Mandioca, macaxeira, aipim: a raiz mais popular do Norte ao Nordeste

Região concentra maior cultura da raiz, que é um dos alimentos mais consumidos no mundo e que integra a rede produtiva dos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária Popular em todo país

Agricultora no plantio de macaxeira da Reforma Agrária. Foto: Gustavo Marinho/Acervo MST-AL

Por Lays Furtado
Da Página do MST

Mandioca, macaxeira, aipim, castelinha, uaipi, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, mandioca-brava e mandioca-amarga, são termos brasileiros para designar o tubérculo da espécie Manihot Esculenta.

O Brasil é um grande produtor mundial de mandioca. Seu cultivo está presente em todas as regiões do país. Onde todos os anos são produzidas cerca de 20 milhões de toneladas da raiz. E a agricultura familiar responde por mais de 85% dessa produção. As regiões do Norte e Nordeste, juntas, são responsáveis por cerca de 60% da produção nacional de mandioca, conforme dados da Embrapa, de 2018.

O Nordeste já foi o principal produtor de mandioca no país, mas perdeu sua colocação devido a períodos de constantes secas. Hoje, o Norte ocupa a liderança na produção dessa cultura com 34,5%. Seguida pelo Sul com 24,8%, Nordeste 23,6%, Sudeste 10,5% e Centro-Oeste com 6,6 %, segundo dados do IBGE divulgados em 2019.

Na Região, destacam-se as produções dos Estados da Bahia, Ceará e Maranhão, que juntos representam cerca de 70% da área plantada. Nesses estados se concentram pequenas fábricas ou casas de farinha, que normalmente são conduzidas por agricultoras e agricultores familiares.

Apesar da sua forte presença nas culturas do Norte e Nordeste, é na região Sul que se encontra um percentual de maior produtividade por hectare da mandioca. Quando ocorrem as secas e a produção agrícola é reduzida, o abastecimento dessas regiões é complementado com a farinha oriunda do Paraná, São Paulo e Santa Catarina.

Mandioca é sinônimo de subsistência alimentar e nutricional


A rama da Maniva cortada em pedaços é usada no plantio. E as folhas moídas da planta, que levam o mesmo nome “Maniva”, também dão origem à comida tradicional do Norte ao Nordeste, conhecida como Maniçoba, que é uma espécie de “feijoada sem feijão”. Onde as folhas devem ser cozidas por até 7 dias antes de serem consumidas, para eliminar o risco de toxicidade do ácido cianídrico (HCN) contido na Maniva, que é em si um alimento muito rico, fonte de cálcio, ferro, vitaminas C e A, além de proteínas.

Já a raiz dessa planta, por ser muito energética (100 gramas de mandioca têm aproximadamente 160 calorias) é consumida mundialmente como um alimento estratégico contra a fome. É a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, depois do arroz e milho.

Dessa forma, a mandioca segue sendo, ao longo dos anos, um dos principais alimentos que garantem subsistência alimentar e nutricional, existindo na dieta básica de mais de meio bilhão de pessoas em diversas partes do mundo, de acordo com dados da FAO (A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

No Brasil, os principais produtos da mandioca são as raízes para o consumo in natura, os vários tipos de farinhas, fécula ou polvilho (doce ou azedo), bem como os subprodutos da parte aérea e das raízes, usados também como alimentação animal.

Está presente também nas redes produtivas de assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária Popular em todos os estados do Nordeste, na produção da agricultura de milhares de famílias camponesas. 

E faz parte da cultura tradicional dos povos da terra, que originou narrativas,  costumes e vários pratos típicos regionais, como a tapioca, beiju, bolo de puba, tucupi, bebidas fermentadas e destiladas como cauim e tiquira, entre outros.

Raízes e culturas indígenas


Esta planta, tem origem mais remota no Oeste do Brasil (sudoeste da Amazônia), onde já se aponta seu cultivo alimentar antes da chegada dos europeus à América, da Região Amazônica até à Mesoamérica (Guatemala, México).

Faz parte da cultura e culinária tradicional indígena, povos nativos de nossas terras. Onde estudos apontam que o plantio da mandioca foi domesticado há cerca de 9 mil anos, na região do Alto Rio Madeira, no atual estado de Rondônia.

Para a cultura Guarani, Mani é uma criança, tida como entidade mítica, que após sua morte se transformou na raiz “Mani-oca”. Hoje conhecida como “Mandioca”, entre outros nomes herdados do Tupi: “Mãdi’og, Mandi-ó ou Mani-oca”, que significa “Casa de Mani”. “Aipim” originário de “Ai’pi”. Assim como o termo “Maniva”, que é nome dado as ramas do pé de mandioca, que vem da palavra “Mani’iwa” – são originários do Tupi.

Essa é uma das reportagens sobre a cadeia produtiva da mandioca, que integra a série especial sobre as principais redes produtivas do Nordeste. Acompanhe!

*Editado por Solange Engelmann