MST leva qualidade de vida às pessoas por meio da produção agroecológica

Experiência da produção de arroz sem o uso de veneno foi socializada nesta sexta-feira (6), durante a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária.

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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

Fotos: Mídia Ninja

 

Quando agricultores assentados da Reforma Agrária da região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, começaram a produzir arroz orgânico há 18 anos, não imaginavam que se tornariam hoje os maiores produtores do grão livre de veneno da América Latina. E esta realidade se comprova na prática: para a safra 2016-2017, a estimativa é colher mais de 550 mil sacas (27 toneladas) do alimento, numa área plantada de mais de cinco mil hectares. Isto significa um aumento de quase 40% em relação à safra anterior, quando foram colhidas 393.600 mil sacas.

“Há 20 anos, o que predominava na região era a produção de arroz convencional. O que nos fez desistir deste modelo de cultivo foi o uso indiscriminado de venenos, mas também o entusiasmo propiciado pelas experiências das hortas agroecológicas”, explica o assentado Huli Zang, produtor de diversas variedades de arroz no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão.

Zang apresentou os dados da produção gaúcha no seminário &”39;Agroecologia e Reforma Agrária: práticas de resistências do MST&”39;, realizado durante a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece até o próximo domingo (7) no Parque da Água Branca, em São Paulo.

Segundo o agricultor, além de uma quantidade expressiva de produção, há um aumento do número de produtores a cada ano. Atualmente, 616 famílias estão envolvidas no cultivo de arroz em 22 assentamentos e 16 municípios gaúchos – Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Viamão, Guaíba, Santa Margarida, Canguçu, Charqueadas, Manoel Viana, Tapes, Camaquã, São Gabriel, Capivari, Sentinela, Arambaré, Taquari e São Jerônimo.

Além disto, 25 famílias Sem Terra produzem sementes de arroz em nove assentamentos, localizados nos municípios de Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Viamão, Guaíba, Santa Margarida, Canguçu, Charqueadas e São Jerônimo. Para esta safra a estimativa é colher mais de 22 mil sacas. Conforme Zang, a meta das famílias assentadas é conseguir, brevemente, produzir sementes em quantidade suficiente para atender todos os assentamentos que cultivam o alimento.

Outra conquista importante das famílias assentadas é a certificação orgânica, que é realizada desde 2004 em todas as etapas da produção, seguindo normas nacionais e internacionais. Ela ocorre por meio de dois procedimentos: certificação participativa (OPAC – Coceargs) e auditoria (IMO – Ceres). Assim, além de agregar valor ao produto, o MST propicia à população um alimento 100% seguro e saudável. E o melhor é que existe uma gama de variedades para contemplar a todos os paladares, como o arroz cateto, arbóreo, rubi e preto.

Essa experiência de produção limpa, que se insere no projeto de Reforma Agrária Popular do MST para o desenvolvimento da agricultura, se tornou referência no Brasil e é valorizada até mesmo em outros países. Prova disto é que hoje o arroz é comercializado por meio de inúmeras feiras ecológicas, do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Merenda Escolar (PNAE). Uma parte da produção também é enviada à Venezuela.

Grupo Gestor do Arroz Agroecológico

 

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Assim como diversas outras experiências agroecológicas que foram apresentadas durante o seminário, o sistema de produção utilizado pelos Sem Terra busca consolidar alternativas à agricultura do agronegócio, estabelecendo relação de integração e respeito entre os seres humanos e os recursos naturais. Para isto, são utilizadas técnicas que estimulam a fertilidade do solo e a produção de alimentos saudáveis, propiciando mais qualidade de vida aos produtores e consumidores.

“Nós conseguimos, através do trabalho do Grupo Gestor, quebrar o paradigma de que a produção orgânica é possível ser feita apenas em fundo de quintal, de que não dá para alimentar o mundo com a agroecologia. A nossa capacidade de produzir arroz e hortaliças sem o uso de venenos é de toneladas. Somente aqui em São Paulo já fornecemos mais de dois milhões de quilos de arroz à rede escolar”, complementa Zang.

Essa tomada de consciência coletiva dos sujeitos do MST sobre a importância do cuidado com a vida por meio da produção limpa, resultou em 250 toneladas de alimentos orgânicos que foram trazidos à Feira Nacional da Reforma Agrária por acampados e assentados de 23 estados e do Distrito Federal. No evento também é possível conhecer outras experiências realizadas pelos Sem Terra em todo o país, como a produção de café orgânico em Minas Gerais, e de sementes agroecológicas, também no RS.

 

*Editado por Leonardo Fernandes