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Caminhada na Natureza reúne mais de 400 pessoas em assentamento do MST, no PR

A atividade também fez parte das festividades de 25 anos do assentamento Contestado
O assentamento está localizado nos limites da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, unidades de conservação que mais protegem os Campos Gerais do Paraná. Foto: Juliana Barbosa/MST-PR 

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST PR
Da Página do MST

Mais de 400 pessoas percorreram o trajeto de cerca de 10 km durante a 3ª Caminhada na Natureza realizada no assentamento Contestado, na Lapa, Região Metropolitana de Curitiba, neste sábado (2). A diversidade de atletas profissionais e amadores veio de mais de 20 cidades, organizados em caravanas e coletivos.

A atividade faz parte das festividades dos 25 anos da comunidade, celebrado também no último domingo (3). Um dos pontos altos do chamado ‘Circuito Contestado’ foram as belezas naturais do assentamento: a caminhada passou por uma das cinco cachoeiras, formada por um afluente do Rio Iguaçu, que passa ao lado da comunidade. Alguns trechos também atravessaram matas de araucária e da reserva florestal presente nos 3.200 hectares do assentamento. A área está localizada nos limites da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, unidades de conservação que mais protegem os Campos Gerais do Paraná. 

A caminhada também passou por lotes de famílias assentadas, pela Cooperativa Terra Livre, Casarão Cultural Contestado, escolas municipal e estadual e da Unidade de Saúde e horto medicinal do assentamento. Por ser parte da festa dos 25 anos do assentamento, os visitantes também puderam aproveitar uma Feira com produtos da Reforma Agrária, Culinária da Terra, café colonial, torneio de futebol e muita música. 

“A ideia da caminhada é aproximar o público urbano, que é adepto de práticas na natureza. Também para trazer as pessoas pra conhecer a produção, as belezas naturais, a organização e os vários espaços coletivos do assentamento como um todo”, conta Dalvan Mallmann, morador do assentamento, integrante da organização da Caminhada e trabalhador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), órgão que realiza o evento em todo o estado.

A caminhada passou por uma das 5 cachoeiras, e por trechos de reserva florestal presentes nos 3.200 hectares da comunidade. Foto Juliana Barbosa/MST-PR 

Participantes foram surpreendidos pelas belezas naturais

Elton Luiz Meduna Rodrigues e a mãe, Maria de Lurdes, moram em Curitiba, a 70 quilômetro da comunidade, e costumam fazer passeios para conhecer belezas naturais. Eles não conheciam o assentamento e se surpreenderam com o que encontraram: “Achei muito legal, gostei bastante do espaço, muito bonito. O passeio está super agradável e o tempo está ajudando. A cachoeira é bem bonita, aproveitamos pra tirar umas fotos. A gente é suspeito porque gostamos muito, pra nós é uma satisfação fazer um passeio desses com uma galera tão legal”, contou Elton. 

Vencidos 2 quilômetros do trajeto, dona Maria de Lurdes estava animada para seguir os outros 8 que faltavam: “É lindo, amei. Eu amo a natureza. É minha primeira vez aqui e está valendo a pena. Parabéns pra quem organizou e deu esse privilégio da gente participar de um passeio tão gostoso de fazer”. 

Luciana Coelho Fabianski, o esposo e seus três filhos. Foto: Juliana Barbosa/MST-PR 

Uma camiseta preta estampada com uma árvore branca identificava o grupo da família Fabianski, formado por várias gerações e níveis de parentesco. Luciana Coelho Fabianski era uma das 12 integrantes do grupo, e veio com três filhos, nora, marido, irmã e sobrinha, todos moradores da área urbana da Lapa: “A gente gosta bastante por poder estar junto e principalmente por estar na natureza. Moramos mais no centro da cidade, então não tem muito contato. Ela [filha pequena] ficou faceira vendo os bichinhos, vaquinhas, ela adorou bastante”, contou. 

Tatiane Mika faz parte do grupo de mulheres “Pangapé”, que chamava atenção ao longo da caminhada pela cor laranja da camiseta e também pelo nome estampado. A escolha do nome foi uma brincadeira relacionada ao nome da comunidade onde moram, distrito de Pangaré, em Quitandinha. “A gente adorou o trajeto, porque não foi muito pesado, adoramos a cachoeira. O diferencial quando a gente vai nos lugares é ver coisas diferentes. A gente gosta muito de conhecer os lugares e as histórias, por isso adoramos o casarão também”. 

O grupo de mulheres Pangapé, de Quitandinha, também participou da caminhada. Foto: Juliana Barbosa / MST-PR 

Projeto Caminhadas

O projeto Caminhadas na Natureza Paraná é coordenado pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) e executado em parceria com as prefeituras. O objetivo é fomentar a geração de renda para a agricultura familiar e o desenvolvimento do turismo rural. Em 2023 foram realizadas cerca de 120 caminhadas em todo o estado. 

