Meio ambiente

“Quem mais sofre com os impactos da crise climática é a classe trabalhadora”

Espaço de debate no Congresso de Agroecologia, reafirmou o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, como ação necessária frente a crise ambiental
MST participa de atividades do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia, no RJ. Foto: André Gouveia

Por Wesley Lima
Da Página do MST

No Barracão Contra os Agrotóxicos e Transgênicos e Tenda Rachel Carlson, do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), o Movimento Sem Terra, em parceria com a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, realizou na manhã desta terça-feira (21), um espaço de debate sobre o tema “Por Reforma Agrária Popular Produzir Alimentos Saudáveis”.

A atividade aconteceu no Passeio Público, na cidade do Rio de Janeiro, e contou com a presença de Marina dos Santos, deputada estadual (PT-RJ), e Maíra Santiago, do MST em Minas Gerais e integrante do Coletivo Nacional do Plano “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”. Essa foi a primeira de um conjunto de atividades formativas, que o MST contribui diretamente, com o objetivo de posicionar a Reforma Agrária Popular na construção da agroecologia.

O espaço de discussão reuniu os participantes do CBA e provocou uma reflexão coletiva sobre as atuais crises do capital, com foco nos impactos da crise ambiental nas mudanças climáticas e reafirmou a necessidade de ações em torno da conservação ambiental, como a construção do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”.

Deputada estadual (PT-RJ), Marina dos Santos. Foto: André Gouveia

A deputada Marina explicou que vivemos um momento de crise climática e “precisamos falar da importância de se ter um plano que pense de maneira estratégica o plantio de árvores e a produção de alimentos saudáveis”.  

E complementou: “nós estamos desde os territórios, vivendo uma série de crises, que dialoga com o conjunto das populações do campo e da cidade, mas também com a população mundial. Nós não podemos deixar de olhar para as crises e como elas tem afetado o povo brasileiro. Vivemos um aprofundamento da crise econômica, uma crise de saúde, com ciclos pandêmicos, uma profunda crise social, com o acirramento da fome”, disse a deputada.

A luta contra a fome continua ocupando o centro das táticas do momento político, segundo Marina. Atualmente 33,1 milhões de pessoas convivem com escassez de alimentos, desse total, 10% encontram-se no estado do Rio de Janeiro. “Os dados só evidenciam a profunda desigualdade socieconômica e outros problemas de ordem política e sanitária no país”, afirma.

Nessa mesma linha, apontando a ausência de políticas públicas para se pensar ou articular processos que freiem a crise climática, Marina destacou que “quem mais sofre com os impactos das crises, em especial da crise climática, é a classe trabalhadora”.

“São os trabalhadores os atingidos diretamente com as mudanças bruscas no clima, com as fortes chuvas, com as ondas de calor. Porque a nossa classe, em sua maioria, vive em situações precárias, com ausência de direitos básicos e em situação de vulnerabilidade. Por isso, é fundamental olhar para a raiz dos problemas e estruturar ações emergenciais.”  

Para a deputada, o debate sobre a crise climática é importante no Congresso Brasileiro de Agroecologia, porque o Congresso possibilita a discussão e o planejamento coletivamente de ações, que articulem o conhecimento acadêmico, com as políticas públicas.

“Neste cenário, um dos desafios que temos colocado como Movimento Social e, que articula o conjunto das políticas públicas, é a necessidade de construir a soberania alimentar. Precisamos avançar em um conjunto de ações que nos possibilite pensar a soberania alimentar, a partir da partilha dos bens da natureza, pensando em quem produz, como produz e para quem produz. Assim, pensar com prioridade como vamos construir uma nova matriz tecnológica de produção”, finalizou a deputada.

Plantando árvores em todo o Brasil

O MST lançou em 2020 o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, com o objetivo de plantar, em dez anos, 100 milhões de árvores em todo o país. Maíra Santiago conta que já foram plantadas mais de 20 milhões de árvores e foram construídas um conjunto de iniciativas, como a construção de 30 viveiros, a organização coletivos de coleta sementes e diversos espaços de debate sobre a crise climática. “O nosso Plano viabiliza a produção de árvores, o seu plantio e a produção de alimentos saudáveis”, explicou.

Fotos: André Gouveia

De acordo com Maíra, o plantio de árvores é uma ação que precisa formar consciências em torno do tema ambiental e sobre a atual conjuntura climática. “Nós queremos plantar 100 milhões de árvores, mas também formar 100 milhões de pessoas na perspectiva da consciência ambiental. É nesse sentido que o MST se coloca, para defender nossos territórios, mas também para denunciar essa crise ambiental, plantando árvores, produzindo alimentos agroecológicos e provocando o conjunto da sociedade a construir essa ação conosco”.

Ela explicou que o Plano tem atuado a partir de alguns eixos de trabalho. O primeiro deles é o produtivo, construído com a finalidade de atuar no fortalecimento da produção de alimentos, com base na cooperação, agroindustrialização, fortalecimento do conhecimento ancestral e na geração de renda para o trabalhador do campo.

Maíra Santiago, do MST em Minas Gerais. Foto: André Gouveia

O segundo eixo é o da formação, que tem como base estruturar iniciativas formativas e educacionais que possam atuar na “batalha das ideias”, formando uma massa de trabalhadores e trabalhadoras que possam entender o atual estágio de acumulação do capital, sua ofensiva contra os bens comuns da natureza e apontar desafios práticos que precisam ser incorporados na construção das lutas em defesa do meio ambiente.

Outro espaço de trabalho do Plano é a comunicação e a sistematização. A partir deste eixo o objetivo é garantir ações de sensibilização e promoção do plantio de árvores, divulgando iniciativas, organizando novos processos e dialogando com o povo brasileiro sobre os impactos e os responsáveis pela crise ambiental.

MST no CBA

Para o MST, a presença no CBA é fundamental para debater com as demais organizações sociais a importância da luta pela terra e pela Reforma Agrária, na garantia da produção de alimentos saudáveis para o povo brasileiro, combatendo a fome e gerando renda aos camponeses e camponesas.

O Movimento está participando de um conjunto de atividades formativas, porém estará presente também em espaços permanentes de exposição de experiências e produtos agroecológicos.

O evento, que teve início nesta última segunda-feira (20), conta com um conjunto de atividades e ações programadas até quinta-feira (23), na região da Lapa.

*Editado por Solange Engelmann