Maciel Alves, nascido na luta

Produtor de 33 anos viajou mais de dois mil quilômetros do Pará até São Paulo para participar da 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária

 

Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST
Foto: José Eduardo Bernardes

 

‘Eu praticamente nasci na luta’. A frase é de Maciel Alves, de 33 anos, assentado em Palmares II, uma área localizada em Paraupebas, no sudoeste do estado do Pará. O assentamento foi regularizado há 25 anos, quando Maciel tinha apenas oito de idade.
 

Ele é um dos 900 agricultores que levaram seus produtos à Feira Nacional da Reforma Agrária, que foi inaugurada nesta quinta-feira (3), no Parque da Água Branca, na zona oeste da capital paulista. “Nós trouxemos basicamente aquilo que é mais comum na nossa região, como a castanha do Pará, bombom de cupuaçu, bombom de castanha do Pará, ervas medicinais, farinha de tapioca, açaí, tudo produzido nas áreas de acampamento e assentamento”.
 

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Maciel conta que a luta nunca foi fácil no seu estado, um dos mais violentos do país, devido à forte concentração de terra na mão de grileiros. “O estado do Pará é um estado muito violento, devido a ser um estado que há muito tempo foi grilado por muitos posseiros. Hoje, a maioria dos fazendeiros da região não tem documentos das terras, não são os reais proprietários. Eles chegaram primeiro na região, se acamparam ali, derrubaram as matas pra fazer pastagem e criar seus gados. E muitos deles têm trabalho escravo, desmatamento desnecessário. E nós somos sem terra, ou seja, não temos terra e precisamos dela. E como a terra é da União e não está produzindo, nós ocupamos”.
 

Além da defesa do direito à terra para produzir, os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra têm como característica o cuidado com o meio ambiente, como explica Maciel. “O assentado tem, dentro da sua área, diversas produções. Cria algumas galinhas, porco, plantações, frutas. Com isso, nós preservamos a natureza, as fontes, as nascentes. Porque nós queremos viver ali muitos anos, então temos que preservar a área onde a gente vive. E a gente precisa viver em harmonia com a natureza. A gente precisa produzir, mas precisa respeitar os limites da natureza também”.
 

Orgulhoso de seu trabalho, Maciel faz um convite irrecusável à população de São Paulo que ainda não conhece o MST. “Venha conhecer a Feira, a nossa história, as pessoas. Não acredite no que vê nas grandes redes de televisão. É preciso conhecer para ver a realidade, ver como funciona. Quem vier vai ver a produção das áreas de Reforma Agrária e do MST”.
 

A 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária funciona até o próximo domingo (6), das 8h às 20h, no Parque da Água Branca, que fica localizado na Avenida Francisco Matarazzo, nº 455, em São Paulo. A entrada é gratuita.
 

*Editado por Gustavo Marinho