Formação

Pelos territórios e pela vida: Curso de Viveiros e Sementes da Reforma Agrária Popular

Mais de 200 pessoas participaram da aula inaugural do curso, que alia estudo e prática na construção da Rede Nacional de Viveiros Populares
Foto: Acervo MST

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Animação, mística, emoção e reflexões sobre a importância de cada um(a) na construção da Reforma Agrária Popular. Este foi o tom da celebração que marcou a inauguração do Curso Nacional Viveiros e Sementes da Reforma Agrária Popular, organizado pelo MST de forma virtual.

Realizado em 5 módulos, a ideia do curso surgiu a partir da necessidade de conectar os diferentes espaços do MST pelo país em torno do estudo e da prática técnica de produção de sementes e de viveiros populares, e como estes reforçam diversificação da produção e organização dos Sem Terra a partir da construção do conhecimento coletivo, como o movimento iniciado no curso Questão Ambiental.

Inicialmente pensado para 100 participantes, os organizadores dos encontros tiveram que adaptar a programação e a metodologia diante de mais de 500 inscrições de todos os estados, representando setores, coletivos nacionais do MST. Segundo a coordenação do curso, toda a militância do MST envolvida com a produção sistemática de mudas e sementes estará participando de forma massiva.

Com esses temas ganhando cada vez mais centralidade dentro dos debates do conjunto da organização, diante da importância de pensar uma nova cultura socioambiental. Camilo Augusto, da direção estadual do MST em Rondônia ministrou o primeiro encontro, com o tema “Concepção da Questão Ambiental no MST e o papel do Plano Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis“, a partir de uma análise conjuntural e perspectivas estratégias das lutas populares para enfrentar os interesses e investidas do capital sobre a natureza. 

“Sem desperdício, não há capitalismo”

Camilo Augusto, durante a exposição. Foto: Reprodução

Em sua fala, Camilo Augusto se propôs a refletir sobre como o capital impacta e atualiza suas formas de apropriar e financeirizar os bens da natureza em detrimento do bem estar social. “Temos visto de forma cada vez mais frequentes os casos como seca e estiagem, como agora no Rio Grande do Sul, enchentes e outros desastres. E para nós, que vivemos do campo, que não recebemos seguro ou auxílio que o capital financeiro proporciona ao agronegócio, a questão ambiental é muito cara”, afirmou.

Neste sentido, Camilo falou sobre a privatização da natureza, a crise do capitalismo e como ele afeta toda a vida do planeta, a partir da discussão sobre o lugar da questão ambiental e questão agrária no Plano Nacional de Plantio de Árvores e Produção de Alimentos Saudáveis.

“O Plano não uma campanha. Ele é uma posição política, um espaço de articulação, formação, organização política e de amplo debate, reafirmando a Reforma Agrária Popular e a correlação dela com a luta ambiental. Não é o simples reflorestamento, é também a produção de alimentos saudáveis, coisas que não se devem desvincular. Uma nova forma de produzir, a partir da relação social no campo e da cidade”.

O debate também trouxe como elemento de reflexão a Soberania Alimentar como mudança radical do sentido da produção de alimentos, a Agroecologia, baseada na diversidade de alimentos, no conhecimento tradicional e no fortalecimento do organismo humano e a natureza de forma coletiva, além do cuidado com o meio ambiente, da água, dos minérios, da terra e da biodiversidade.

“Precisamos fazer as crianças [e a sociedade em geral] entenderem que o arroz não vem do saco, que o leite não vem da caixa, de um supermercado. E isso implica em tornar o alimento um instrumento de trabalho de base que possibilita a abertura do diálogo a partir de ações concretas, colocando no centro da questão a crise climática e a crise ambiental”, afirmou.

Primeira aula contou com mais de 200 participações. Foto: Reprodução

As próximas aulas serão realizadas sempre às quartas-feiras, até o dia 15 de junho, com o encerramento que trará organicidade, metas e processos futuros na construção dos Viveiros Populares da Reforma Agrária. O objetivo é que, ao final, todas/os/es possam fortalecer a Rede Nacional de Viveiros Populares enquanto um espaço de articulação, a partir da estratégia de enraizamento da defesa dos bens comuns e da socialização da biodiversidade existente em nossos biomas.

“Queremos, mais do que tudo, consolidar uma relação sociológica entre a produção pacífica e harmônica e romper a lógica da privatização da natureza. Defender o meio ambiente não é só ter pena do urso polar, não é só cuidar da tartaruga engasgada com o canudinho. É isso também, mas nossa meta é garantir a existência da vida como a gente conhece, antes que esta financeirização da vida acabe com ela. E quanto mais territórios a gente cuidar, menos estarão nas mãos do capital”, conclui Camilo Augusto.

*Editado por Solange Engelmann