Feira Nacional

Raiz que tudo dá: a importância alimentar, econômica e cultural da mandioca

Estados da região Amazônica são destaque na produção e beneficiamento de farinha, presença garantida na Feira Nacional

Produtos derivados da mandioca, estarão presentes na 4ª Feira Nacional do MST, em São Paulo. Foto: Mariana Castro

Por Mariana Castro
Da Página do MST

Celebramos neste sábado (22), o Dia da Mandioca, uma das raízes mais populares do país, que inclusive ganha diversos nomes, dependendo da região: macaxeira, aipim, maniva, uaipi ou até castelinha.

Toda cheia de nomes e importância, ela tem origem brasileira e, antes da fama, já era plantada pelos indígenas como parte fundamental do cardápio, mas espalhou-se pelo mundo a partir de Portugal e suas colônias, sendo considerada o alimento do século 21 pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Alvo de memes, durante a abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas a então presidenta Dilma Roussef chegou inclusive a saudar a mandioca, relembrando a relação da raiz com os povos da floresta e sua importância histórica, uma vez que a primeira Constituição brasileira era chamada popularmente Constituição da Mandioca, onde os eleitores deveriam comprovar uma quantidade mínima de plantação para terem direito ao voto.

Para os indígenas a mandioca é considerada um alimento sagrado e faz parte de rituais sagrados.

Cultura indígena

O nome mandioca tem origem na língua tupi-guarani, que significa “Mani-oca” ou “casa de Mani”, em homenagem a Mani, filha falecida de um pajé.

Cultivada há mais de quatro mil anos, para os indígenas a mandioca é considerada um alimento sagrado, e na cultura dos povos a explicação para o seu surgimento pode variar, mas a mais popular é um mito tupi que hoje faz parte do folclore brasileiro.

Nele conta-se que a mandioca veio de Mani, menina de pele branca que morreu e foi enterrada em uma oca pelo seu pai, o Pajé. O local onde ela foi enterrada floresceu e deu origem à árvore da mandioca, tão branca quanto a pele da menina e que sustenta todo o povo.

Além de compor a alimentação diária de povos indígenas, a mandioca beneficiada em forma de farinha tem destaque em pratos de rituais sagrados como o batismo, a exemplo do berarubu, uma espécie de bolo de mandioca com carne preparado em grandes folhas de bananeira e assado embaixo da terra para servir toda a aldeia.

Alimento da agricultura familiar

No Brasil, a mandioca é um dos principais meios de sobrevivência da população rural, porque além de ser uma planta adaptável aos diversos ecossistemas, oferece múltiplas possibilidades de uso, garantindo assim desde a subsistência com alto valor nutricional até a garantia econômica de muitas famílias.

Todos os anos são produzidas mais de 20 milhões de toneladas da raiz, sendo mais de 85% dessa produção oriunda da agricultura familiar, especialmente no Norte e Nordeste do país.

Nos assentamentos e acampamentos do Movimento Sem Terra, se destacam na produção de mandioca os estados do Maranhão, Ceará, São Paulo, Pernambuco e Paraná.

Na região Amazônica, que tem grande influência indígena, a mandioca está tão enraizada na cultura alimentar que, certamente, vai estar presente em algum momento do dia: seja no beiju do café da manhã, na farinha que acompanha o almoço, na macaxeira frita com café durante a tarde ou para enriquecer e encorpar o caldinho do jantar.

Farinha produzida por assentamento do MST no Maranhão recebeu selo da agricultura familiar. Foto: Mariana Castro

No estado do Maranhão, o maior destaque na produção de mandioca é o Assentamento Cristina Alves, no município de Itapecuru-Mirim. O beneficiamento da raiz, em sua grande maioria, é para garantir a farinha, primeiro produto do estado a receber o selo da agricultura familiar “Gosto do Maranhão”.

Com mais de 100 famílias envolvidas no processo de produção da farinha, a organização coletiva em torno da Cooperativa Mista das Áreas de Reforma Agrária do Vale do Itapecuru (Coopevi), a garantia do selo e a valorização do produto representam conquistas de quase vinte anos de luta pelo direito à terra e produção de alimentos saudáveis.

Aproveite a Feira Nacional da Reforma Agrária para provar pratos diversos à base de mandioca. Foto: Aline Oliveira

Mandioca na Feira Nacional da Reforma Agrária

Considerado um dos maiores eventos realizados pelo Movimento Sem Terra, a Feira Nacional da Reforma Agrária está de volta esse ano, após cinco sem ser realizada. A Feira vai acontecer no Parque da Água Branca, em São Paulo, de 11 a 14 de maio, reunindo toda a diversidade do MST, em forma de produtos, alimentos, apresentações, debates e plenárias, então a mandioca certamente estará presente em diversos espaços, especialmente nas tendas de produtos e culinária típica dos estados amazônicos, como parte dos frutos da luta pela terra a partir da produção de alimentos saudáveis.

Além da mandioca in natura vinda de assentamentos e acampamentos, nas tendas de culinária típica você vai poder saborear pratos diversos. No Maranhão, você vai poder se deliciar com o bolinho de macaxeira recheado com cuxá, no Pará, o tucupi quentinho vai estar no tradicional tacacá, por exemplo.

*Editado por Gustavo Marinho