Maria Raimunda: coragem e amor para enfrentar a violência na Amazônia

Trabalhadora fala com orgulho da luta pela terra e das dificuldades enfrentadas pelos camponeses na região amazônica, que concentra os maiores índices de violência no campo brasileiro.

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Por Mariana Castro
Da Página do MST

 

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”. Foram estas as últimas palavras de Dorothy Stang, assassinada por seis tiros no interior do Pará. É nesse mesmo cenário de violência e enfrentamento que despontam mulheres como Maria Raimunda César Souza, dirigente regional do MST, no estado do Pará.

A Amazônia concentra riquezas naturais incalculáveis em seu território, por outro lado, amarga como a região com os maiores índices de violência no campo – 79% dos casos, de acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Essa realidade despontou em Maria Raimunda o desejo de transformação e o comprometimento com a luta pela Reforma Agrária. Estudante de Letras e membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE), conheceu o MST em 1994, período em que se organizavam as primeiras ocupações da região.

“Éramos um núcleo de estudantes que contribuíamos com o movimento em diversas atividades e principalmente na relação com a sociedade. Com isso, fomos nos aproximando por meio das tarefas, foi acontecendo naturalmente”, relembra Maria Raimunda.

A aproximação com o movimento ganhou força em 1996, a partir do massacre de Eldorado dos Carajás, que deixou 19 trabalhadores rurais mortos e 69 feridos. O episódio ficou conhecido mundialmente e crava na floresta um padrão de assassinatos e violência, com a participação da Polícia Militar.

Em 1998, Maria Raimunda é convidada a cumprir um desafio específico e enviada para Belém, onde permaneceu por seis anos para efetivar o processo de territorialização do MST paraense. No início, contribuía nas frentes de educação, comunicação e elaboração de projetos.

De lá para cá, acompanhou e formou jovens que fazem a diferença em diversas brigadas do MST. “Quantos meninos e meninas eu vi nascer no movimento e hoje são dirigentes, e conduzem as tarefas com muita capacidade e altivez. Eles têm um autoridade política de quem se forjou na luta. Na medida em que a gente participa desse processo, a gente também se transforma”.

Ameaças de morte, telefonemas anônimos e recomendações para não se expor acumulam-se dia a dia, mas o orgulho e o comprometimento com a causa mantêm acesa a chama pela vontade de mudança.

“Eu tenho muito orgulho de fazer parte desse grande coletivo de lutadores e lutadoras do MST, porque a gente não está aqui só gritando. Gritamos o mundo que a gente quer, mas estamos construindo ele a cada dia. São as várias vozes de rebeldia e ousadia para mudar as estruturas desse mundo, onde possamos viver com felicidade”.

Mudar pessoas, vidas e estruturas é tarefa constante de militantes do MST, mas a ternura das palavras de Maria Raimunda deixam claro que a missão é prazerosa e transformadora. “A minha maior felicidade no movimento é sentir como as pessoas mudam de vida, acreditar nisso. Ver o sonho acontecendo. Ver as pessoas que entram no acampamento e acompanhar a vida delas se transformando, desde crianças. As pessoas entram com um sonho pela terra, mas depois elas não se contentam com isso, elas querem muito mais. Querem dignidade e felicidade”.

 

*Editado por Leonardo Fernandes