Luta LGBTI

No contexto amazônico, Seminário discute desafios da luta LGBTI no campo, nas águas e florestas

Cerca de 50 pessoas participam da atividade, que se estende até domingo (10/7)
Com o lema “Luta e Resistência Camponesa LGBTI em Rondônia”, Seminário tem a participação de 50 sujeitos LGBTI+ da Via Campesina no Brasil. Foto: Mário Manzi

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Com o lema “Luta e Resistência Camponesa LGBTI em Rondônia”, teve início neste sábado (9/7), o 1º Seminário Estadual da Diversidade Sexual e de Sexual da Via Campesina. A programação se estende até domingo (10/7) e conta com a participação de 50 sujeitos LGBTI+ dos Movimentos e Organizações Populares do campo, das águas e das florestas.

De maneira geral, o Seminário apresenta dois grandes objetivos: primeiro, construir um espaço que discuta os desafios impostos aos sujeitos LGBTI da Via Campesina no processo de auto-organização e no combate a LGBTIfobia. E segundo, busca iniciar um processo de unidade na luta em defesa do meio ambiente, da Soberania Alimentar e contra o agro-hidro-minério-negócio.

De acordo com Océlio Muniz, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Seminário nasce para discutir como as temáticas de gênero e diversidade se cruzam e acumulam para luta dos movimentos da Via Campesina em Rondônia. “Estamos aqui para discutir a luta e resistência, propondo ações para enfrentar a violência, pelo direito de amar e viver”, explica.

1º Seminário Estadual da Diversidade Sexual e de Sexual da Via Campesina discute resistência e luta pelo respeitos às diversidades. Foto: Mário Manzi

Muniz chama atenção para os números alarmantes da violência, em especial na Região Norte do país. Em 2021, houve no Brasil, pelo menos 316 mortes violentas de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo (LGBTI+). Esse número representa um aumento de 33,3% em relação ao ano anterior, quando foram 237 mortes. Os dados constam do Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil.

As regiões Nordeste e Sudeste tiveram 116 e 103 mortes violentas, respectivamente. As demais regiões ficaram em torno de 30 mortes cada uma: 36 no Centro-Oeste, 32 no Norte e 28 no Sul.

Para Karen Oliveira, integrante da Comunidade Cidadã Livre (Comcil), organização com atuação estadual no âmbito da empregabilidade e na garantia de direitos à população LGBTQIA+, um grande desafio é a construção de redes, “que fluam na política, para favorecer todas e todos nós”.

Karen Oliveira faz parte da Comunidade Cidadã Livre (Comcil). Foto: Mário Manzi

Ela pontua que o enfrentamento à violência, em suas diversas dimensões, é fundamental para garantir direitos. “O direito ao trabalho, a cidade, a educação, entre outros, são balizadores para defesa da vida da nossa população. Precisamos reafirmar instrumentos de luta que tem nos consolidado na relação com a sociedade, como as Paradas, mas, precisamos ir além, e ocupar os espaços de poder, para pensar política e organizar processos amplos em defesa dos direitos da população LGBTQIA+”, afirma Karen.

Via Campesina e a luta LGBTI

O Coletivo LGBTI na Via Campesina nasceu em 2020, a partir da auto-organização das e dos LGBTI dos movimentos e organizações que estruturam a Via. Dê Silva, mulher trans que ajuda na construção do debate, explica que a Via Campesina é um espaço de unidade das diversas organizações camponesas, indígenas, de pescadores e pescadoras, de atingidos e atingidas.

“Desde 2019 temos nos reunido virtualmente para discutir a pauta da diversidade sexual, no entendimento, que defender a reforma agrária, soberania alimentar, território, precisa ser encarado a partir da nossa participação e da diversidade. A partir desse entendimento coletivo fomos construindo o Coletivo LGBTI Brasil a nível nacional, mas também em nossos territórios.”

Dê Silva, mulher trans contribui na construção do debate LGBTI da Via Campesina. Foto: Mário Manzi

Ela explica que foi a partir dessa diversidade “que a gente foi se unindo e provocando o conjunto de movimentos e organizações da Via para construção de coletivos LGBTI no interior de suas organizações.”

Posicionando o debate numa perspectiva estratégica, ela afirma ainda, que “o debate [da diversidade sexual e de gênero] precisa ser antirracista, anti-capitalista e anti-patriarcal”, e continua: “não podemos construir a sociedade que defendemos nos moldes da violência. Nós precisamos potencializar as relações humanamente verdadeiras. Para isso precisamos nos desafiar e ter como horizonte a luta e nos enxergar enquanto classe trabalhadora”.

Programação

Durante os dois dias, temas como “Patriarcado, Diversidade Sexual e de Gênero”, “Debate e estudo:  Por que a Via Campesina precisa avançar na compreensão da diversidade?” e os “Desafios da Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Rondônia”, serão discutidos no Seminário e contarão com a medição de militantes LGBTI dos movimentos e organização que integram a Via Campesina.

*Editado por Solange Engelmann