária os visitantes puderam conhecer a prática de viveiros agroecológicos implantada nos assentamentos e acampamentos do movimento, uma das ações concretas do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, que tem o desafio de plantar 100 milhões de árvores no país.

Entre a diversidade de produtos e alimentos frutos da luta por terra, o Viveiro Agroecológico doou mudas e sementes ao longo de todo o evento, como canafístula, cedro, moringa e espécies variadas de milho crioulo.

Para além do ato de plantar, o MST reforçou o diálogo com a sociedade sobre a crise ambiental e combate à fome. “Estamos trazendo um acúmulo de três anos do plano nacional como uma forma de dialogar com a sociedade, trazendo o debate sobre a crise ambiental e como ela afeta não apenas os nossos assentamentos e acampamentos, mas toda a população”, explica Bárbara Loureiro, coordenadora do Plano Nacional. 

Plantio de árvores e crise ambiental 

O Viveiro Agroecológico doou mudas produzidas nos assentamentos e acampamentos do MST. Foto: Poliana Souza

À frente do Observatório do Clima, coalização brasileira que reúne diferentes organizações da sociedade civil focadas na proteção ambiental, Márcio Astrini destaca a importância de iniciativas de plantio de árvores no país.     

“Programas de plantio de árvores e recuperação de áreas degradadas são essenciais. Temos vários estudos provando que não basta apenas acabar com o desmatamento, precisamos recuperar várias dessas áreas, por inúmeros motivos, um deles é porque as florestas são meios extremamente eficientes de captar carbono, ou seja, aliviar muito o problema das mudanças climáticas”, explica. 

Durante o governo Bolsonaro foi implantada no Brasil uma política antiambientalista, com o desmonte de políticas públicas de preservação e monitoramento, com um aumento de 59,5% do desmatamento na Amazônia e uma queda de 38% no número de multas aplicadas pelo IBAMA. 

“O que o governo Bolsonaro fez em relação ao meio ambiente não foi omissão, foi um plano de destruição muito bem arquitetado e colocado em prática. Foi sabotagem. Esse é o nome e essas pessoas precisam pagar pelo que fizeram. Eles destruíram tudo o que existe de governança ambiental”, denuncia Astrini.

Em contraponto ao desastre, o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis do MST é reconhecido como tecnologia para o desenvolvimento produtivo, a recuperação ambiental e geração de renda. 

“O plantio de árvores também tem uma função econômica muito grande, pode gerar postos de trabalho e gerar renda para a população em uma ação que faz um bem coletivo. O programa do MST é muito acertado, digno de elogio e está alinhado com a luta global pela preservação climática e do meio ambiente no nosso planeta”, completou. 

“Lucinha” é coletora de sementes no plano e trabalha a recuperação da bacia do Rio Doce. Foto: Poliana Souza

Viveiro Agroecológico na Fenara

A réplica de um viveiro agroecológico foi instalada na feira nacional, com a presença de coletores de sementes e produtores de mudas de diversos estados onde são desenvolvidas ações de reflorestamento.  

Uma das coletoras de mudas e sementes presentes é Lúcia Martins, do assentamento Ulisses Oliveira, de Minas Gerais, que compõe um coletivo de mulheres que trabalham a recuperação da bacia do Rio Doce, após o crime ambiental ocorrido no município de Mariana.  

“Para mim trazer uma mudinha que foi coletada por uma maritaca e saber que ela vai para esse brasil à fora, para uma agrofloresta ou para reflorestar uma nascente é uma alegria muito grande. Sabemos que a recuperação do Rio Doce não é para nós, é para as futuras gerações, mas estamos trabalhando para isso, para que a gente tenha um mundo mais sustentável”.

Ao final da feira serão doadas duas mil mudas e cerca de 100 quilos de sementes dos territórios da reforma agrária, que serão mapeadas por meio do aplicativo Arvoredo, onde qualquer pessoa ou coletivo que queira se somar à ação de reflorestamento pode indicar em que lugar plantou a muda ou semente e se tornar também um agente de esperança. 

*Editado por Fernanda Alcântara