Marighella no MST

Cinema no Assentamento: Marighella é exibido em área do MST na Bahia

Com a exibição do filme em um assentamento de Reforma Agrária, o MST conseguiu unir campo e cidade para destruir as cercas dos latifúndios
Exibição do filme reuniu movimentos, organizações e entidades de toda Brasil. Foto: Jonas Santos

Por Romilson Joaquim e Gustavo Marinho
Da Página do MST

O cinema chegou no Assentamento Jacy Rocha e logo o cheiro de pipoca tomou conta de toda a área. Mas dessa vez ninguém precisou comprar ingresso. A bilheteria era a porteira do assentamento com a bandeira hasteada, a contagem regressiva eram as palavras de ordem e na tela montada na área do assentamento, Marighella era exibido com sua poesia e resistência em luta.

Não dava para negar a ansiedade do público. Todos e todas contavam as horas para a sessão especial do filme dirigido por Wagner Moura que já está em cartaz nos mais diversos cinemas do país.

O assentamento localizado na cidade de Prado, no Extremo Sul da Bahia, recebeu centenas de camponeses e camponesas de todas as regiões do estado, que misturavam-se com artistas, equipe do filme, políticos e diversos amigos e amigas do MST que já organizavam-se nas cadeiras enfileiradas para acompanhar o longa-metragem.

A exibição que ocorreu na noite deste sábado (06) foi seguida de muita mística em memória e em homenagem ao legado de Carlos Marighella, o guerrilheiro baiano que enfrentou a ditadura militar e declarado o inimigo número um do regime na época.

Wagner Moura falou da importância do filme e da luta política construída na atualidade. Foto: Jonas Santos

“Apresentar o filme nesse assentamento nos dá a sensação de que finalmente o filme encontra com seu público”, afirmou Wagner Moura, diretor do longa. Para ele, a sessão especial junto ao MST foi a mais importante que o filme já fez nesse período de lançamento pelo Brasil. “O MST nos inspira e essa é uma noite que faz com que ser artista tenha sentido, que signifique algo”, completou.

O encontro do cinema com o povo Sem Terra

Ana Francisca, do Sudoeste da Bahia, nunca foi ao cinema e não escondia a emoção em participar da sessão especial no assentamento. “Nunca pisei em um cinema até hoje e agora o cinema veio até a gente, ainda mais com o filme da história de um lutador que tanto ouvimos falar”, contou.

Assim como ela, várias outras pessoas passaram por essa experiência pela primeira vez na sessão especial organizada para o MST, em especial no interior do país, onde o acesso ao cinema é ainda mais difícil.

“Momento como esse possibilita que a gente que vive no campo também possa ocupar esse lugar”, comentou Ana.

Já Lucineia Durães, da direção nacional do MST, reafirmou a importância da exibição no assentamento que vive um momento de ameaça e da inspiração do legado de Marighella para o Movimento Sem Terra.

“O MST agradece imensamente esse momento. A história que vemos no filme é a história de muitos meninos e meninas pretas que estão espalhados pelos acampamentos de todo o Brasil”, afirmou Lucineia.

Lucinéia Durães, da direção nacional do MST. Foto: Jonas Santos

A atividade integra uma série de outras iniciativas impulsionadas pelo MST na produção e difusão do cinema com os acampados e assentados da Reforma Agrária, como por exemplo os circuitos do Cinema da Terra, atividade onde ocorrem exibições de filmes nas áreas organizadas pelo MST e da própria produção do Movimento, através da Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho, que organiza e difunde a produção audiovisual em especial na temática da luta pela terra e pela Reforma Agrária Popular.

Com a exibição do filme “Marighella” em um assentamento de Reforma Agrária, o MST conseguiu unir campo e cidade para destruir as cercas dos latifúndios, tanto da terra quanto das telas, permitindo assim, o acesso ao cinema às comunidades camponesas e tradicionais.

O evento

Foram dois dias de evento, embora a exibição do filme “Marighella” tenha ocorrido na noite deste sábado (6), as atividades tiveram início na sexta-feira (05), quando o MST realizou a Jornada da Juventude Campo e Cidade, com atividades de formação política e agitação e propaganda, além da Feira Agroecológica, com produtos livres de agrotóxicos produzidos em áreas da Reforma Agrária da Bahia.

Na manhã de sábado, o evento começou por volta das 9 horas com a Plenária dos Povos de Terreiro, Indígenas e Quilombolas e seguiu durante a tarde, com o lançamento do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, reafirmando a meta de plantio de 100 milhões de árvores pelo MST. Na ocasião, foram plantadas 2 mil mudas no bosque que homenageou Carlos Marighella.

Ainda como parte da programação, o Assentamento Jacy Rocha recebeu o Ato em Defesa da Reforma Agrária, reunindo políticos e personalidades de todo o país.