Preservação Mata Atlântica

Acampamento Dom Tomás Balduíno recebe menção honrosa pela semeadura da Juçara no PR

Ação homenageada faz parte do Plano Nacional Plantar Árvores do MST, e foi concedida na Assembleia Legislativa do Paraná pelo deputado Goura
O camponês Josué Evaristo Gomes, a camponesa Graciely Gomes e a filha do casal receberam a homenagem, representando as famílias do MST acampadas no estado. Foto: Rafael Bertelli/mandato Goura

Por Jade Azevedo/Setor de Comunicação e Cultura do MST PR
Da Página do MST

No início da sessão da última terça-feira (11), a tarde foi diferente em Curitiba. A Assembleia Legislativa recebia no plenário o camponês Josué Evaristo Gomes, sua companheira Graciely Gomes e a filha Nicoly Gomes, que representaram todas as famílias do MST acampadas no estado do Paraná, para homenageá-los pelo evento de semeadura de aérea com 4 toneladas de sementes da palmeira Juçara, conhecida como o açaí da Mata Atlântica, ameaçado de extinção. A semeadura ocorreu no acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu (PR).

Josué contou que estar na ALEP representando o MST para receber a menção honrosa foi algo que ele jamais havia imaginado. “Cresci vendo e ouvindo o movimento ser atacado a todo momento sem levar em consideração as importantes ações realizadas por nós trabalhadores Sem Terra. Por isso receber essa homenagem, pelo Movimento nos dá mais ânimo para continuarmos realizando ações que vão fazer a diferença na vida das pessoas, seja na luta pela terra, seja nas campanhas de solidariedade ou no Plano Nacional de Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, entre outras atividades tão importantes que o MST desenvolve”, ressalta.  

Família dos camponeses Josué Evaristo e Graciely durante homenagem. Foto: Rafael Bertelli/mandato Goura

Dom Tomás Balduíno é uma das comunidades localizada em Quedas do Iguaçu, região centro-sul do estado, onde hoje vivem mais de 2,5 mil famílias. Esta mesma área, antes utilizada por uma empresa de monocultivo de pinus e eucalipto, sofria com a degradação. Um cenário comum de muitos espaços que hoje são acampamentos e assentamentos da reforma agrária, que com muito trabalho ressignificam esses locais e o transformam em espaços de produção de alimentos e de preservação do meio ambiente.

Através do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, iniciado em 2020, as famílias camponesas têm o objetivo de plantar 100 milhões de árvores em dez anos nas escolas do campo, cooperativas, centros de formação técnica, praças, avenidas e nas cidades. E foi o que a comunidade Dom Tomás Balduíno fez no último dia 7 de junho, com a semeadura de 4 toneladas de Juçara em uma área de 67 hectares de reserva legal da comunidade, nas encostas do Rio Iguaçu e da represa da Usina de Salto Osório. 

Foto: Rafael Bertelli/mandato Goura

A ação de semeadura foi organizada pelo MST em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/PR), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Itaipu Binacional, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia de Laranjeiras do Sul (Ceagro-PR), Cooperativa de Crédito da Reforma Agrária (Crehnor), Agroecology Fund (AEF), Instituto Água e Terra (IAT/PR), Prefeitura e Câmara de Vereadores de Quedas do Iguaçu.

Todas as instituições receberam menção honrosa na Assembleia que também foi espaço para o anúncio do projeto de lei, criado pelo Deputado Goura em defesa à cultura da Juçara. “Protocolei hoje, um projeto de lei que prevê, aqui no estado do Paraná, a valorização da palmeira Juçara e suas práticas culturais associadas.  Nós queremos que a Mata Atlântica, esse bioma que nós habitamos, seja repovoada com as palmeiras Juçara trazendo benefícios ecológicos importantíssimos, alimento para a fauna local”, ressaltou.

A Mata Atlântica está entre os biomas mais afetados pelo desmonte de políticas públicas de proteção ambiental e de afrouxamento das normas ambientais ocorridos durante o último governo. Segundo o novo atlas divulgado no relatório da SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional Pesquisa Espacial (INPE), em maio deste ano, o Paraná é o terceiro estado do país que mais destrói o bioma. Foram 2.883 hectares de corte ilegal em 2022, deixando o estado atrás apenas de Minas Gerais e Bahia. Em todo o país, mais de 20 mil hectares de floresta foram destruídos no ano passado.

Tarcísio Leopoldo, da Direção Estadual do MST e morador da comunidade Dom Tomás Balduíno, comentou que o projeto de lei vai ser fundamental para avançar não só no debate e promoção da cultura, mas também na conscientização ambiental dentro do estado. “Mesmo tendo conhecimento acadêmico sobre a importância da espécie dentro do bioma, ainda temos ações muito pequenas para o tamanho que o tema exige. O projeto de lei vai dar um respaldo político legal para as instituições e para o estado fazer ações, gerar mais debate e promover o fortalecimento das comunidades que já fazem atividades, para que desenvolvam a cadeia produtiva, metodologias para projetos de conscientização”.

Josué ressalta que o projeto de lei vai incentivar as famílias tradicionais que hoje já fazem o trabalho da preservação da palmeira de forma voluntária, como ele e outras famílias da comunidade. “Sem nenhum ou muito pouco incentivo, mas pela importância da espécie fazem um lindo trabalho na preservação e proliferação da espécie”.

Ele trouxe também o exemplo do litoral do estado que planta e organiza eventos em torno da cultura da Juçara, “todas com objetivo de tornar a espécie abundante na região, levando alternativas de renda para as famílias e em um futuro próximo, tirar a espécie da lista das ameaçadas de extinção”, conta.

O evento terminou com todos experimentando o açaí da Juçara, no espaço cultural da Assembleia Legislativa onde foi montada uma mesa farta com suco, polpa, sorbet, picolés e geleia de Juçara, produzida pelas famílias que fazem parte do coletivo Sabores da Agrofloresta, uma cadeia produtiva com o intuito de promover a preservação das florestas e resgatar a identidade cultural das frutas nativas, projeto desenvolvido pelo Laboratório Vivam de Sistemas Agroflorestais, da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS) e os grupos agroecológicos da região.

*Editado por Solange Engelmann