Assentamento Denis Gonçalves: 12 Anos de resistência e esperança

Por Dowglas Silva e Matheus Teixeira, do setor de comunicação do MST em MG
Da Página do MST

No dia 25 de março de 2010, cerca de 150 famílias e estudantes das universidades federais de Viçosa e Juiz de Fora ocuparam um dos grandes latifúndios improdutivos da zona da mata mineira. A antiga fazenda Fortaleza de Sant’Anna, hoje assentamento Denis Gonçalves, teve seu histórico de exploração, trabalho escravo e improdutividade ressignificados com a chegada do MST às terras.

Após sofrerem despejo e morarem às margens da MG 353, agora as mais de 200 famílias reocupam as terras no dia 03 de setembro de 2013. “O MST da Zona da Mata ocupou a história da região, quando devolveu aos trabalhadores e trabalhadoras uma fazenda que explorou, escravizou tantas famílias na região. Com a ocupação dessas terras e a destinação à reforma agrária sabemos que estamos no caminho certo, isso é justiça social e um recomeçar da história com o povo no poder, construção de um projeto popular para o Brasil”, afirma a coordenação do assentamento.

Celebrando 12 anos desde a sua primeira ocupação, as terras hoje são sinônimo de esperança, recomeço e qualidade de vida, é o que nos conta a assentada Lucia Rodrigues. “Saí da minha região, vale do rio doce, em busca de uma nova perspectiva de vida. Vim para o assentamento sem conhecer a região e com pouco tempo me identifiquei e decidi que aqui era o lugar onde queria viver com meu companheiro, criar meus filhos e construir a minha história. Estou na luta a muito anos, foram mais de 10 anos de acampamento para hoje ter conquistado esse pedaço de sonho.”

Localizado no município de Goianá, o assentamento é um dos maiores do estado com mais de 4,683 mil hectares, sendo a maior parte reserva legal, uma vasta reserva de mata atlântica intocada, o que permite grande preservação da fauna e flora local. Só em observação de aves é possível identificar mais de 260 espécies diferentes, um paraíso para observadores, contando com uma diversidade maior que o Parque nacional da Tijuca (157 espécies), Serra do Brigadeiro (160 espécies) e Parque estadual de Ibitipoca (141 espécies).

“Ter ocupado essas terras é uma grande conquista para o MST, por conta de toda simbologia que tem esse latifúndio antes de se tornar assentamento, símbolo do café e da exploração de trabalhadoras e trabalhadores, a ocupação representa conquista e liberdade. Todos os ex-trabalhadores da fazenda hoje também são assentados e assentados da reforma agrária, muitos deles viveram desde o início de suas vidas aqui e foram explorados e hoje com a conquista das terras desde 2013, com a rebeldia que foi necessária e a ousadia de ocupar esse esse antigo latifúndio é que a gente tem um assentamento”,
nos conta Elis Carvalho, da coordenação regional.

Elis ressalta que “foram muitos processos até aqui, temos que caminhar, mas também temos muito a comemorar nessa data tão importante para o assentamento Denis Gonçalves e da reforma agrária popular. Viva nossa luta, viva a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras, classe trabalhadora que tem que seguir um plano, seguir ocupando terra, derrubando cercas e conquistando o chão.” 

O assentamento é a segunda área conquistada pelo MST na zona da mata e compõe a regional Antonio Ventura. O nome é em homenagem ao um lutador do povo da região que foi sindicalista, militante das CEBS, organizador do Comitê Central Popular, sempre com paciência e cuidado com os outros Antônio Ventura contribuiu muito no trabalho para realizar a ocupação, mesmo doente meses antes da ocupação ele seguia atuando nas tarefas, veio a falecer de câncer no dia da ocupação.

“ Das matas de minas, um grande lutador,
António Ventura, lutou pelo pelo povo trabalhador”

Fruto de muita luta e diversos processos organizativos, hoje o assentamento conta com uma escola estadual “Escola Estadual Carlos Henrique Ribeiro dos Santos” que tem como diretriz de ensino a educação do campo e atende cerca de 50 alunos assentados e seus filhos, mas também moradores de comunidades e cidade do entorno. Também há a organização e comercialização de cestas agroecológicas com produtos da reforma agrária, que vão desde hortaliças, antepastos, bolos e conservas produzidos sem o uso de veneno pelos assentados. 

Por ser rico em recursos naturais e históricos, o assentamento é constantemente visitado por turistas, seja para se banhar nas cachoeiras, jogar bola no campo de futebol, visitar as ruínas das estruturas do período escravocrata em que a produção de café era o forte da fazenda, conhecer as grutas onde foram encontradas corpos mumificados, os mesmos foram cedidos ao Museu nacional de Rio de Janeiro e se perderam no incêndio, ou visitar e conhecer as famílias e a forma de produzir os alimentos comercializados. Tal demanda trouxe a  necessidade de se politizar e canalizar tais processos levando a criação do Turismo da Reforma Agrária

Dênis Gonçalves da terra não saiu, MST guerreiros do Brasil!

*Editado por Fernanda Alcântara