Foto: Juliana Barbosa / MST-PR 

25 anos de avanço na produção agroecológica e desenvolvimento local 

A área onde hoje está localizado o assentamento era uma propriedade improdutiva, com dívidas e histórico de trabalho escravo. A ocupação ocorreu em 07 de fevereiro de 1999, e hoje é local de moradia e produção de alimentos saudáveis para 160 famílias. 

“Em 1999 ninguém tinha casa, todo mundo vivia em barraco de lona preta. A gente não tinha escola. […]. Pra quem não tinha nada, a gente já tem um pouquinho e queremos mais. No começo eram 108 lotes, hoje são quase 200 casas construídas na comunidade, porque os filhos foram ficando. Aqui é um lugar bom para viver”, contou emocionada a moradora e coordenadora do assentamento Tânia Bagnara, durante o ato de comemoração de aniversário, neste domingo (3). 

Mais de 700 pessoas participaram do segundo dia de festa, que ocorreu no domingo (3), entre elas o superintendente do Incra-PR, Nilton Bezerra Guedes; o coordenador da Terra de Direitos, Darci Frigo; além de vereadores/as e representantes de deputados/as. A comunidade também recebeu uma placa de menção honrosa da Assembleia Legislativa do Paraná, oferecida pelo deputado estadual Professor Lemos (PT). 

Placa de menção honrosa concedida pela ALEP em homenagem à comunidade. Foto: Ana Clara Lazzarin/MST-PR

O Coletivo de Mulheres da comunidade participou da feira de alimentos que ocorreu nos dois dias de festa. Foto: Juliana Barbosa/MST-PR 

Os avanços foram muitos para garantir acesso aos principais direitos básicos e serviços essenciais à vida humana: o espaço comunitário é formado por uma Unidade Básica de Saúde, com horto medicinal e atendimento com terapias alternativas da saúde popular, um campo de futebol e o Centro Cultural Casarão. A educação também ganha espaço central na comunidade, com uma escola municipal, um colégio estadual do campo, e a Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), que oferece cursos de nível técnico e superior para beneficiários da Reforma Agrária.

O bolo de aniversário foi preparado pelas camponesas assentadas e passou de 2 metros de comprimento
A banda Arte em Movimento, composta por jovens filhos de assentadas/os, se apresentou durante a festa

O churrasco foi o prato principal do almoço de domingo. Fotos: Ana Clara Lazzarin/MST-PR

A produção de alimentos sem agrotóxicos ganhou força na comunidade desde que as famílias se uniram para criação da Cooperativa Terra Livre, em 2010, 100% agroecológica. A cooperativa garante a comercialização da produção de famílias assentadas e também de municípios da região, por meio de feiras, cestas agroecológicas, e também pelos programas nacionais da Alimentação Escolar (PNAE) e de Aquisição de Alimentos (PAA).  

A Cooperativa entrega em torno de 700 toneladas de alimentos por ano pelo PNAE Estadual, e 400 toneladas de alimentos no município de Curitiba. Ao todo, são atendidos 172 colégios estaduais entre Lapa e Curitiba. A diversidade de alimentos comercializada é grande: são 70 itens, entre hortaliças, legumes, alimentos, grãos, geleias e doces, e embalados à vácuo, tudo de origem agroecológica. A comunidade também tem diversos guardiões/as de sementes crioulas e uma Casa de Sementes, mantida pela ELAA. A Terra Livre é uma das 25 cooperativas da Reforma Agrária organizadas em todo o Paraná. 

Registro do ato celebrativo dos 25 anos da comunidade. Fotos: Ana Clara Lazzarin/MST-PR

Carlos Finkler, produtor agroecológico que também faz parte da criação da comunicação, relaciona o avanço da organização local e a melhora da vida das pessoas com os objetivos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

“Esses 25 anos são de um processo em construção, o dia todo e todos os dias. Nós só conseguimos chegar até aqui porque nós temos o MST e porque ele construiu o Programa de Reforma Agrária, que nos conduz nessa construção, e por meio dele nos mantemos unidos e lutando”, se referindo ao documento político e teóricos, atualizado periodicamente, a cada congresso. 

Solidariedade à Palestina 

A solidariedade ao povo Palestino também marcou e emocionou o segundo dia de festa do assentamento. Próximo ao local da placa de identificação da comunidade, um grupo de assentados/as, crianças e visitantes plantou uma muda de oliveira, árvore típica daquele povo, em protesto ao genocídio perpetrados pelo Estado de Israel em Gaza e homenagem à resistência do povo palestino. 

Fotos: Daniel Matoso/APP-Sindicato 

*Editado por Solange Engelmann