Conferência reúne 10 mil pessoas na Feira da Reforma Agrária
Por Gustavo Marinho
Da Página do MST
Recebidos calorosamente pelo público presente no Parque da Água Branca, em São Paulo, os participantes da conferência expuseram elementos para debate e reflexão em torno do tema da produção de alimentos saudáveis, da luta contra o agronegócio e da necessidade da realização da Reforma Agrária.
“A luta pela terra é uma luta justa. Ela não deve ser propriedade privada, deve ser de uso do povo. E em um país de origem feudal, lutar pela terra deve ser uma luta de todos”, destacou o ex-presidente do Uruguai, José Pepe Mujica.
O uruguaio dedicou parte de sua fala para ressaltar a necessidade de fortalecer a luta por outro modo de vida. “Nessa sociedade regada pela ganância, o mercado rouba o nosso tempo. Não temos tempo para o amor, para o afeto, nem para nossos filhos e amigos. O mercado não é para vida, nos coloca em função do negócio e da ganância. Enfrentar essa sociedade que confunde felicidade com comprar coisas novas é uma tarefa”, disse, desejando força aos militantes brasileiros.
Para João Pedro Stédile, da Direção Nacional do MST, a conferência reforça compromissos do movimento com a sociedade na luta pela terra e pela Reforma Agrária Popular. “A função principal da terra e da nossa sonhada Reforma Agrária é a produção de alimentos, mas não qualquer alimentos: alimentos sem veneno. Pois esse alimento não pode ser mercadoria, ele é um direito. E nós esperamos que os governos também aprendam essa lição”.
Stédile apresentou um panorama histórico e político da luta pela soberania alimentar e da hegemonia das empresas transnacionais no campo. “São exatamente 58 empresas que controlam toda a produção agrícola no mundo que, em oligopólios, controlam o mercado e cometem um verdadeiro crime contra a saúde pública, padronizando os alimentos em todo o mundo”.
Terra dividida é comida sem veneno
A apresentadora e culinarista Bela Gil compartilhou em sua fala três grandes oponentes para a garantia de uma alimentação saudável: a bancada ruralista, o oligopólio das empresas de agrotóxicos e a intensa publicidade dos produtos ultraprocessados. Para Gil, a alimentação é uma ferramenta de mudança, “não é utopia pensarmos que a alimentação é um elemento para mudar o mundo. Mudança no campo político, econômico, social e ambiental”, ressaltou.
De acordo com a culinarista, a alimentação deve fazer bem para o corpo, para a terra e para o produtor. “A comida ser ‘gostosa’ e causar fome mundo a fora, destruir o meio ambiente e causar doenças, nada nos adianta. Vivemos em um país rico, mas ao mesmo tempo com muita miséria, por conta das terras mal distribuídas e da produção voltada para o mercado. Por isso precisamos muito da Reforma Agrária, pois ela é fundamental para a produção de alimentos saudáveis”.
Bela Gil também destacou a necessidade de políticas públicas que reduzam a comercialização de agrotóxicos no Brasil e aproveitou para divulgar a plataforma “ChegaDeAgrotóxicos, que coleta assinaturas em todo o país para tornar lei a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA).
O ex-ministro da saúde, Alexandre Padilha, relacionou a necessidade da alimentação saudável como um direito, aliado à preservação da cultura e da identidade de um povo. “Temos direito à alimentação, mas não a que é exposta nos supermercados. Podemos e temos o direito de comer comida que não nos mate. Queremos alimentos que alimentem nossa alma, não as indústrias”, alertou.
Trazendo relatos dos povos indígenas na preservação de sua cultura e sua relação com a alimentação, a atriz Letícia Sabatella destacou a necessidade da sociedade abraçar a luta pela terra e pela produção de alimentos saudáveis.
“Essas são questões que nos atingem onde quer que a gente viva. Devemos fortalecer esse debate e empoderar o pequeno agricultor”, disse. Sabatella também relatou seu aprendizado com as mulheres Sem Terra. “Devemos respeitar a terra como nossa mãe maior, cuidando da terra coletivamente e conquistando a soberania alimentar pela ação das famílias. Aprendi esse ensinamento com a força e o exemplo das mulheres do MST”.
Durante a conferência também foi lançado o livro “Agroecologia na educação básica”, que reúne artigos sobre o ensino da agroecologia no ensino básico.
A 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece desde a última quinta-feira (4), reúne cerca de 800 feirantes de todo o país que comercializam em torno de 30 toneladas de alimentos vindos dos acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária.
*Editado por Leonardo Fernandes