Recuperação Ambiental

“Nossa resposta à crise climática é plantar árvores, produzir alimentos saudáveis e denunciar o agronegócio”

Debate sobre a questão agrária e a crise climática ocorreu nesta quarta (20), no 36º Encontro Estadual do MST em Salvador, BA
Foto: Daniel Violal

Por Daniele Feitosa e Wesley Lima
Da Página de MST

Como parte das discussões em torno da luta sociopolítica no Brasil, o 36º Encontro Estadual do MST na Bahia realizou uma mesa de debate sobre tema “Conjuntura Agrária, Crises Climáticas e o Plano Nacional Plantar Árvores Produzir, Alimentos Saudáveis”, com o objetivo de discutir os principais desafios e as perspectivas da luta ambiental na atualidade, tendo como ponto de partida, a leitura que o Movimento Sem Terra tem elaborado em torno dessa temática. 

O debate ocorreu na tarde desta quarta-feira (20), no Parque de Exposições Agropecuárias de Salvador, com a presença de 2 mil trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra de dez regiões do estado da Bahia. Para facilitar o debate, o Encontro contou com a presença de Meriely Oliveira, integrante do Coletivo Nacional do Plano “Plantar Árvores Produzir, Alimentos Saudáveis”.

Meriely Oliveira do Plano “Plantar Árvores Produzir, Alimentos Saudáveis”. Foto: Robson Santos

Meriely explica que, no modo de produção do capital, as crises são estruturantes. E, no último período, a crise climática tem, sistematicamente, se aprofundado. Ela comenta que as fortes chuvas em regiões do país, as profundas mudanças climáticas e a seca extrema, são sinais do aprofundamento dessa crise. 

Nesse sentido, ela destaca que os responsáveis pelo acirramento dessas crises têm sido as grandes empresas do capital internacional, como o agro-hidro e minério-negócio, que, por vezes, “conspiram em pautas de um falso projeto sustentável e duradouro”, porém responsáveis em disparado pela emissão de poluentes e pela destruição ambiental.

Ela conta que não são poucos os eventos ambientais ao redor do mundo, incluindo o caos que está acontecendo nos biomas brasileiros nos últimos tempos. De acordo com o quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aquecimento global é inequívoco, e cada vez mais, os eventos climáticos acontecerão de forma acentuada e prolongada no território nacional, com o avanço da seca no Nordeste, na Amazônia e no Centro-oeste, além da mudança no regime das monções da Amazônia afetando as chuvas no Centro-sul. 

Segundo o Global Forest Watch, cerca de 40% dos desmatamentos globais de floresta tropical ocorreram no Brasil, em 2022 e o boletim do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) evidencia que os focos de calor, entre janeiro e maio de 2022, tiveram aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado.

O sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, diz que o Cerrado teve 4092 km² desmatados entre o início de janeiro e o fim de julho de 2022, um aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2021, sendo o maior valor acumulado nos últimos quatro anos. Na Amazônia, o acumulado de desmatamento foi de 5463 km², isso representa um aumento de 7% em relação ao ano de 2021. Esse valor é o maior acumulado entre janeiro e julho nos últimos seis anos.

Foto: Robson Santos

Agro desmata e engana

“O agronegócio ataca a sociedade de todas as formas e lados quando projeta conspirações em pautas de um falso projeto sustentável e duradouro, onde sabemos que o prejuízo ficará na conta e na vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras. Eles agora se aprimoram para atacar o mundo através de sua enganosa conversa de que tudo se resolverá através da economia, quando justamente, os que menos causam prejuízos à natureza são os que menos consomem, tendo em vista o tanto que os ricos desse país se esbaldam em acúmulos”, explica Meriely Oliveira. 

E continua: “Devemos nos preparar, enquanto povo do campo, para resistir, pois logo o capitalismo será capaz de adentrar nossos espaços de vivência, batendo em nossa porta e contando suas histórias da raposa que visa lucros próprios e sem fim.”

Nesse sentido, as ações de recuperação ambiental, posicionadas em uma luta direta contra o modelo de produção do agronegócio são estratégicas, afirma Oliveira. “O MST vem construindo, ao longo dos últimos anos de muita luta e labuta, um espaço sustentável dentro da abrangência da agroecologia, através do reflorestamento, da construção de espaços formativos e na organização de manejos produtivos conectados com a natureza”, enfatiza.

Ela finaliza destacando que “nossa resposta [do MST] à crise climática é plantar árvores, produzir alimentos saudáveis e denunciar o agronegócio”. 

O plantio de árvores na Bahia

Na Bahia, as ações de recuperação ambiental, a partir do Plano Nacional, tem avançado, seja com as iniciativas de produção de alimentos saudáveis com manejos agroflorestais ou o plantio direto de mudas nativas dos biomas que cobrem o estado. 

O Plano, lançado em 2020, tem mobilizado os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra no estado com o plantio de árvores e um conjunto de processos formativos, em todas as regiões. Apenas em 2023, o MST no estado plantou 345 mil árvores. Ao longo dos quatro anos do Plano, foram plantadas mais de 1 milhão de mudas na Bahia.

*Editado por Solange Engelmann