Mutirão da Esperança Camponesa é destaque em feira de Encruzilhada do Sul, no RS
Por Marcelo Antunes
Da Agência de Notícias AL/RS
Em um ato organizado conjuntamente entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e demais organizações sociais que integram a Via Campesina, centenas de homens e mulheres do campo debateram, na última sexta-feira (29/09), no município de Encruzilhada do Sul, localizado no Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, os rumos da luta no que foi denominado “Mutirão da Esperança Camponesa”.
A atividade, que congregou ainda a I Feira de Sementes Crioulas e Alimentos Saudáveis, foi uma espécie de coroamento do trabalho realizado pelo MPA e MST nos últimos dias, em que integrantes dos Movimentos visitaram assentamentos e comunidades colhendo depoimentos dos pequenos produtores sobre as demandas e dificuldades que vêm enfrentando em termos de infraestrutura, acesso à escola e atendimento à saúde, entre outros pontos. Hoje ,Encruzilhada do Sul conta com sete assentamentos reunindo 250 famílias.
Pautas como a reforma da previdência, privatizações, cortes orçamentários para a assistência técnica voltada aos assentados e as manobras do governo federal para evitar na Câmara dos Deputados o acolhimento da segunda denúncia por corrupção e obstrução da justiça enviada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dominaram as falas das lideranças campesinas e políticas presentes na atividade.
“Aqui no estado, onde há 43 anos estamos vivendo uma crise financeira, em que o Rio Grande do Sul gasta mais do que arrecada, se o governo não sabe o que fazer deveria olhar para o agricultor e seguir o seu exemplo, que não fica reclamando nem culpando os outros, mas acorda mais cedo e trabalha mais. Gaúcho não reclama do seu cavalo”, falou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edegar Pretto (PT), enfatizando que em períodos de crise o governante deve fazer opções e estas precisam ser priorizadas e direcionadas àqueles que mais precisam de políticas públicas.
“O que ouvimos nas visitas feitas de casa em casa e nos assentamentos e tiramos como ação é que somente com a organização e o fortalecimento da luta dos movimentos sociais do campo será possível continuarmos produzindo alimentos saudáveis e manter a resistência ao que entendemos como um verdadeiro ataque às conquistas sociais impetrado pelo governo golpista de Michel Temer (PMDB)”, destacou o dirigente do MST, Valcir Ramiro de Oliveira, ressaltando que o encontro discutiria os temas elencados nas análises de conjuntura realizadas nas diversas plenárias na última semana no município e em localidades da região.
Outro ponto abordado pelos participantes do encontro disse respeito ao PL 827/2015, que modifica a Lei dos Cultivares. O principal ponto de mudança é a previsão de que o agricultor pague royalties sobre sementes que foram guardadas para uso próprio. Ou seja: produtores que salvam sementes de uma safra para outra precisariam pagar, novamente, royalties às empresas. Além disso, colocaria as sementes crioulas na marginalidade.
O ato, que em sua abertura uniu mística e cantoria, também foi um momento de prestar homenagem a José Gilberto de Oliveira Tuhtenhagem, um dos fundadores do MPA falecido em março passado e lembrado como um grande exemplo de dedicação integral a luta camponesa, sobretudo no campo da cooperação e na formação da nova geração de militantes que segue o processo de luta da organização. A atividade contou ainda com a presença do deputado federal Dionilso Marcon (PT), o pároco Silvano Hans, prefeitos ou representantes dos poderes executivos do município e de cidades próximas, Emater, Embrapa, Secretaria de Desenvolvimento Rural e Ministério da Agricultura.