MST ocupa as ruas do Brasil com alegria e resistência durante o Carnaval

Com blocos em diversos estados, MST avança na participação no Carnaval como forma de expressão cultural e política do povo

Por Yuri Simeon e Maura Silva
Da Página do MST

O Carnaval é o momento onde o povo brasileiro celebra a cultura de nosso país, em suas diversas e ricas formas de expressão, mas também é momento de expor a leitura sobre a realidade em que vivemos.

Este ano não foi diferente, nas escolas de samba e também nas ruas vimos inúmeras manifestações contra os rumos que nosso país vem tomando, além de muitos caminhos apontados para sairmos desta situação. O MST não ficou de fora de nossa maior festa popular e também ocupou as ruas!

Minas Gerais

Pela primeira vez o Bloco Pisa Ligeiro saiu em cortejo pelas ruas da capital mineira. A concentração aconteceu no Armazém do Campo-BH. A iniciativa foi resultado da Escola de Artes do MST da Região Sudeste, realizada em outubro de 2019 em parceria com artistas amigos do Movimento. Entre eles, Sérgio Pererê, Titane, Pereira da Viola e Paulinho Santos.

Enxadas foram instrumentos no Bloco Pisa Ligeiro/ Foto: Dowglas Silva

O Bloco reuniu mais de 200 pessoas em sua batucada, a maioria militantes Sem Terra, contando também com a participação do Levante Popular da Juventude de Minas Gerais, do Bloco Tambolele e do Bloco du Seu Pai e Filhas de Gaby, além da participação do Coletivo de Artistas que acompanha esta construção desde a Escola de Artes.

Uma característica deste bloco foi o uso de enxadas como instrumentos musicais. A ideia surgiu a partir da utilização das enxadas e dos cabos de vassoura no coro cênico da Escola de Artes, além de serem instrumentos de trabalho, elas são instrumentos musicais.

“O resultado foi muito bom, porque havia um elemento de identidade muito forte dos Sem Terra, que ajudou no envolvimento das pessoas. ‘Qual instrumento a gente vai tocar?’ Muito fácil, enxada! Porque o Sem Terra já tem a enxada. Com a novidade da descoberta da musicalidade a partir da enxada”, explica Guê Oliveira, da direção estadual do MST-MG pelo Setor de Cultura.

O MST também esteve no Lindo Bloco do Amor, que saiu em cortejo pelas ruas de Belo Horizonte (MG). Este ano o Bloco homenageou Gonzaguinha e o Clube da Esquina, com as presenças de Renegado, Manu Dias, Marina Machado e Telo Borges, apresentando clássicos como ‘Trem Azul’.

Bahia

No Prado, Extremo Sul da Bahia, o Bloco do MST Folia brincou pelas ruas da cidade com camisas pintadas de vermelho e na luta em conjunto com mulheres Sem Terra contra o governo fascista e sexista de Bolsonaro.

Mais de 800 Sem Terra participaram do MST Folia / Foto: Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

Tendo como lema “Mulheres em luta, semeando resistência”, o bloco contou com a participação de mais de 800 acampados e assentados. Inaugurado em 2015, as atividades do bloco só aumentam levando às ruas temas como a luta contra os agrotóxicos, a defesa da terra e a produção de alimentos saudáveis.

Pernambuco

Em Olinda (PE), o Bloco Sem Terra, que completou 20 anos de presença em solos olindenses, homenageou Ana Primavesi, umas das pioneiras no estudo da agroecologia no Brasil e defensora da Reforma Agrária, que faleceu no final ano passado. O Bloco saiu da tradicional Barraca do MST, que foi instalada na Praça do Fortim, na segunda de Carnaval.

Bloco Sem Terra em Olinda completa 20 anos / Foto: Matheus Alves

Além disso, o Armazém do Campo foi um dos palcos descentralizados do Carnaval do Recife, com programações que aconteceram do dia 21 ao dia 25.

Paraná

A rua Marechal Deodoro da Fonseca é trajeto conhecido de quem participa de manifestações públicas no centro de Curitiba. Por ali, milhares de pessoas já tomaram o lugar dos automóveis para erguer suas bandeiras por educação pública, pelo direito das mulheres, por #EleNão e tantas outras. Seja em lutas junto à população urbana, ou marchando por reforma agrária, camponeses e camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também conhecem aquele percurso.

Sem Terra desfilaram em Escola de Samba/ Foto: Valmir Fernandes

No domingo de Carnaval (23), a Marechal se transformou em “avenida” e uma multidão se organizou em desfile, na maior festa popular do Brasil. Cerca de 30 integrantes do MST de todas as regiões do estado juntaram sua alegria, cores e ritmos como parte dos 430 componentes da Escola de Samba Leões da Mocidade.

Brasília

Em Brasília (DF), o Esquenta o Carnaval com o MST foi organizado por mulheres Sem Terra, em parceria com diversos coletivos feministas urbanos. A festa foi no Canteiro Central (SCS, quadra 3, bloco A), reunindo mais de mil pessoas, e contou com a participação de Martinha do Coco, grupo Chinelo de Couro e DJ Jul Pagul.

São Paulo

O acampamento Marielle Vive!, em Valinhos (SP), também realizou sua festa de Carnaval. Aberta ao público, cerca de 800 pessoas participaram da atividade. A folia comemorou 1 ano e 10 meses da ocupação e aconteceu com muita música, com a Batucada Popular Luis da Marielle, uma homenagem ao Seu Luis, Sem Terra assassinado em 2019 durante uma manifestação pacífica em que se reivindicava água para o acampamento.

Bloco foi construído pelas famílias acampadas/ Foto: Julio Matos

“Estamos em um contexto duro de resistência à reintegração de posse, o prazo de suspensão do despejo terminou no fim de fevereiro. Então o carnaval propiciou a aproximação com aliadas e aliados que vieram trazer a solidariedade e participar da festa”, explicou Tassi Barreto, da direção estadual do MST-SP e coordenadora do acampamento.

Construção fortaleceu a coletividade e organicidade do acampamento/ Foto: Comunicação Marielle Vive!

A construção da atividade aconteceu através do Setor de Esporte e Cultura, que também organiza a batucada. Toda as famílias se envolveram nessa construção, tanto nos ensaios, como também na arrecadação dos instrumentos e de alimentos, usados no café da tarde coletivo – oferecido durante a festa. Os parceiros da Batucada do Cupinzeiro, de Campinas, também participaram, apresentando um samba enredo sobre Paulo Freire.

Segundo Tassi, a realização do Carnaval no acampamento contribuiu para “fortalecer a comunidade e demonstrar a unidade perante os enfrentamentos que virão”.